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A tristeza do morro

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É sempre assim, Senhor Redator, a primavera do morro nunca chega em setembro, como quer a virada do equinócio que regula as estações. Se julho e agosto são bem chuvosos, e se as raízes ainda estão úmidas, vem como se fosse um silencioso desânimo que até parece tristeza, mas não é. Só mais para o fim do ano, ai pelos dias mornos de dezembro, os ipês se abrem na florada de amarelos que tingem de alegria o verde manchado de tons e semitons esmaecidos.

Há anos no ofício de observador desse mundo recortado pela geometria das janelas, essa paisagem é íntima. Fácil de notar quando o verde definha sob o calor do mormaço como se fosse o jeito que a natureza inventou para economizar energia. A folhagem vai ficando sem graça e um silêncio triste esconde a beleza que virá qualquer dia e sem aviso prévio. Numa manhã, calada como outra qualquer, floram as canafístulas e só depois explode, suntuosa, a florada dos ipês. 

E há, parece exagero, uma combinação como se fosse para impedir ao mesmo tempo a mistura de todas as cores. O ipê rosa é discreto e rápido na sua festa para os olhos. Depois, os amarelos, vivos e luminosos e, só no fim, como numa apoteose, explode o lilás das sucupiras em flor. Bem antes do verão social, esse que recebe o nome de veraneio, quando muitos deixam a cidade a caminho do mar, e entregam a nós outros a fortuna das tardes calmas e parnasianas.

Alguém há de dizer, arrimado no saber de um mundo geograficamente predestinado a viver de inverno e verão, que nos trópicos não há outono e primavera como nos climas frios. Não é verdade. Esquecem que a licença poética, sendo uma rica propriedade dos poetas de verdade, pode ser pedida emprestada por nós outros, os sem poesia. Reparem que além da primavera há um outono que amarela as amendoeiras que chamamos castanholas, crestando as suas folhas.     

O tempo sempre encontra um jeito meio maroto e suavemente disfarçado de revelar as estações. Basta não ter os olhos exigentes, prisioneiros de convenções que nem a ciência tem o direito de impor, e se a vida é imprevisível e misteriosa. Sim, invento outonos e primaveras. Não negaria. Mesmo longe, muito longe, da grandeza do poeta Carlos Drummond de Andrade que no seu belo ‘Discurso de primavera e algumas sombras’ a viveu assim, livre de todas as fronteiras. 

Por tudo, e o mais que não sei, aviso que não se deixem impressionar com a tristeza dos morros. São sempre assim, feitos de dias tristes e alegres. Como as pessoas. Tempos há de uma grande e exuberante felicidade quando vem a força verdejante das chuvas. Depois, e como se ficassem tristes, se amoitam e escondem a alegria numa longa noite de solidão. Até que venha a alegria das chuvas de verão, rápidas como as paixões. Como se anunciassem um novo amor.

PALCO
CRISE – O fantasma da crise financeira da Prefeitura de Mossoró hoje já dorme nas fronhas do travesseiro da prefeita Rosalba Ciarlini. Pode acabar, até final do ano, sendo muito assustador.

HAJA! – Nem o presidente Jair Bolsonaro, com todo ímpeto nacionalista, suporta mais ficar no PSL, o partido que o levou ao Palácio do Planalto. Assim como são as pessoas, são as criaturas.

NONO – Efetivada a saída de Bolsonaro do PSL, o presidente parte para assumir o nono partido ao longo da sua vida política. É um retrato pessoal, mas é também da própria falência partidária.

FUROR – A Prefeitura, com as suas motosserras, é devoradora de sombras. Está aqui, no último quarteirão da Antônio Basílio, entre a Xavier da Silveira e a Brigadeiro Gomes Ribeiro. É poda!

ELOGIO – Em artigo na Folha de S. Paulo o ex-ministro Delfim Netto elogiou a competência de Rogério Marinho. Nominalmente. Que pena que sua vocação não seja para enfrentar os fortes. 

ALIÁS – Há uma demonstração evidente dos pontos injustos da reforma da previdência levada por Marinho: os ganhos dos assalariados nascem nos plenários e não no seu gabinete de trabalho.

VAZIO – Para os mais acurados observadores da cena política mossoroense, não há candidato na terra de Santa Luzia capaz de unir as oposições. E o governo sabe manter a oposição desunida. 

POESIA – A poetisa Rizolete Fernandes, de Natal, e o poeta Cláudio Arcanjo, de Mossoró, na antologia poética que homenageia a poetisa Eunice Odio, a ser lançada em Salamanca, Espanha. 

CAMARIM

GUERRA I – Esta coluna não é dona de nada. Nem poderia ser. Mas também não abre mão de sua posição em defesa da II Guerra como um apelo histórico e turístico de Natal. Ao longo de 38 anos de circulação, e não só agora, defende essa idéia diante do silêncio de todas as instituições.

GUERRA II – Protestou contra a construção da sede do III Distrito Naval na área histórica da Rampa. Todos calaram. Contra a desativação do Aeroporto Augusto Severo, chão histórico da II Guerra. Todos calaram. Contra a solução de museu virtual na Rampa restaurada. Todos calaram.

GUERRA III – Os seus arquivos, ao longo de quase quatro décadas, dispensam as dádivas e recompensas, inclusive pela defesa da Fundação Rampa, a única coisa séria até hoje. Mas, desta vez, temos pelo menos o gorro dos americanos. Tomara. Com o heróico destemor dos ianques.
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