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Abrir o foco sobre a vida

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Numa de suas antológicas crônicas, Nelson Rodrigues previra – antes mesmo da tecnologia mais avançada de hoje – que a verdade estava com a ilusão dos narradores das rádios, e não com os idiotas da objetividade.

Míope de não conseguir enxergar sequer uma partida de futebol das cabines de rádio do Maracanã (daí a companhia inseparável do amigo Armando Nogueira, sempre narrando o que acontecia no campo), Nelson traduzia, em parte, as transformações da função jornalística – cada vez mais burocrática.

Pois foi tentando buscar aquela subjetividade real de antigamente que o jornalista português Rui Paulo da Cruz, 57 anos, organizou a exposição “As Sete Cores do Silêncio” – reunião de 49 fotografias que retratam personagens, cidades, paisagens e momentos de ruptura com o conceito de objetividade do autor. O lançamento da mostra ocorre amanhã, a partir das 18h, na Fundação Cultural Capitania das Artes. A entrada é franca.    

Embora as imagens sejam recentes, o trabalho é uma visão dos 40 anos de profissão do autor. “Tem um escritor francês que diz que a objetividade só existe quando há o encontro de duas subjetividades: a do leitor e a do autor. Proponho uma ruptura com essa objetividade”, conta.

Rui conta que a idéia da exposição surgiu em 2003 quando esteve em Caracas, na Venezuela,  visitando a exposição de um fotógrafo brasileiro. Ele questionou a qualidade do trabalho e foi desafiado por um grupo de amigos a fazer melhor. Do contato em São Paulo com o amigo e cartunista Chico Caruso, veio a oportunidade de trazer a mostra para o Brasil. “Depois de São Paulo fiz Rio de Janeiro e agora minha amiga Simara Albuquerque me trouxe a Natal. Daqui devo fazer Moçambique. Em Natal me sinto em casa. Não é a primeira vez que venho aqui”, conta. 

O português não encara a fotografia como profissão, mas revela que desde os seis anos de idade – quando ganhou o equipamento de seu pai – convive com o ofício. Ele admite que além de influenciar o jornalismo, a fotografia acabou refletindo em outra área. “Também tenho seis documentários produzidos e outros cinco projetos em desenvolvimento. Em todos trabalho essa coisa da subjetividade. Excluo meu discurso e deixo que os personagens dêem a linha. Minha parte se reduz à edição e a captação de imagens que partem sempre das palavras dos personagens”, explica.  

Português fundou o Observatório da Imprensa

Natural de Praga, Rui Paulo da Cruz foi militante político nos anos 70 e torturado durante o governo do ditador Antônio de Oliveira Salazar. Os “anos de chumbo” em Portugal acabaram em 1974, mas a experiência não foi apagada da memória. “Não chegaram a me bater. No meu caso, me obrigaram a ficar sem dormir durante 14 dias não consecutivos”, lembra.   

Anos mais tarde, em 1995, Cruz construiu com um grupo de amigos a idéia do Observatório da Imprensa, dirigido no Brasil pelo  jornalista Alberto Dines. Segundo ele, a idéia foi concebida em Portugal. “Criamos a entidade para discutir o papel da imprensa portuguesa, fizemos seminários. O Dines esteve em Portugal, gostou da idéia e trouxe para o Brasil. Mas aqui ficou muito ligado à ele. Tem programa na TV, página na internet, programa de rádio… lá é mais institucional”, comparou. 

Serviço:
Exposição “As Sete Cores do Silêncio”, amanhã, a partir das 18h, na Fundação Cultural Capitania das Artes. Entrada franca.

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