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A serpente

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Vicente Serejo

cobra

Escrever uma coluna diária nesses tempos estranhos exige o cuidado de não fazê-la muito otimista, para não ser tola. Nem pessimista, para não ser chata. A lição é boa e tem o traço genial de Ariano Suassuna que recomendava ser pessimista e esperançoso ao mesmo tempo. Algumas vezes, chega a ser impossível diante de um secretário nacional de cultura que resolve ser um Joseph Goebbels tupiniquim e encharcado na baba da sua própria neurose.

Esse senhor começou sua ópera-bufa logo nas primeiras semanas de gestão ao agredir a atriz Fernanda Montenegro, 90 anos, quando se deixou fotografar num cenário que repetia a fogueira de Joana D’Arc, mas cercada de livros. Histriônico, o sr. Alvin saltou da escuridão da incivilidade, bradou e assacou os mais grosseiros impropérios contra Fernanda. A reação foi uma multidão a ovacioná-la no Teatro Municipal de São Paulo. Estava lá e assisti a tudo.
Aliás, convenhamos: o estilo de Bolsonaro não é só inculto. É tosco. Basta lembrar as agressões à memória de Paulo Freire, um intelectual e educador que tem livros traduzidos e lidos hoje em 150 países. São poucos, pouquíssimos, os oficiais que vão além da formação castrense. É raro sair da caserna um Golbery do Couto e Silva, o general que praticamente foi pioneiro no estudo da geopolítica. Ou Heitor Aquino, coronel, o tradutor e crítico literário.

Convivi vários anos com meu sogro, doutor Omar Lopes Cardoso, um velho militar. Farmacêutico, bacharel em Recife, tenente revolucionário de trinta, e capitão da reserva do Exército. Vinha da geração conservadora e nacionalista, e tinha consciência política. Por isso, sendo evangélico, morreu decepcionado quando leu no Estadão que na presidência do general Ernesto Geisel, evangélico, havia a prática consentida de tortura que julgava ser abominável.

Hoje o governo distorce de forma intencional os conceitos e as práticas de patriotismo e nacionalismo. Ou, tanto mais grave, os compromissos republicamos que o país pactuou nas ruas encerrando os governos militares. Vivemos de arroubos patrióticos praticados em favor de grossas convicções, ódios e atitudes pessoais e antidemocráticas. O ‘Pátria Amada Brasil’ que usa como marca, não pertence a uns e outros não. Não é patrimônio militar. É coletivo.

As mais recentes pesquisas de avaliação do governo revelam-se abaixo do patamar da eleição. Um ano depois, está abaixo dos 58 milhões de votos que conquistou nas urnas, o que revela – embora possa ser circunstancial e passageiro – um processo de ‘guetização’ que decepciona seus próprios eleitores e que já foram mais numerosos e convictos. Nada tem a ver com PT, prisioneiro de um líder hoje inelegível. O governo é a serpente do próprio governo?

AVISO – Mantidos os cinco mil aposentados com um salário mínimo, ainda assim o Estado passa a cobrar previdência social de 40 mil servidores que antes eram isentos até seis salários.

SAÍDA – A solução, injusta com quem ganha menos, só tem uma saída possível: se Executivo e Legislativo se unissem e aprovassem um percentual maior  para os fortes. Quem teria coragem?

ALIÁS – A depender do que o governo de Fátima Bezerra fizer, os adversários poderão ter ou não munição de qualidade durante a campanha. Se fizer dinheiro com o sacrifício dos fracos.

ALERTA – Os ganhos dos servidores entre um e seis salários mínimos só serão aprovados na  Assembleia se vierem na proposta de governo. O Legislativo não é petista, mas vermelhou.

NOVENTA – Para a Academia de Letras homenagear este ano: 90 anos de Dorian Gray (em 16 de fevereiro), Lenine Pinto (a doze de maio) e Nilson Patriota (dezesseis de dezembro). 

PADRÃO – Para a jornalista Geórgia Néry, tevê Ponta Negra: Daqui, da trincheira do seu ex-professor, parabéns pela entrevista com o vice governador Antenor Roberto. Você sabe fazer.

GALO – Hoje, 24 de janeiro do ano da graça de 2020, é o dia do Galo da Madrugada. Por isso é também o dia de João Mendes da Rocha, Rochinha, que guarda o frevo no próprio coração.

INVEJA – De Nino, filósofo melancólico do Beco da Lama, ao ouvir um amigo dizer que a inveja é o fel da maldade: “Não. É a doença de quem nasce com a incapacidade de admirar”.

VIDA – O escritor Manuel Onofre Júnior já mandou para os prelos a biografia que acabou de escrever sobre a vida intelectual de Antônio de Souza, governador do Estado duas vezes, que assinava seus romances com o pseudônimo de Policarpo Feitosa. E lança até fim de março.

OBRA – Sobre Policarpo, tem outra boa notícia: a editora CJA, de Natal, com a orientação de Onofre, vai lançar este ano a segunda edição de “Gente Arrancada”, um romance regional esgotado deste os anos trinta. Uma dívida editorial que esperava por esse gesto há décadas.

AZUIS – De Mossoró, outra notícia: em fase de diagramação o livro com uma seleção das crônicas mais recentes de Sanderson Negreiros e um belo título que ele mesmo escolheu: “A Casa dos Azulejos Azuis”. Para ser lançado ainda este ano numa edição da ‘Sarau de Letras’.   

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