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Academia e indústria buscam sintonia

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Qualificação, requalificação, especialização… Essas palavras estão entre as mais citadas, hoje, em qualquer discussão que envolva a expansão e implantação de projetos de energia eólica no Brasil. O desafio é grande: o mercado  sofre com a falta de pessoal qualificado para desenvolver os projetos e a academia e institutos de formação de mão de obra tentam se adaptar para garantir quantidade e qualidade no ensino nessa área nova e ainda pouco explorada no Brasil. “Na verdade, temos que reconhecer… é uma área muito nova. Mas, tenho certeza que a academia vai dar a resposta esperada ao mercado”, diz o professor aposentado da UFRN, Wilson da Mata, que agora trabalha com o desafio de implantar no RN o Instituto Senai de Inovação – Energias Renováveis, que será o único entre os 25 que estão sendo criados pelo ‘Sistema S’ para desenvolver pesquisas e impulsionar a formação de mão de obra especializada  para o setor. “Há um fosso entre as áreas acadêmicas e a indústria em geral no Brasil. Mas vamos trabalhar forte para encurtar essas distâncias e ajudar a formar o profissional e pesquisador que o setor merece”, afirma.

A expansão acadêmica voltada para a área de energias renováveis está longe de acompanhar a dinâmica do setor no Brasil. Hoje, segundo dados publicados no site do Ministério da Educação, há apenas 12 cursos de graduação específicos para a área de energia eólica. Maria do Carmo Martins Sobral, pós-doutora em Tecnologia Ambiental, professora da UFPE e membro da Capes, reconhece o desafio da academia para atender essa demanda de profissionais e afirma que “as ações ainda têm se restringido às áreas das engenharias”.

#SAIBAMAIS#Wilson da Mata ressalta  que as mudanças curriculares de universidades não ocorrem na mesma velocidade que as transformações do mercado. “É assim em qualquer área… Educação não é uma produção em série. Mas, o importante é que a academia consiga acelerar a resposta para os setores importantes da economia. E esse processo – para as energias renováveis – tende a acelerar muito de agora em diante”, argumenta.

Esse descompasso entre a velocidade de crescimento econômico e qualificação de especialistas  não chega a impedir o desenvolvimento da industria eólica, mas atrasa e encarece projetos. O diretor executivo da BioConsultants, Hugo Alexandre, afirma que praticamente ‘forma’ todos os seus profissionais. A consultoria atua no licenciamento de projetos eólicos em cinco estados (RN, CE, PE, BA e PI) e tem hoje cerca de 50 funcionários (entre fixos e temporários).

São profissionais como biólogos, arqueólogos, geógrafos, geólogos, engenheiros e administradores que receberam das universidades pouca qualificação específica  para a área que hoje atuam. “Os alunos saem das faculdades sem a mínima condição de atuar no mercado de trabalho. Os alunos são formados para o meio acadêmico, não para o mercado”, analisa Hugo Alexandre.

O tecnólogo em Petróleo e Gás, Luciano Medeiros, corrobora com essa opinião: “O que aprendi na área de eólica, aprendi na marra, aprendi fazendo, já atuando no mercado”, revela. Luciano hoje faz uma especialização em Petróleo e Energias Renováveis e atua na BioConsultantes como gerente  de logística. Entrou na empresa como estagiário e já recebeu diversas promoções. Mesmo confirmando a pouca noção de prática profissional adquirida na academia, ele ressalta: “A universidade nos dá a chave… mas é preciso saber qual porta abrir no mercado de trabalho”.

Sem Fronteiras

Além da formação, há escassez também da pesquisa para a área de energia eólica. Dados publicados no site do programa Ciência Sem Fronteiras revelam que, das mais de 50 mil bolsas de graduação e pós-graduação que já foram liberadas para estudantes universitários, apenas 1,2% (630 bolsas) são para pesquisas nessa área. Das 630 bolsas distribuídas para a área no País, apenas sete (7) foram para estudantes potiguares. Isso representam menos de 0,6%  do total de bolsas distribuídas nas universidades do RN.

CTGaS-ER

O CTGAS-ER tem como meta se transformar em referência nacional e internacional na formação de mão de obra na área de energias renováveis, com ênfase para a indústria eólica. Para isso a escola vem tentando ultrapassar um dos maiores desafios desse setor de formação: encontrar professores com conhecimento específico. “Como a área é nova, temos que capacitar, também, os formadores, os professores para esse setor bastante específico e ainda novo em nossa indústria. E como esse mercado tem pressa, precisamos oferecer essa capacitação em paralelo à formação de mão de obra”, explica a diretora Executiva do CTGAS-ER, Cândida Amália Aragão de Lima. Para tentar expandir o conhecimento no setor eólico e capacitar os formadores, o CTGAS enviou professores especialistas para aperfeiçoamento na Alemanha. O centro oferece cursos técnicos presenciais e a distância, voltados para a área de energia eólica. Mas também já formou uma turma de pós-graduação (especialização lato sensu em energia eólica) com quarenta alunos graduados em Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Civil e áreas afins.

John Edward Neira Villena – pesquisador e professor CTGAS-ER

Foi observando esse novo campo de atuação acadêmica que o engenheiro mecânico, especialista em petróleo e gás e doutor em materiais compostos, o peruano John Edward, enveredou pela área de energias renováveis.  Após a especialização, e com objetivo de aprofundar conhecimento, foi enviado pelo CTGAS-ER para um intercâmbio na Alemanha. Embora esteja de partida para outro Estado, vai continuar dando aulas a distância.

Aldemir Maia da Silva – especialista em eólica

Após o primeiro curso técnico na área de gás natural, ele concorreu com mais de 500 alunos e conseguiu uma das vagas de especialização técnica em energia eólica. Aldemir ainda não conseguiu vaga no mercado de trabalho das eólicas. “Todas as empresas perguntam: você tem experiência? Não, tenho qualificação”. Mas ele diz que não vai desistir. “Serei um profissional dessa área. Quero isso, estudo para isso e vou conseguir”.

Pedro Alves – pedreiro, estudante e ex-agricultor

O pedreiro e ex-agricultor Pedro Alves de Souza, 35, faz curso de almoxarifado, mas já prepara um passo maior: “Quero fazer curso de eletrotécnica”, diz. A busca por qualificação é inspirada nas oportunidades que “invadiram” o município de João Câmara com os projetos de eólica. “É importante me profissionalizar porque o que vale não é dizer eu conheço, mas ter um papel para mostrar que estou qualificado”.

Kaline Fernandes – estudante do IFRN

Nasceu e cresceu em João Câmara, onde a agricultura e o comércio são as principais opções de emprego. Para tentar carreira no setor de energia, aposta em um curso de tecnólogo em Energias Renováveis que funciona desde 2012 no município – um dos polos que mais atraem investimentos em energia no RN. A expansão do setor pesou, mas não foi o único chamariz para a estudante. “O salário no mercado também é bastante atrativo”.

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