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A universidade e seus inimigos

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Ivan Maciel de Andrade
Procurador de Justiça e professor da UFRN (inativo)

Por que tanta má-vontade e hostilidade do ministro da Educação com relação às universidades e institutos federais? É mais do que antagonismo, é ódio, rancor, desprezo. Não há disfarce nem sutileza nas palavras e atitudes de Weintraub. O ministro se refere aos institutos e universidades como se fechá-los ou inviabilizá-los constituísse um grande serviço ao país. A partir daí foi deflagrada uma campanha virulenta, difamatória, de achincalhe nas redes sociais contra essas instituições públicas.

O ministro exibe uma alegação: as universidades “promovem balbúrdia”. Segundo o dicionário, balbúrdia significa algazarra, tumulto, confusão. O que ele gostaria certamente é que as universidades se dedicassem em silêncio, surdas e mudas, de forma restrita e exclusiva, às atividades acadêmicas. Ora, nos meios universitários circulam e são debatidas ideias, teorias, concepções de natureza política consideradas incômodas aos que exercem o poder. É essa participação política que o ministro tacha de “balbúrdia”. Ele quer uma universidade amordaçada e submissa. Não deixa de ser compreensível que ele pense assim. As universidades já foram inúmeras vezes no Brasil malvistas e perseguidas por governantes pouco afinados com a liberdade de crítica e contestação própria do jogo democrático.

A justificativa do ministro é arbitrária e permite discernir as verdadeiras razões políticas e ideológicas do bloqueio (ou contingenciamento) de 24,84% (?) da verba com despesas discricionárias das universidades e institutos. Essa medida, aliás, já foi diagnosticada como preconcebida tentativa de estrangulamento dessas instituições. Como retaliação ao “esquerdismo” que, na visão do ministro, se infiltrou perigosamente entre professores e alunos. A título de combater esse viés ideológico que teria sido fomentado pelos governos petistas, é lícito ao ministro aniquilar o próprio ensino público no país?

De onde saiu o ministro da Educação? Do bolso do colete de Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro, como reconhece ele próprio. Olavo de Carvalho – o falso filósofo, que não terminou o curso de filosofia e foi ser astrólogo. O livro de sua autoria que inspira o movimento de ultradireita que deitou raízes na política brasileira tem como título – “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota” (subentenda-se – um esquerdista). É uma compilação de 193 artigos publicados em órgãos da imprensa ao longo de 16 anos. Um livro, diga-se a verdade, que não respalda a fama do autor. Sua vendagem atingiu altas cifras, impulsionada pela projeção que Olavo obteve junto à extrema direita.

Hoje, Olavo de Carvalho se dedica a produzir vídeos com xingamentos, desaforos, palavrões, ofensas morais e intelectuais às Forças Armadas e em particular aos militares que servem ao governo. Nunca as Forças Armadas brasileiras foram tão vilipendiadas e humilhadas como nesses vídeos. Com a concordância do presidente e dos filhos que compartilham nas redes sociais as falações torpes e insultuosas. Afinal, o presidente homenageou Carvalho com a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco!  

Na origem dos destemperos dos “olavetes” contra o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal, as Forças Armadas e as univerdades está a sua visceral incompatibilidade com a democracia.

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