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A vez dos MOB Natal

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Yuno Silva – repórter

A grande maioria relaciona a palavra ‘flash’ àquela luz repentina que auxilia fotografias em lugares com pouca luminosidade, outros tantos podem associá-la ao herói importado de roupa vermelha e um raio amarelo no peito com super velocidade; mas quando combinada a partícula ‘mob’ (de mobilização) a coisa muda de figura e ganha conotações que só esses tempos de comunicação à velocidade de um clique e redes sociais foram capazes de processar. Em abril deste ano, clientes de um shopping natalense foram arrebatados com a aparição surpresa da Orquestra Sinfônica do RN tocando o Bolero de Ravel pelos corredores; e neste próximo domingo (15) será a vez dos leitores de HQs entrarem em sintonia em torno do flash mob temático promovido pela Feira Internacional de Quadrinhos (FIQ), o maior evento do gênero no país a ser realizado em Belo Horizonte no mês de novembro.
Feira Internacional de Quadrinhos promove flash mob nacional no próximo domingo
O encontro acontece no Parque das Dunas, das 10h às 13h, com o objetivo principal de reunir amantes da arte sequencial para uma sessão coletiva de leitura ao ar livre. Vale ir caracterizado de super-herói, levar sua revista favorita ou propor trocas/venda. Essa é a segunda vez que Natal entra na ‘onda’ puxada pelo FIQ, articulação que também irá se somar aos encontros confirmados em Fortaleza, Maceió, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo.

“Não existe uma regra para participar, basta ir chegando. Nossa intenção é chamar atenção para os quadrinhos, mostrar a existência dele e incentivar a leitura. É um encontro para quem gosta e para quem quer conhecer mais sobre HQs”, disse o chargista Rodrigo Brum, um dos articuladores locais. “É importante dizer que, lá na hora, de forma isolada, pode até parecer pequeno, mas quando juntamos fotos de todas as movimentações temos noção da dimensão da coisa”.

A roteirista de quadrinhos Milena Azevedo, entre os principais contatos da FIQ em Natal, participou do flash mob proposto pela Feira em 2011 e lembra que a versão potiguar do encontro mereceu o prêmio principal (revistas, fanzine e bottons): “No dia estava chovendo, mas não arredamos o pé, esperamos juntar mais gente para fazermos fotos”. Ela acredita que essa “gana em mostrar o amor pelos quadrinhos” e as poses criativas registradas ajudaram na escolha de Natal como cidade vencedora do concurso.

Como a FIQ acontece de dois em dois anos, esta será a segunda edição do evento: “Este ano não haverá premiação, mas a expectativa é juntar mais gente em mais cidades, inclusive no exterior. Na primeira vez chegaram fotos de mobilizações em Portugal e países de Leste europeu”, recorda Milena.

A eficiência dos mobs foi experimentada durante as Olimpíadas de Londres, em 2012, onde apresentações culturais relâmpagos eram realizadas em locais anunciados pouco antes de acontecer pelas redes sociais. O modelo foi importado e também será adotado pelo Ministério da Cultura durante a Copa do Mundo 2014, tanto que a ministra Marta Suplicy já separou R$ 2 milhões do MinC para esse tipo de ação.

Bolero de Ravel

Fenômeno social, os flash mobs são cada vez mais frequentes e pipocam por todo o mundo – vide os recentes protestos no Brasil e a série de manifestações que sacudiram o Norte da África e o Oriente Médio no movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe. Esse tipo de atividade está vinculada a um sem número de intenções (marqueteiras, sociais, políticas e culturais) e possuem em comum a condição de ser uma aglomeração efêmera de pessoas envolvidas em determinada ação, muitas vezes inusitada, essencialmente articulada através da internet.
Orquestra Sinfônica parou o Shopping Midway este ano com sua aparição surpresa pelos corredores do centro comercial
“A reação das pessoas foi a melhor possível, foi fantástico, o shopping todo parou para ver”, disse o músico Paulo Sarkis, da OSRN, reforçando outra característica dos mobs: o prazer e a emoção que mexe tanto com quem participa como com quem testemunha. “Articulamos com a direção do shopping, chegamos antes dele abrir para ver onde esconder os instrumentos e fazer um ensaio. Deu tudo certo!”. A performance começou na praça de alimentação e terminou no saguão principal do Midway Mall onde ficam os elevadores. “As pessoas não sabiam direito o que estava acontecendo, e quando terminamos o lugar estava lotado”.

Sarkis explicou que o “Bolero de Ravel” caiu como uma luva para a dinâmica do flash mob, pois “a música agrega os instrumentos aos poucos”. A regência da performance foi do maestro gaúcho Linus Lerner. “Nosso interesse era aproximar a Orquestra do público de uma maneira descontraída, e levantar a imagem do grupo diante de uma gestão de Governo que faz questão de nos ignorar”, alfinetou o músico.

Luiz Antônio, diretor administrativo da Osquestra Sinfônica do RN, contou que a ação coincidiu com a comemoração de aniversário do shopping e os 30 anos da OSRN – a produção foi da M.A.P.A. Realizações. “Foi a primeira fez que fizemos isso e a experiência foi ótima. O maestro Linus queria fazer uma surpresa e funcionou”.

Tapete do amor

O termo ‘flash mob’ não é novo, surgiu no início do século 19 na Austrália, mas na época tinha outro significado: era usado  para para designar um segmento da sociedade e não um evento – ou seja, nada a ver com o entendimento que se tem hoje.

A primeira e a segunda mobilização da ‘era moderna’ aconteceu em Nova Iorque, articuladas pelo jornalista Bill Wasik. No começo dos anos 2000, Wasik enviou mensagem para cerca de 50 amigos com um texto que não revelava ser ele o próprio organizador. A intenção era juntar pessoas em frente a uma vitrine de loja de maneira que tapassem totalmente a visão dos clientes – a brincadeira vazou e a polícia foi avisada, frustrando o primeiro flash mob.

O segundo deu certo, aconteceu em 2003 em um loja de departamentos. Para evitar novo vazamento de informações, Bill Wasik distribuiu panfletos minutos antes do início do mob. Resultado: mais de 100 pessoas se juntaram em volta de um tapete caro, dizendo que moravam juntas em um galpão nos arredores de Nova Iorque, que todas as decisões de compras eram feitas em grupo e que estavam ali procurando por um “tapete do amor”.

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