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Academia Norte-Riograndense de Letras abre biblioteca de raridades

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Ramon Ribeiro
Repórter

Um exemplar da reedição francesa de “Três anos na Itália seguidos de uma viagem à Grécia”, de Nísia Floresta. Na folha de rosto, uma dedicatória de Henrique Castriciano datada de 1941. Tratava-se de um presente para o mossoroense Adauto Miranda, biógrafo da escritora potiguar que neste mesmo ano, meses mais tarde, lançou o livro “História de Nísia Floresta”. A obra em edição francesa é uma das raridades da Biblioteca da Academia Norte-Riograndense de Letras (ANRL) e mostra não apenas a riqueza escondida nas estantes do acervo da instituição, mas também como cada livro guarda em si detalhes preciosos sobre a história das letras potiguares.

O professor de Biblioteconomia da UFRN, Francisco Marinho, dirige a catalogação do acervo, composto de obras literárias do Rio Grande do Norte


O professor de Biblioteconomia da UFRN, Francisco Marinho, dirige a
catalogação do acervo, composto de obras literárias do Rio Grande do
Norte

Criada no mesmo período da fundação da ANRL, em 1936, a partir da junção de acervos de Henrique Castriciano e Câmara Cascudo, a biblioteca foi, ao longo dos anos, mais utilizada pelos próprios acadêmicos do que pela sociedade potiguar. Com a construção da sede da instituição na década de 1970, em Petrópolis, o espaço passou a ser instalado em uma das salas do prédio. Foram muitos anos sem uma estrutura mínima para receber visitantes. No entanto, ela não chegou a ser fechada – membros da academia e universitários em pesquisa a consultavam mediante solicitação.

Há três semanas uma equipe da instituição mergulhou a fundo na biblioteca com o intuito limpar o espaço e organizar o material em prateleiras específicas. Tudo com vias de tornar o local em condições de receber a comunidade interessada. Segundo o novo diretor da biblioteca, o escritor e acadêmico Lívio Oliveira, o local ainda não está o ideal, mas visitas agendadas, contendo poucas pessoas, já podem ser feitas, somente no período das 7h30 às 11h30, com acompanhamento de um dos secretários ou voluntários.

A iniciativa de restruturar a biblioteca foi do escritor Thiago Gonzaga, mestre em Literatura Comparada e editor da Revista da ANRL. Ao lado de Francisco Martins (membro do conselho estadual de cultura) e Manoel Onofre Junior (acadêmico, diretor da Revista da ANRL), se empenharam na organização do espaço.

O professor de Biblioteconomia da UFRN, Francisco Marinho, dirige a catalogação do acervo. De acordo com Gonzaga, agora a biblioteca tem um perfil definido. “Embora não seja grande, é um acervo muito rico, que conta a história da literatura produzida no Estado. Seu perfil é exclusivamente literário”, afirma.

O espaço dispõe de uma mesa larga com quatro lugares, sete estantes organizadas por temas que vão da literatura universal até as obras de todos os acadêmicos que passaram pela ANRL, passando por literatura brasileira, potiguar, revistas de outras academias de Letras e institutos de História. No total são 17 mil títulos, sendo 3 mil apenas de autores do RN.

Algumas raridades, como a edição francesa de Nísia Floresta, primeiras edições de “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, “Quincas Borba”, de Machado de Assis, “Oiteiro”, da cearamirinense Magdalena Antunes, e “Os Brutos”, de José Bezerra Gomes, estão em uma pequena vitrine. Obras muito antigas e de manuseio delicado ficam guardadas num armário fechado. Lá está, por exemplo, livros portugueses do início do século XIX. Obras de temática diferente encontradas na arrumação foram armazenadas em uma sala separada e devem ganhar um outro destino. Novas obras também devem ser acrescentadas na biblioteca, como o acervo do acadêmico Américo Oliveira Costa (1910-1996), fundador e um dos ocupantes da cadeira número 27, autor do livro “A Biblioteca e Seus Habitantes”.

“Hoje existe um ambiente propício para pesquisa e leitura. Os livros estão organizados em categorias, cada cadeira com os seus respectivos acadêmicos tem o prateleiras”, conta Lívio.

Buscas
Para facilitar ainda mais a consulta, a equipe também pretende digitalizar as informações básicas das obras para publicá-las em um site a ser desenvolvido. Lívio conta que com mais tempo a biblioteca estará melhor. “Podemos dizer que ela já está aberta, mas para deixá-la funcionando do jeito ideal, vamos precisar de mais tempo, cerca de oito meses. Pretendemos futuramente fazer algumas adaptações para dar mais conforto, como a instalação de ar-condicionados”, diz o diretor do espaço. “Se não houver recursos na Academia, vamos buscar soluções alternativas”.

Lívio aposta no acervo como fonte de novas ações literárias para serem realizadas na ANRL. “Ainda vamos nos aprofundar no acervo da biblioteca para conhecer melhor suas potencialidades. Esperamos que daqui surjam ideias para movimentar a Academia com ações culturais, dar mais vida a instituição”, comenta Lívio. “Além de estar aberta para a comunidade, a biblioteca será um bom núcleo de iniciativas da instituição”.

O diretor promete buscar parcerias com outras academias literárias e institutos históricos, como o Instituto Histórico e Geográfico do RN (IHGRN), guardião de um acervo centenário sobre a história do Estado. “O trabalho duro já foi feito. Meu papel agora será mais diplomático e agitador”.

O Que
A biblioteca da Academia Norte-Riograndense de Letras existe desde a fundação da instituição, em 1936. O acervo inicial foi montado a partir de doações de Henrique Castriciano e Câmara Cascudo. Ao longo dos anos, outros importantes acadêmicos doaram seus acervos, como Nilson Patriota e Raimundo  Nonato Fernandes. Escritores que lançam obras na sede da instituição também deixam exemplares para a biblioteca. Em 2005 o espaço foi batizado com o nome do Padre Luiz Monte. Segundo Francisco Martins, tido como historiado da Academia e com seis anos de atuação na biblioteca, Padre Monte foi um dos fundadores da instituição, mas faleceu vítima da tuberculose antes de tomar posse. Uma de suas obras icônicas, “Fundamentos Biológicos da Castidade”, está na vitrine de raridades.

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