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ABC SA, cuidado com as sereias

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Rubens Lemos FIlho

Augusto Carlos Rocha de Lima 
Ex-Conselheiro do ABC e Promotor de Justiça 
Cresce atualmente no ABC Futebol Clube o projeto de transformar nossa associação em uma sociedade anônima, para captar recursos, sanear a dívida e levar o Mais Querido a patamares nunca alcançados. 
Em tempos tão inseguros, em que o vídeo, não mais só o papel, tende a aceitar tudo que nele é produzido, é importante que a torcida do ABC e, especialmente, seus Conselheiros (detentores do poder de decisão sobre o negócio), avaliem alguns aspectos essenciais na proposta.Não existe exemplo de clube empresa no Brasil, S.A. ou não, que tenha durado muito.
Sim, é verdade, existem clubes empresa que ganharam títulos, tiveram projeção extraordinária no início, com o aporte vindo dos investidores. Mas depois, caíram no esquecimento ou simplesmente fecharam as portas. Google it, pesquisem no buscador estadunidense. As experiências são terríveis. 
Os exemplos de sucesso ou de estabilidade duradouros são, em regra, europeus, quando associados a benfeitores milionários, o que, evidentemente, não acontecerá no ABC Futebol Clube, sediado em Natal, no nosso querido, mas financeiramente deficiente, Estado do Rio Grande do Norte, em ano de crise econômica e de pandemia.
E aqui vai o principal ponto que deveria ser divulgado à torcida e aos Conselheiros do ABC FC: profissionalização de gestão, com resultados esportivos, não significa transformação em clube empresa. Os exemplos que nos rodeiam levam a crer exatamente o oposto:
1) o Bahia, depois de ser trucidado por investidores, reergueu-se como associação, com democracia direta;
2) Fortaleza e Ceará são associações;
3) o CSA, que foi à Série A recentemente, e luta hoje para voltar à elite, é associação;
4) o Sampaio Correa, que, enquanto este texto está sendo escrito, está no grupo de acesso à Série A, é associação.
Auditoria da dívida. Gestão profissional de diretorias, com profissionais remunerados. Avaliação de riscos. Governança corporativa. Compliance. Essas deveriam ser as palavras de ordem no momento, não a cessão de imóveis para uma S.A.
Na otimista perspectiva do apresentador do vídeo que circula em redes sociais, divulgado pela diretoria do ABC FC, as metas do negócio seriam levar o ABC à Série A em poucos anos, construir novo Centro de Treinamento com selo de qualidade e formar jogadores que levem a receita de 25 milhões de reais, também em poucos anos.
Tudo isso acontecerá, nas palavras do exibidor, desde que a associação ABC Futebol Clube repasse à futura Sociedade Anônima o Frasqueirão, o Centro de Treinamento, o Alojamento e a sede física do atual clube (sobrou algo?). 
Em outras palavras, em caso de encerramento da futura S.A., o patrimônio do ABC FC seria usado para pagá-las. Além de tudo isso, seria da S.A. também o registro do ABC em federações esportivas (o direito de jogar campeonatos profissionais).
É difícil pensar em qualificativos para essa espécie de proposta. O torcedor pensa alto, quer ver o ABC saneado financeiramente e vencedor (com razão). Mas a análise fria da iniciativa gera a conclusão de que, de concreto mesmo, só os riscos. As promessas são tão críveis quanto às de uma campanha eleitoral.
Na mitologia grega, sereias não eram angelicais, como o imaginário popular hoje acredita. Eram monstros, com cabeça humana e corpo de pássaro, que encantavam marinheiros pela voz e os levaram ao naufrágio e ao afogamento. De longe, uma beleza. De perto, a tristeza.
Cuidado, Frasqueira, com o canto das sereias. No final do negócio, pode acontecer tudo, inclusive nada. Poderemos passar de clube endividado a clube endividado, sem estádio, sem sede e sem campeonatos profissionais a disputar. Um não-clube.
A escolha é essa: gerir a dívida de forma responsável e recuperar-se, como fizeram Bahia, Ceará, CSA e Fortaleza, ou arriscar tudo no que pode ser um blefe? Como nunca tive vocação para o fundo do mar, nem para morrer afogado, prefiro a terra firme: um ABC sem dívidas e comandado por quem de fato é seu proprietário, sua gente. 
Irresponsabilidade 
Horrível a cena de torcedores do ABC amontoados ao lado do campo do Globo em Ceará-Mirim. Em plena volta da Covid-19, o espetáculo macabro mostrou falta de responsabilidade e, sobretudo, respeito às outras pessoas. 
João Paulo 
A expectativa da torcida do ABC pela volta do meia João Paulo, dá a ideia do quanto somos fracos. João Paulo é  jogador apenas regular com lampejos de competência. 
Dois gols 
Se não conseguirem dois gols de diferença, nada mais normal que ABC e América eliminados. Contradizem a tradição de times floridos de craques. 
Coruripe 
É de 37 mil e 500 reais o valor da folha de pagamento do Coruripe de Alagoas, que joga domingo pelo empate com o América para seguir na Série D. 
Muito mais 
O América paga ao menos oito vezes mais que a folha do Coruripe. Não haverá desculpa em caso de eliminação(Rubens Lemos Filho) 
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