quinta-feira, 28 de março, 2024
25.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

A verve de Manoel de Brito

- Publicidade -
Valério Mesquita
Escritor
Educado, simples, comunicativo, assim é o ex-conselheiro do TCE e ex-deputado Manoel de Medeiros Brito. Conheci-o no antigo prédio da Assembleia Legislativa, hoje sede do Tribunal de Contas do Estado, usando gravata borboleta e defendendo as cores da UDN. A sua inteligência e perspicácia produzem causos que não podem se perder na poeira do tempo. E o saudoso jornalista Machadinho, que ele apelidava de “Machado Lopes”, me proporcionou certa vez, a cortesia especial de relatá-los, para o deleite dos leitores. 
01) Certa vez, estava no interior, quando veio o apelo irresistível de uma cachacinha. O seu fiel escudeiro era Raul, motorista. “Raul”, recomenda Brito, com parcimônia, “Veja se encontra nesses botecos uma cachaça pelo menos razoável”. Empreendida a busca, volta Raul com a recomendação protocolar: “Dr. Brito, tem umas, mas não são de boa qualidade”. Brito, sediço e aliciador, sentencia: “Seu Raul, ruim é não ter”.   
02) Brito é um exímio apreciador da “pinga” nordestina. Degusta o precioso líquido como se fosse um príncipe do semi-árido. Como Secretário do Interior e Justiça, Brito gostava de integrar a comitiva oficial às reuniões da Sudene em Recife. E explicava ao jornalista Machadinho: “Eu vou porque lá é tudo muito bom e barato”. Mas nunca perdia o paladar de uma branquinha. Na capital do frevo, encontrava sempre o amigo Raimundo Nonato Borba, chefe da Representação do Rio Grande do Norte junto à SUDENE. Como é do seu hábito, arranjou-lhe logo um apelido: Borba Gato. E no trajeto do aeroporto à Sudene, do banco traseiro Brito avisava: “Borba Gato, não se descuide de parar antes num boteco para eu beber um “rabo de lagartixa”. 
03) O Palácio Campo das Princesas, em Recife, era o local refinado das reuniões da Sudene para os convescotes e regabofes do mundo oficial do Nordeste. Num desses eventos gastronômicos, estava presente o então Secretário da Indústria e Comércio do Rio Grande do Norte, Jussier Santos. Conhecido pela sua finesse, foi logo se servindo de champignon e sugerindo a Brito para provar aquela delícia. E esse responde de bate-pronto:  “Jussier, eu não como frieira”. 
04) Em outro almoço, alguém da comitiva oficial do Rio Grande do Norte provoca Brito, ao avistar apetitosos camarões: “Brito, sinta o cheiro inconfundível”. Este, com aquele olhar jardinense do Seridó, corrige: “In, não. Cheiro confundível!”.
05) Numa conversa descontraída, perguntaram a Brito qual a sua definição sobre o casamento. De bate pronto, fulmina: “Uma ilusão gratulatória”. De outra feita, Afonso, um dos seus motoristas da atividade oficial, recebeu dele um apelido que exprimia fielmente o significado de suas proezas de paquerador. Afonso era baixinho, entroncado, mas era querido do mulheril funcional que beirava a menopausa. E Afonso “passava” as gordinhas, mal-amadas, pernetas, num comovente “ofício de caridade”. Sabedor de suas façanhas, Brito desfechou-lhe um apelido definitivo: “Areia de cemitério”. Come tudo.
06) Certa vez, um colega de governo e Secretário de Estado, estava apaixonado fora do casamento. Num almoço, sapecou-lhe a pergunta: “Como está de arrumação?”. Silêncio. Insiste Brito: “Deu no aro?”. Resposta tímida do interlocutor: “Deu”. “Então é separação consumada”, vaticinou Brito Velho de Guerra.
07) O dr. Tarcísio Maia, seu grande amigo, recebeu o apelido de “Sebastião” e ninguém sabia a razão. É que o ex-governador gostava de vestir um terno branco. E lá pelos idos de 50, outro político também era conhecido bastante por esse hábito: o vereador natalense Sebastião Malaquías, muito popular à época. E num comício em Natal, Tarcísio havia se postado de pé, entre os circunstantes. Vez por outra, chegava um eleitor, batia-lhe no ombro e perguntava: “É seu Sebastião?”. “Não”, respondia secamente Tarcísio. Veio o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto: “É seu Sebastião?”. “Não”, sempre a mesma resposta dietética. Observador de tudo, Brito não resistiu ao epíteto: “Sebastião”.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas