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A verdade das fakes

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George Wilde
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Nasceu no primeiro dia de abril. Diziam à boca pequena que, ao invés de chorar, veio ao mundo sorrindo. Sorrindo, não. Gargalhando. Já nos primeiros meses de vida, percebeu-se algo inusitado em sua formação corporal: as suas pernas eram curtas e o seu nariz crescia tão rapidamente que intrigava até os mais céticos.
Na infância, vivia no mundo do faz de conta. Tornou-se amiga do Papai Noel, Coelho da Páscoa e Fada do Dente. Curiosamente, gostava de assistir TV, porque sabia que os cabelos loiros das apresentadoras infantis tinham uma conexão muito forte com ela. Descobriu mais tarde que tanto ela como os cabelos loiros daquelas moçoilas eram tão verdadeiros como uma nota de 3 reais.
A juventude tirou completamente a sua ingenuidade. Rebelou-se por completo. Passou a circular por lugares desconhecidos e imundos, sempre levando consigo um sorriso pouco convincente. Provocou brigas, inimizades e separações. Provocou o ódio.
Porém, tinha em mente que deveria ser levada mais a sério. Não queria crescer à margem da sociedade. Então, tomou uma decisão que mudaria o rumo de sua vida e de tantas outras. Decidiu ir ao cartório e mudar o seu nome. Precisava de um nome que fizesse sentido em qualquer país, em qualquer lugar do mundo. Um nome de guerra, celebrado por numerólogos e cartomantes, capaz de ser respeitado por advogados, réus, padres, pecadores, estudiosos e ignorantes. 
Ela já tinha experiência demais para continuar sendo chamada somente de mentira. Escolheu, por fim, mais do que um nome. Escolheu um nome e sobrenome. Passou, então, a ser chamada de Fake News.
Com nome de artista hollywoodiana, a Fake News precisava agora de um palco onde pudesse se apresentar da melhor forma. Decidiu, intempestivamente, começar por onde havia maior espaço para se dar bem profissionalmente e ganhar mais notoriedade: a política. 
Os primeiros passos profissionais foram numa cidade do interior. Lá, conseguiu empregar uma história que ligava um tal candidato a prefeito com um tal padeiro conhecido pelos seus bons costumes. Graças ao exímio trabalho da Fake News, toda população da pequena cidade soube que o padeiro colocava a mão na massa antes mesmo de ir à padaria. E o candidato que, sempre reclamava do fundo eleitoral, já estava mais do que satisfeito com o fundo que tinha. A Fake News fez tanto sucesso em sua estreia, que conseguiu impedir a vitória do tal candidato e levou o padeiro a se mudar de cidade com sua família tradicional.
Mais que um nome bonito, a Fake News começava a ser reconhecida pela sua eficiência em destruir reputações e mudar o curso da história. “Mudei da água para o vinho” era o que ela sempre dizia por onde passava, em clara provocação a um dos seus maiores concorrentes do mesmo segmento: o milagre.
No lugar de ficar indo fisicamente de um lugar para o outro, a Fake News teve a brilhante ideia de se conectar nas redes sociais e aplicativos de mensagens para chegar mais rápido onde quer que fosse. Contando sempre com o apoio da ansiedade do ser humano, passou a ser compartilhada por pessoas que não tinham a menor ideia de quem ela era. Ganhou fama.
Participou de decisões que mudaram os cenários geopolíticos e econômicos ao redor do planeta, como o Brexit, no Reino Unido, e as eleições americanas, em 2016. Fez um tour pelo Brasil, em 2018. E até decidiu entrar no mundo do entretenimento, fazendo uma sociedade com uma antiga amiga de infância: a fofoca.
Pelo que eu soube, apesar de já estarem no pé dela, a Fake News disse que vai seguir a sua carreira profissional até onde a demagogia e a hipocrisia das pessoas permitirem. Se é verdade ou não, aí eu já não sei. Só sei que essa é a verdade das fakes.
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