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Abismo fiscal nos EUA vai levar economia à recessão

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Álvaro Campos e Stefânia Akel – Agência Estado

São Paulo – Passado o desafio da reeleição, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, precisa agora lidar com uma questão econômica urgente, o chamado “abismo fiscal” (fiscal cliff, em inglês). O termo foi criado pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, para descrever uma série de cortes de gastos e aumentos de impostos automáticos que entrará em vigor em 2 de janeiro do ano que vem caso não haja acordo no Congresso. O alerta não é desprezível: na última quinta-feira um novo relatório do Escritório de Orçamento do Congresso dos Estados Unidos informou que essa consolidação fiscal abrupta levaria a economia dos EUA a uma recessão de até 0,5 ponto porcentual em 2013 e a um salto na taxa de desemprego para 9,1% – atualmente em 7,8%.
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Ao longo deste ano, a fragilidade da recuperação da economia americana ficou clara nos números do PIB: no primeiro trimestre, a economia cresceu 1,9%, desacelerou para 1,3% no segundo trimestre e ganhou novo fôlego no resultado preliminar do terceiro trimestre, acelerando para 2,0%. Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB dos Estados Unidos não deve crescer mais que 2,2% no acumulado de 2012. O FMI alertou que ainda que o “abismo fiscal” seja desfeito rapidamente, os danos à economia americana podem ser substanciais.

A dificuldade em uma negociação no Congresso para evitar o “abismo fiscal” é que a eleição realizada esta semana nos Estados Unidos manteve a divisão no Legislativo, com os democratas no controle do Senado e os republicanos na liderança da Câmara. E mesmo que se evite o pior cenário com uma solução provisória, como muitos analistas acreditam, as difíceis conversas entre os dois partidos podem ser suficientes para causar nervosismo nos mercados.

A própria Casa Branca publicou em setembro um relatório com 394 páginas sobre os potenciais efeitos das medidas contidas no “abismo fiscal”, que preveem US$ 108 bilhões em cortes em 2013, afetando mais de 1,2 mil agências do governo, em muitas das quais as reduções chegam a quase 10% do orçamento.

Entre outras coisas, o orçamento do Exército teria de ser cortado em quase US$ 7 bilhões, e a Marinha perderia mais US$ 4 bilhões. Programas educacionais do governo teriam US$ 2,3 bilhões a menos, enquanto os pagamentos para hospitais realizados por meio do Medicare (programa de saúde do governo para idosos) seriam cortados em US$ 5,6 bilhões. Também haveria cortes nos gastos do Congresso, em programas de moradias para pessoas necessitadas, no orçamento da Alfândega e Patrulhamento de Fronteira, entre outros.

Segundo uma análise do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), as medidas do “abismo fiscal” teriam um grande impacto sobre o déficit orçamentário, que cairia de US$ 1,1 trilhão no ano fiscal 2012 (encerrado em setembro deste ano), equivalente a 7% do PIB, para US$ 641 bilhões em 2013, ou 4% do PIB. Já a dívida pública recuaria para 58,5% do PIB em 2022, dos atuais 73%. Mas essa melhora nas contas públicas cobraria um preço elevado: uma recessão de 0,5% no ano que vem, com taxa de desemprego de 9%. O problema do “abismo fiscal” começou em agosto de 2011, quando o Congresso aprovou a Lei de Controle do Orçamento para resolver a crise sobre a elevação do teto da dívida.

Analistas políticos apostam em acordo temporário

São Paulo (AE) – Apesar dos receios com os possíveis impactos do chamado “abismo fiscal” sobre a economia dos Estados Unidos, analistas acreditam que republicanos e democratas devem chegar a um acordo para evitar os cortes de gastos e aumentos de impostos automáticos previstos na legislação. Entretanto, deve ser apenas uma solução temporária, que não abordará as raízes dos problemas que alimentam um déficit orçamentário trilionário no país, alertam.

A expectativa de um acordo é unanimidade entre analistas pela simples razão de que tanto republicanos quanto democratas sabem que os custos políticos de deixar a economia entrar em recessão seriam muito grandes. “Tem havido movimentos em direção a um acordo. Eles entendem a gravidade do problema”, diz Matthew Luzzetti, economista do Deutsche Bank. “Mas vai ser, sem dúvida, uma briga política bem difícil, porque em cada partido há alguns membros mais radicais”, afirma Bret Rosen, estrategista de mercados globais do Standard Chartered Bank.

Ele diz que Obama terá de assumir uma postura moderada nas negociações, já que se o presidente expressar uma posição muito “ideológica”, isso vai afastar os republicanos. “Algumas pessoas dizem que Obama deveria ser mais ativo, com negociações individuais com os líderes do Congresso. Mas o maior problema é que o Partido Republicano pode ser dominado por uma minoria que é descrita como extremamente conservadora na questão fiscal, e que na verdade não entende as questões mais básicas. Eles querem zerar o déficit, e isso não é possível, mesmo com todos os cortes de gastos imagináveis”, comenta Jeffrey A. Frankel, professor de formação de capital e crescimento da Escola de Governo John F. Kennedy, na Universidade Harvard.

Já Luzzetti aponta algumas medidas que devem ser aprovadas num acordo bipartidário para evitar o “abismo fiscal”. Segundo ele, o Congresso deve permitir que o imposto sobre a folha de pagamento seja elevado, mas provavelmente prorrogará os cortes no imposto de renda para os contribuintes. “Um ponto problemático são os cortes nos impostos dos mais ricos, que Obama já deixou claro que será preciso deixar expirar”, alerta.

Os analistas também concordam que as incertezas provocadas pelo “abismo fiscal” já são um problema, fazendo empresários adiarem decisões de contratações e investimentos.

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