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À sombra do bem

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Cláudio Emerenciano 
Professor da UFRN
O bem não é um ideal, uma miríade, uma fantasia ou uma ficção. É a realidade mais visível e palpável da vida. É a substância que renova e revigora o verdadeiro sentido da existência humana. O bem, em sua dimensão absoluta, inesgotável, infinita, revela o objetivo e o alcance da Criação: o amor universal. Sem limites e sem fim. Os homens, em todos os tempos, alimentam-se do legado, do exemplo, das virtudes e da fé dos construtores do bem. Fé em Deus. Fé em ideais comuns. Fé na condição humana. Fé na superação das adversidades de qualquer natureza e amplitude. Essa é uma das marcas do bem: não ter medo. Não hesitar. Não temer sinuosas e coleantes tramas da mentira, da hipocrisia, do ódio, da desfaçatez, do cinismo, da ganância, das ambições, das vaidades, enfim, de todos os egoísmos que aviltam e denigrem o ser humano. André Gide (Nobel da literatura), em “Se o grão não morre”, proclama que o bem, em qualquer civilização, em qualquer concepção do mundo e da vida comprometida com a liberdade e a felicidade do homem, fundamenta   a grandeza de cada um. Descortina-lhe o percurso nas veredas existenciais. A vida, em todos os tempos e lugares, é palco e cenário da confrontação entre o bem e o mal.
João Paulo II, Karol Wojtyla, ascendeu ao pontificado após circunstâncias dramáticas e penosas em sua vida pessoal e na vida do seu país, a Polônia. Integrou a resistência ao nazismo. Frequentou o seminário na clandestinidade, o qual, sob a inspiração do cardeal Stefan Wysynski, era chamado de “seminário das catacumbas”. Durante esse período, até a derrota dos nazistas, sucessiva e compulsoriamente foi operário numa mina de pedra e numa siderurgia. Depois, padre, bispo, arcebispo e cardeal, enfrentando a ditadura comunista, tão implacável e truculenta quanto o regime nazista. Sua fé o alimentou e o revigorou em todas as lutas. Sempre sem medo. Ensinou gerações e gerações em Seminários e Universidades. Sua tese de doutorado sobre a vida e a obra de São João da Cruz, Doutor da Igreja, foi mais um testemunho de sua fé em Jesus Cristo, no amor eterno de Deus e na misericórdia entre os homens. Seus princípios teológicos, éticos e morais inspiraram sua luta pelo bem. Sem cessar. Daí porque, vendo-se diante da multidão, na Praça de São Pedro, após a eleição papal, conclamou o mundo nessa exortação: “Não tenham medo”. Karol Wojtyla, depois de Churchill, Roosevelt e Gandhi, no século XX, foi o personagem mais estudado e biografado. Luigi Accattoli (“Karol Wojtyla, o homem do final do século”) e Edward Stourton (“João Paulo II, um homem para a História”), dois entre tantos outros biógrafos, convergiram nessa conclusão: “João Paulo II defendeu e praticou o bem para todos os povos e todas as pessoas no mundo. A condição humana lhe era sacral. Templo vivo de Deus, e, assim, fazer o bem o imperativo irrenunciável da existência”. João Paulo II reanimou, em época de crise, a missão universal da Igreja.     
Aristóteles disse que o bem supremo é o verdadeiro objetivo da política, significando a busca da felicidade de todos os homens. Péricles, estadista ateniense (sec. VI A.C.), no discurso em homenagem aos mortos da Guerra do Peloponeso, definiu exemplarmente o fim da vida política: “entre nós não há vergonha na pobreza, mas a maior vergonha é não fazer o possível para evitá-la ou erradicá-la”. E concluiu: “Só o bem e o amor não envelhecem, e o principal não é o ganho, como alguns dizem, mas ser honrado”. De algum tempo para cá, em escala universal, tentam desvirtuar e ridicularizar esses postulados, revigorados em 2009 na posse de Barack Obama nos Estados Unidos. Houve, então, um renovar-se de esperanças. Foi algo novo, ético e universal. Mas a nova crise moral e a violência suscitam desalento e insegurança.
Não há limites para os artesãos do bem. Em 1933 Franklin Delano Roosevelt assumiu a presidência dos Estados Unidos. Desde 1921, aos 39 anos, ficou paralítico, acometido de poliomielite. A doença não o impediu de governar o Estado de Nova York e eleger-se presidente em 1932. Encontrou o país destroçado: 13 milhões de desempregados, e, dos que trabalhavam, metade dos homens e dois terços das mulheres ganhavam apenas 1000 dólares por ano. Imperava crise moral. As instituições fragilizadas pela corrupção, inclusive o Judiciário. No discurso de posse sentenciou: “Nada temos e temer, senão o próprio medo”. Enfrentou a ganância e os privilégios: “Não é na posse de dinheiro que reside a felicidade, e sim na alegria de realizar, numa vibração da energia e do trabalho criador. É preciso reconhecer que a riqueza material é um pseudo fator do triunfo, e abandonemos a falsa crença de que os cargos públicos e altos postos políticos só valem pela vaidade ou pelos proveitos que proporcionem”. Inspirado por John Maynard Keynes e Harold Laski, foi o maior reformador social no século XX (“New Deal”). Institucionalizou os sindicatos. Revitalizou a democracia. Acreditou no diálogo, na concórdia e na grandeza humana. Foi um visionário sem limites. Liderou os Aliados na Guerra. Conquistou a paz. A ONU foi seu legado. Ele e Churchill testemunharam o papel da democracia no mundo.
Barack Obama exercitou a tolerância e a crença no bem. Venceu o ódio e a discriminação. Forjou convicções, que emergem dos ideais de liberdade, bem-estar e felicidade de todos os homens. Priorizou a vida ambiental. Sensibilizou a humanidade: “Sim, nós podemos”: semente sempre viva. Imperecível. No Brasil Juscelino Kubitschek foi um construtor do bem: criou, inovou, modernizou, pacificou, tolerou. Deflagrou transformações irreversíveis. Governou sem preconceitos nem discriminações. D. Pedro II e Juscelino semearam bem, paz social e progresso. Ninguém os superou. Legados a nortear os novos rumos do país. Cada um, em seu tempo, dignificou o Brasil no concerto das nações. Pensemos em tudo isso para ressuscitar esperanças em nosso povo. É tempo de agir…
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