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A quarentena e o livro digital

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Ivan Maciel de Andrade                                                                                                            
Procurador de Justiça e professor da UFRN (inativo)            
A quarentena imposta pela pandemia acelerou e potencializou o processo de digitalização dos serviços públicos em todo o mundo. Inclusive aqui no Brasil, em que foram digitalizados 156 novos serviços públicos nos últimos meses. Isso elevou o número de serviços públicos digitalizados entre nós para 729. E o governo federal pretende atingir a meta de 100% de digitalização dos serviços públicos até o fim de 2022. É uma solução que facilita o acesso aos serviços públicos pelos usuários e barateia o custo de sua prestação. Uma conquista tecnológica sensacional, sem dúvida. Exige, contudo, que se tente familiarizar com esses procedimentos virtuais, que mexem com o nosso dia a dia, as faixas da população de menor escolaridade e setores obstinadamente refratários às inovações da informática. 
Nesse ambiente de crescente digitalização das comunicações e atividades, como vão ficar os livros físicos, de papel, vendidos nas livrarias? É preciso reconhecer, antes de tudo, que o isolamento social propiciou um crescimento exponencial da edição e venda de livros eletrônicos, tanto em mercados nacionais como internacionais (Amazon é o exemplo mais significativo comercialmente). Um aumento incomum, excepcional, originário de fatores transitórios. Mas esses leitores cooptados agora durante a pandemia pelos e-books vão abandonar futuramente os formatos e as plataformas digitais? 
Pelo que estive vendo, nos resultados de algumas pesquisas, acentuou-se surpreendentemente o interesse pelos clássicos, nessa fase de leituras digitais maximizadas e inflacionadas. O nosso Machado de Assis, que teve sua condição de afrodescendente propalada (e, de certa forma, explorada publicitariamente) nos Estados Unidos, conseguiu uma performance de momentâneo best-seller junto ao público leitor norte-americano. Essa publicidade com viés de grosseiro oportunismo foi, por sinal, censurada e repudiada por estudiosos brasileiros de Machado de Assis: ele, afinal, não precisa que se alegue a sua negritude para ter reconhecida a genialidade da obra que produziu. Como já o fizeram, com base em critérios essencialmente estéticos, grandes críticos estadunidenses e de outros países. 
A esta altura, mais do que nunca, é problematizada a coexistência do livro físico com o digital. Há uma considerável quantidade de leitores que declaram não apenas que não gostam, como também que não conseguem ler e-books. Por quê? Simplesmente não se adaptam à leitura de livros digitais. Em contrapartida, há leitores de livros digitais, em número mais reduzido, é certo, que se viciaram com esse formato de livros. E radicalizam em sua preferência – aboliram de suas leituras os livros físicos. 
Será que, com a tendência avassaladora à digitalização, os livros físicos vão se tornar peças de colecionadores (bibliófilos)? Ou seja, chegará uma época (em futuro inadivinhável, mas previsível) em que os livros físicos serão guardados em catacumbas pelos fiéis cultores dessa raridade ancestral? 
Quanto a mim, tanto gosto do livro de papel como do digital. Às vezes, leio o mesmo livro nos dois formatos. São duas experiências diferentes, mas com idêntico alumbramento. É através da leitura que a vida ganha amplitude e profundidade – tocada pela singular magia das vozes que se eternizam.
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