Vicente Serejo
Escrever uma coluna diária nesses tempos estranhos exige o cuidado de não fazê-la muito otimista, para não ser tola. Nem pessimista, para não ser chata. A lição é boa e tem o traço genial de Ariano Suassuna que recomendava ser pessimista e esperançoso ao mesmo tempo. Algumas vezes, chega a ser impossível diante de um secretário nacional de cultura que resolve ser um Joseph Goebbels tupiniquim e encharcado na baba da sua própria neurose.
Convivi vários anos com meu sogro, doutor Omar Lopes Cardoso, um velho militar. Farmacêutico, bacharel em Recife, tenente revolucionário de trinta, e capitão da reserva do Exército. Vinha da geração conservadora e nacionalista, e tinha consciência política. Por isso, sendo evangélico, morreu decepcionado quando leu no Estadão que na presidência do general Ernesto Geisel, evangélico, havia a prática consentida de tortura que julgava ser abominável.
Hoje o governo distorce de forma intencional os conceitos e as práticas de patriotismo e nacionalismo. Ou, tanto mais grave, os compromissos republicamos que o país pactuou nas ruas encerrando os governos militares. Vivemos de arroubos patrióticos praticados em favor de grossas convicções, ódios e atitudes pessoais e antidemocráticas. O ‘Pátria Amada Brasil’ que usa como marca, não pertence a uns e outros não. Não é patrimônio militar. É coletivo.
As mais recentes pesquisas de avaliação do governo revelam-se abaixo do patamar da eleição. Um ano depois, está abaixo dos 58 milhões de votos que conquistou nas urnas, o que revela – embora possa ser circunstancial e passageiro – um processo de ‘guetização’ que decepciona seus próprios eleitores e que já foram mais numerosos e convictos. Nada tem a ver com PT, prisioneiro de um líder hoje inelegível. O governo é a serpente do próprio governo?
SAÍDA – A solução, injusta com quem ganha menos, só tem uma saída possível: se Executivo e Legislativo se unissem e aprovassem um percentual maior para os fortes. Quem teria coragem?
ALIÁS – A depender do que o governo de Fátima Bezerra fizer, os adversários poderão ter ou não munição de qualidade durante a campanha. Se fizer dinheiro com o sacrifício dos fracos.
ALERTA – Os ganhos dos servidores entre um e seis salários mínimos só serão aprovados na Assembleia se vierem na proposta de governo. O Legislativo não é petista, mas vermelhou.
NOVENTA – Para a Academia de Letras homenagear este ano: 90 anos de Dorian Gray (em 16 de fevereiro), Lenine Pinto (a doze de maio) e Nilson Patriota (dezesseis de dezembro).
PADRÃO – Para a jornalista Geórgia Néry, tevê Ponta Negra: Daqui, da trincheira do seu ex-professor, parabéns pela entrevista com o vice governador Antenor Roberto. Você sabe fazer.
GALO – Hoje, 24 de janeiro do ano da graça de 2020, é o dia do Galo da Madrugada. Por isso é também o dia de João Mendes da Rocha, Rochinha, que guarda o frevo no próprio coração.
INVEJA – De Nino, filósofo melancólico do Beco da Lama, ao ouvir um amigo dizer que a inveja é o fel da maldade: “Não. É a doença de quem nasce com a incapacidade de admirar”.
OBRA – Sobre Policarpo, tem outra boa notícia: a editora CJA, de Natal, com a orientação de Onofre, vai lançar este ano a segunda edição de “Gente Arrancada”, um romance regional esgotado deste os anos trinta. Uma dívida editorial que esperava por esse gesto há décadas.
AZUIS – De Mossoró, outra notícia: em fase de diagramação o livro com uma seleção das crônicas mais recentes de Sanderson Negreiros e um belo título que ele mesmo escolheu: “A Casa dos Azulejos Azuis”. Para ser lançado ainda este ano numa edição da ‘Sarau de Letras’.