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A volta do udenismo

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Ivan Maciel de Andrade                                                                                                           
Advogado   

Pelo andar da carruagem, é bem possível que seja ressuscitada na vida política nacional uma mentalidade que eu chamaria de udenista. A União Democrática Nacional (UDN) foi um partido criado em 1945, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, e extinto em 1965, durante a ditadura militar. Era o partido de oposição sistemática e radical a Getúlio Vargas. Através sobretudo do talentoso orador, escritor e líder político Carlos Lacerda. Mas havia grandes, excelentes juristas na UDN.  Ocorrem-me os nomes de Afonso Arinos de Melo Franco, Milton Campos, Bilac Pinto (que se tornou ministro do STF), Alberto Deodato, entre muitos outros, pertencentes a diversos Estados. Sendo que os udenistas mais famosos, de maior atuação política e valor intelectual eram, sem dúvida, de Minas.

A UDN perdeu três eleições presidenciais: em 1945, 1950 e 1955. Nas duas primeiras, com o brigadeiro Eduardo Gomes e, na última, com o general Juarez Távora. Venceu em 1960, valendo-se da popularidade de Jânio Quadros, que renunciou sete meses após assumir o governo. O PSD era o partido que fazia frente à UDN. Estava mais próximo do povo e obteve, assim, mais vitórias eleitorais.  

Mas o que considero importante destacar é que o udenismo representava um modo de ver o país e a política declaradamente elitista, conservador, moralista (de um moralismo belicoso, embora de fachada e retórico), avesso a programas sociais e com um discurso de apologia ao militarismo. Tanto assim que os caciques udenistas patrocinaram a conspiração que desaguou na ditadura militar de 1964. O moralismo udenista, levado às últimas consequências, inibia a realização de ambiciosas obras públicas, pela rigidez dos critérios de controle de sua contratação e execução. Era repetida à exaustão uma proposta – nem sempre sincera, vamos convir, mas onipresente – de absoluta e estrita austeridade. Uma austeridade que se bastava a si mesma, como se fosse um fim e não só um meio.

Algo que colocava quem a praticasse acima dos pecaminosos mortais (antiudenistas). Ou seja, a maioria dos habitantes das diversas regiões deste país tão abandonado e maltratado por seus governantes. Essa tacanha “ideologia” conduzia à alienação sociopolítica, devido ao descolamento de nossa realidade, à excessiva burocracia e ao formalismo impostos à máquina estatal. O que levava à estagnação econômica, devido às absorventes preocupações com o equilíbrio das contas públicas.

Um moralismo, em suma, estéril e estereotipado. Que não reconhecia o caráter prioritário e imperativo das políticas públicas que visam atender ao apelo dramático e desesperado das camadas excluídas, dos pobres e miseráveis. Portanto, um moralismo que se contrapõe à dignidade humana.  

O menosprezo aos programas sociais é profundamente antiético. Representa alienação quanto às desigualdades que se agravam cada vez mais em todo o mundo. E que podem causar graves danos à sociedade, sobretudo em países emergentes. O maior dos danos é destruir a perspectiva de ascensão socioeconômica de milhões de jovens. Enquanto isso, apesar de cautelas e repressões, a corrupção tende a subsistir. O udenismo, caso volte, será sem os seus grandes juristas e intelectuais.  

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