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A última viagem do descobrimento

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Yuno Silva
repórter

Colaborou: Cinthia Lopes

editora

A esquina da América do Sul é um ponto estratégico importante desde tempos imemoriais, e testemunhou um movimento intenso de navegadores forasteiros bem antes da data ‘oficial’ do ‘descobrimento’ do Brasil, por Cabral, há quase 514 anos. As aspas simples sinalizam dúvida, controvérsia, afinal a História documentada e ensinada nas escolas do país seguem diretrizes eurocêntricas, e não faltam teses contestando essa ‘verdade’ imposta. Se na primeira metade do século 20 Natal serviu como ponto de apoio para a expansão da aviação civil mundial e ainda como base Aliada durante a 2ª Guerra Mundial, nos séculos 15 e 16 o litoral do RN era parada obrigatória para quem desbrava o Atlântico e procurava uma rota alternativa para as Índias.
Em seu pequeno apartamento do Residence, Lenine Pinto mantém a rotina de navegações na internet ou no papel. O escritor também fez viagens a Portugal e EUA
Esse movimento de naus e caravelas na costa potiguar serviu como ponto de partida para o pesquisador e historiador Lenine Pinto elaborar o novo livro “Herança de Netuno”. Defensor da tese de que o Brasil foi ‘descoberto’ na região de Touros, Lenine trabalha desde 2007 nesta obra que reforça o papel do litoral do Rio Grande do Norte na conquista do Novo Mundo pelos navegadores que desbravam o Atlântico à mando das coroas portuguesa e espanhola.

No livro, ainda sem data para lançamento pois a pesquisa ainda não foi concluída, o historiador esmiuça a cronologia das grandes navegações e traz argumentos fundamentados em documentação consultada em arquivos dos Estados Unidos, Portugal, Inglaterra e Itália que podem alterar o entendimento do período. Ele adianta que já passou de 150 páginas e diz que a edição poderá sair com apoio das prefeituras de Touros, São Miguel do Gostoso e Pedra Grande, município envolvidos na polêmica tese levantada nos livros “Reinvenção do Descobrimento” (1998) e “Ainda a questão do descobrimento” (2000).

Obsessão pelo tema? Talvez. Lenine tem explicações na ponta língua para cada passagem histórica mal explicada. Evidências, se cruzadas todas as informações, não faltam.

De acordo com ele, os historiadores “sabem da dificuldade” de recompor a História das navegações devido o sigilo com que as descobertas eram tratadas. “Os portugueses tinham uma política de sigilo tão rígida, que os próprios segredos de Estado eram segredo. Então há muito a ser dito, descoberto e corrigido. O certo é que o que aconteceu de verdade não é o que está escrito nos livros escolares”.

Aos 84 anos, Lenine Pinto diz que esse pode ser seu último livro devido a saúde: “Se conseguir, depois desse termino um outro já iniciado sobre a atividade naval dos ingleses durante a 1ª Guerra Mundial”, revelou durante entrevista concedida em seu flat, um quarto e sala repleto de mapas e estantes com livros de história. Fumante, ele consegue algum alívio do enfisema pulmonar com auxílio de pastilhas Valda.

Brechas históricas

Autor de diversos livros sobre a 2ª Guerra Mundial, a presença norte-americana em Natal e o papel da capital potiguar durante o conflito, exemplo do fundamental “Natal, USA” (1995), livro onde o autor traz “muita coisa séria, diferente dos (livros) anteriores sobre o assunto que trazem muita mentira”, em “Herança de Netuno” Lenine Pinto cruza informações de livros consultados no exterior com mapas e documentos raros, e informações amealhadas ao longo do tempo.

Nesse roteiro histórico, ambientado nos séculos 15 e 16, entram personagens como os reis Dom Afonso V, o infante Dom Henrique e Dom João II; o cartógrafo italiano Andrea Bianco, que determinou a distância exata entre Dakar na África e o Brasil (leia-se RN); os navegadores Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Gil Eanes (provavelmente o primeiro a desembarcar em terras papa-jerimum na década de 1430), Diogo Cão e Cristóvão Colombo.

“Por que em 1470 o rei Dom Afonso V, de Portugal, baixa uma lei proibindo a exploração de pau-brasil na Guiné, se naquele país africano não tinha esse tipo de árvore? E por que a expedição de Vasco da Gama em 1497, que levou 4 meses para ir de Lisboa até a África, só foi atingida pelo escorbuto depois de cruzar o Cabo da Boa Esperança já no Oceano Índico?”, questiona o pesquisador potiguar.

São essas e outras questões que abrem brechas na História ‘oficial’ que Lenine quer explicar e detalhar no livro “Herança de Netuno”. Ele mesmo aproveita para responder as interrogações: “A lei de Dom Afonso V comprova que os portugueses já circulavam pelo litoral do Brasil na época e o rei queria garantir o monopólio”, sentencia. A resposta da segunda pergunta sobre Vasco da Gama é ainda mais curta: “Ora, ele passou antes pelo litoral brasileiro, provavelmente aqui pelo RN, onde reabasteceu a frota”.

Outros livros do autor

O escritor e pesquisador se dedicou a pesquisas sobre a aviação e as navegações

“Natal/USA” : Relatos sobre a participação do Rio Grande do Norte como base aérea americana na II Guerra Mundial/1995.
“Reinvenção do descobrimento” (1998/RN/Econômico): Primeiro livro do autor sobre o tema.
“Ainda a questão do descobrimento” (2000): Evidências náuticas e fontes documentais que apontam a área de Cabo de São Roque-RN como provável ancoradouro de Pedro Álvares Cabral.
“A Coleção João Gonçalves” (Sebo Vermelho/2002).
“O reino das bestas feras”: uma introdução à história da Alemanha nazista : a 2. Guerra Mundial através da biografia / Lenine Pinto. (2007)
“A integração do Rio Grande do Norte e do Amazonas à província do Brasil”: Lenine Pinto & Gerardo Pereira.

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