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A tolerância necessária

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“Ser tolerante é tolerar tudo?” A pergunta constava, alguns anos atrás, em exames finais do ensino colegial da França. André Comte-Sponville recorre a ela na abertura do capítulo XIII do seu Pequeno Tratado das Grandes Virtudes (392 páginas. R$ 40,50. ed. Martins Fontes) para nos mostrar o quanto a tolerância, sendo das mais necessárias e atuais das virtudes, está entre aquelas de mais difícil aplicação. Quem tolera tudo acabará permitindo os piores crimes (por omissão) e anulando todas as outras virtudes, a começar pela justiça e finalizar pela própria tolerância, vítima da ação livre e desimpedida dos intolerantes. A tolerância, para ser virtude, não pode dispensar a ação moral e política a que os virtuosos, para merecerem o nome, estão obrigados a realizar.

O problema da tolerância está sempre relacionado às questões de opinião. Comte-Sponville afirma que quando há conhecimento suficiente para estabelecer a verdade, sem sombras de incertezas morais, políticas ou científicas, “não há objeto para a tolerância”. Tal afirmação parece intolerante? Quem pode saber, já que ela expressa uma opinião… Mas – e isto é uma certeza com a qual é mais difícil discordar – “ignoramos mais do que sabemos, e tudo que sabemos depende, direta ou indiretamente, de algo que ignoramos”. O resultado é ser o conhecimento a única chave disponível para abrirmos e/ou fecharmos a porta à tolerância. A constatação dessa verdade, por si só, justificava aos educadores franceses a inclusão da questão sobre a tolerância nos testes para os colegiais.

A resposta certa que deveria ser dada, portanto, é não. A tolerância requer limites, mas fixá-los será sempre complicado. Requer ação pessoal, mas também que pensemos a respeito dela. Comte-Sponville faz uma boa apresentação de todos os dilemas que se nos apresentam nesta tarefa. Ressalto, aqui, apenas o paradoxo – de nos tornarmos intolerantes na defesa da tolerância – e o necessário para solucioná-lo: ter presentes as outras virtudes (como a já citada justiça, mas também a humildade, a boa-fé, a misericórdia etc) e não nos entregarmos ao egoísmo de nossas ações, pensamentos e crenças.

A questão do egoísmo é central na definição e na prática da tolerância. Para ser virtude, a tolerância requer que suportemos aquilo que não é em favor apenas do nosso próprio interesse, do nosso prazer ou dos nossos valores. Exige a aceitação e o respeito à diversidade na vida, à multiplicidade dos modos de ser, pensar e crer.

Reflexões sobre a tolerância não nos causam males ou nos diminuem diante dos outros, mesmo dos intolerantes. Ainda Comte-Sponville: “a moral não é nem um mercado nem um espelho” e “onde já se viu uma virtude depender do ponto de vista dos que não a têm?”. A tolerância não se guia pelos princípios dos intolerantes, mas também não nega uma parcela de si àqueles que não a respeitam. Haverá sempre o direito de ser expressar, uma vez que o diálogo é a base para se estabelecer o conhecimento e se chegar à verdade. Diálogo e tolerância são irmãos. Quando transformados em práticas diárias e indissociáveis – dizia Thomas Merton, monge cristão morto em 1968 – a tolerância e o diálogo permitem que o homem alcance um patamar superior à simples compreensão, um patamar que se abre para a comunhão do eu com o outro. 

Pequenos Poemas em Prosa

A coleção “Grandes Traduções”, da editora Record, leva às estantes o já clássico tom impiedoso e sarcástico do “maldito” poeta francês Charles Baudelaire neste “Pequenos Poemas em Prosa” (288 páginas). São 50 poemas que retratam as caminhadas do autor pela Paris do século XIX, evocando lembranças de mendigos, velhinhos, quadros, cassinos, hospitais, palácios e bairros. A edição é bilíngüe, com os respectivos textos em francês e português – incluindo um dos seus mais conhecidos, “Enivrez-vous” (“Embebedai-vos”). Puro Baudelaire.     

O pensamento católico no Brasil

Publicado originalmente em 1975 e há vários anos esgotado nas livrarias, “O Pensamento Católico no Brasil” (Ed. Civilização Brasileira, 336 pags.), obra de Antônio Carlos Villaça, vai além de discorrer sobre o mundo católico no Brasil. O autor, um dos grandes memorialistas brasileiros, repensa, de forma crítica, a história intelectual do catolicismo brasileiro, inserindo-a no contexto mais amplo da cultura nacional e fazendo uma conexão com a própria evolução geral do país.

Heróis Comuns

Autor de habituais sucessos de tramas em tribunais, Scott Turrow muda de cenário em “Heróis Comuns” (Record, 528 páginas): agora, a Segunda Guerra Mundial é o tema, romance inspirado na história de seu pai, que serviu como médico no combate dos anos 40. A história gira em torno de um jornalista que vai, aos poucos, descobrindo o passado de guerra de seu pai, após cartas do ‘front’ caírem em suas mãos. Ele descobre um homem desconhecido, encarando uma verdade enigmática daquele pai que sempre se recusou a falar dos tempos do grande conflito.

Colaborou Tádzio França

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