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A Ribeira de outros sonhos

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Na gaveta dos papeis desarrumados, numa pescada preciosa, encontro uma carta de Moacyr Gomes da Costa, o grande arquiteto, das melhores figuras desta doce colmeia natalense. É datada de 22 dezembro de 1998, quando ele exercia o cargo de presidente do Instituto de Planejamento Urbano de Natal (Iplanat), na administração da prefeita Wilma de Faria, de quem também foi Secretário Municipal de Urbanismo. A Ribeira é o mote. O velho bairro está nas anotações sentimentais de Moacyr, também boêmio da melhor cepa com doutorados no Rio de Janeiro, da Lapa à Copacabana, década de 1950. Na Ribeira, por longa temporada, montou o seu escritório com Daniel Holanda, outra grande figura. Ficava num primeiro andar da rua Câmara Cascudo (que já foi das Virgens) quase esquina com a Tavares de Lira. De lá, as noites se entendiam pelas pranchetas das esquinas do bairro, beirando o Potengi amado. Vejamos a carta, cujo tema é tão atual que poderia ter sido escrita ontem:

“Caro Woden:

A respeito de sua coluna de 19 da corrente sob o título de “Sonho da Ribeira”, gostaria de lhe dizer o seguinte:

Primeiramente, entendo que você, como um dos últimos baluartes fincados no velho chão deste bairro quase fantasma, tem todo o direito e dever de cobrar as providências urgentes para sua revitalização.

Quero apenas esclarecer que não é totalmente justa a afirmação de que nada foi feito nesse sentido pela atual administração municipal.

Inicialmente reafirmo minha opinião de que não basta apenas a restauração do Sítio Histórico, mas, é fundamental que se mude o perfil econômico do bairro, através do estímulo a novas construções nas áreas ainda não ocupadas ou subutilizadas na periferia do bairro, bem como nos espaços lindeiros dos bairros vizinhos, principalmente as edificações destinadas aos conjuntos e condomínios populares, como também prédios destinados às atividades de comércio e prestação de serviços, como era antigamente, partindo do princípio que revitalizar, significa dar vida nova.

Ora, isso só será possível, se o bairro tiver população fixa residencial e uma população flutuante exercendo várias atividades, ou seja, que haja gente no bairro 24 horas por dia, para evitar-se o que parece está acontecendo no Recife Antigo (vide a revista VEJA n. 50, de 16 do corrente, página 110) cuja restauração do Sítio Histórico ficou muito bonita, mas parece terem faltado as demais ações revitalizadoras.

A Sra. Prefeita nos recomendou prioridade no projeto chamado “Operação Ribeira” e para tanto nos propiciou a instalação de um escritório, bem equipado, contando com profissionais altamente competentes e entusiasmado.

Além disso, conseguimos aprovar uma lei de incentivos fiscais para uso e restauração do sítio histórico, sem alterá-lo, bem como criando estímulos para viabilização do aproveitamento dos espaços ainda não edificados ou edificações sem conteúdo histórico ou arquitetônico, e participamos de audiências com a Prefeita e empresas da área imobiliária, que manifestaram seu interesse de investir na Ribeira.

Diga-se, a bem de justiça, eu seu desempenho à frente da Fundação José Augusto, é responsável pela bela restauração do antigo Palácio do Governo da Rua Chile, instalando-se ali o Museu de Cultura Popular e a Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão.

Sua sugestão para disciplinamento do trânsito da Rua Chile é extremamente válida, mas acho que além da proibição de estacionamento de caminhões deverá haver também um horário para carga e descarga.

Vou fazer essa proposta imediatamente à Prefeita, havendo necessidade da participação do Governo do Estado (talvez através do DETRAN) e também contando com sua valiosa colaboração através de sua velha máquina de escrever (não sei se já está usando computador).

Aproveito a oportunidade para parabenizá-lo pelo sucesso do lançamento do “Livro de José”, na última sexta-feira, e também agradecer-lhe como promotor indireto das emoções que vivi durante sua leitura, embalado pelo doce lirismo “chapliniano” do nosso José Maria Guilherme que me fez algumas vezes flutuar entre o riso e as lágrimas.

Livro bom todo, desde a capa às orelhas, do prefácio até a narrativa brilhante das memórias; poderia sintetizar o que senti tomando as palavras desses dois poetas, Carlos Castilho e Nei Leandro de Castro: “Este é um livro para se ler e aprender uma lição de vida e ternura humana” e, “no final deste livro, evangelicamente batizado com o título de “O Livro de José” sentimos eu a sua leitura nos torna mais humanos e tolerantes”. Encerrei a leitura me sentido como se estivesse saindo da Igreja após a primeira comunhão. Realmente, estava faltando este livro em Natal, como disse o poeta, e eu, acrescentaria, está fazendo falta no mundo todo.

Receba meus votos de Boas Festas e um fraternal abraço do admirador e amigo de sempre.

Natal (Ribeira), 22/12/98.

Moacyr Gomes”

Marize em Brasília
Marize Castro conta do lançamento, em Brasília, de seu livro Esperado ouro.  A carta está datada de 24 de agosto de 2006:

“Querido Woden,

Foi ótimo em Brasília, o lançamento foi no dia 10 de agosto, na livraria Café com Letras, na 203, sul. Lá estavam vários escritores, poetas e jornalistas. Levei uma caixa com ‘Esperado ouro’ e trouxe a mesma caixa cheia  de livros de poetas do Planalto, entre eles Ronaldo Cagiano, Salomão Souza, Antonio Miranda (professor titular de Ciência da Informação da UnB e velho amigo de Zila), Angélica Torres, Fernando Marques Joanyr Oliveira, João Bosco Bezerra Bonfim (um dos belos livros de Bosco é ilustrado com o alfabeto armorial elaborado por Virgílio Maia) além deste  instigante ‘A mulher demônio’ (presente de Luísa Neiva, a dona do Café  com Letras) que deixo consigo – adorei a leitura deste livro, a partir das epígrafes do Rosa, espero que você também goste.

Querido, a grande e boa notícia é que ‘Esperado ouro’ agora está sendo comercializado pela Livraria Cultura nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Recife (onde a LC possui lojas). Mas quem não morar nessas cidades pode ainda adquirir o livro através do site da livraria (www.livrariacultura.com.br), ou seja, ‘Esperado ouro’, pode ser comprado agora por qualquer pessoa em qualquer lugar do Brasil (santa Internet! Vamos convencer Sanderson que ela não morde?).

te beijo com carinho,

 Marize”

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