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Açudes estão em contagem regressiva

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IPANGUAÇU - Açude Pataxós virou a alegria dos moradores que estão otimistas com as chuvas

Agricultores arando a terra e as plantas trocando a cor cinzenta de seus galhos pelo verde de suas folhas são as principais imagens associadas à chegada do período de “inverno” no sertão. Porém, nenhuma delas pode ser avaliada de forma quantitativa como a cheia dos açudes e barragens por todo o interior do estado. Quem mora vizinho aos reservatórios não mede as chuvas por milímetros, mas por centímetros a mais que o nível das águas sobe a cada nova precipitação, torcendo para a chegada do grande momento no qual o volume vai exceder a capacidade do reservatório e ultrapassar o sangradouro, garantindo meses de fartura.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE visitou três desses reservatórios, no Vale do Açu, onde as águas estão a centímetros de realizar o grande sonho dos moradores à sua volta. No açude Pataxós, no município de Ipanguaçu; na barragem Armando Ribeiro Gonçalves, em Itajá; e no açude Mendubim, em Assu; menos de um metro e meio separam o nível d’água da sangria, animando agricultores, pescadores e mesmo quem ganha a vida com o turismo ao seu redor.

Isso porque além da água garantir a colheita e a produção de peixes, também atrai muitos interessados em ver o  “show” das sangrias. “Dirigi 60 km, desde Alto do Rodrigues, só para ver a barragem (Armando Ribeiro Gonçalves). Se normal ela já é assim, imagine quando sangrar”, ressalta o motorista de empilhadeira Aluízio Oliveira, encantado com as águas que jorram das duas comportas semi-abertas do reservatório. Ele não conhecia o local e aproveitou para levar sua esposa Liviane e a filha Flávia, de apenas 5 anos. “Sempre tive muita curiosidade. E acho que a viagem valeu a pena”, diz. 

Quem espera essas visitas com ansiedade é a dona de um restaurante às margens do reservatório. “O movimento caiu demais nos últimos meses, depois que começaram a dizer que a água daqui era ruim. Minha esperança é que sangre e aí vai ser bom demais. Há alguns dias nos informaram que faltava metro e meio, agora acho que falta menos”, contabiliza Francisca Batista da Silva, a “Santa”. 

A torcida é a mesma do estudante Sérgio Henrique de Oliveira, de 17 anos. Em meio a uma pescaria de vara às margens da Armando Ribeiro, ele revela que a barragem “tomou muita água” nos últimos dias e está “mais ou menos” perto de sangrar. Um amigo seu, Francisco Evangelista de Oliveira Júnior, de 28 anos, classifica a seu modo a proximidade da sangria. “Choveu bem este ano. Quem planta já começou, tem muita gente animada. Agora está mais perto do que longe da sangria”, descreve, lembrando que no reservatório isso significa ainda mais festa, já que são três sangradouros diferentes.

Sertanejos estão confiantes

O último levantamento realizado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), no dia 1º, apontou o açude de Pataxós, em Ipanguaçu, como um dos poucos com 100% de sua capacidade tomada pelas águas, o que deveria significar a sangria. Contudo, a realidade é um pouco menos positiva, já que há cinco dias ainda restava cerca de um metro para o nível d’água ultrapassar a parede do sangradouro.

Nem assim, os sertanejos deixam de dar como “favas contadas” a chegada desse grande momento. “Vai sangrar a qualquer instante, falta pouco. Ano passado também sangrou nessa época e as últimas chuvas têm sido muito boas”, destaca o agricultor Manoel Ferreira, de 76 anos. Ele é  “nascido e criado” nas redondezas do Pataxós e mostra a alegria que a cheia do açude proporciona à região. “Se der mais uma chuvada já vai começar a ‘lavar’ a parede. Vai ser muito bom. Já plantei feijão e milho e acho que vou colher bem, além de poder alimentar uma vaquinha que tenho”, diz.

Adalto Felipe de Souza, que trabalha com pesca e agricultura na região de Pataxós, afirmou que as chuvas do início de março resultaram em um acréscimo de 70 cm no nível da água do reservatório. “Em 2006, o açude sangrou em 28 de abril, mas já tivemos inverno dele sangrar em fevereiro. Vamos ver se este ano vai sangrar no final do inverno, que aqui é principalmente de março a abril”, afirma.

A sangria, porém, não é o único momento esperado no local. O fim do próximo mês também irá marcar o retorno dos pescadores ao açude. Ate lá, a pesca está proibida por determinação do Ibama, devido à época da piracema, quando os peixes se reproduzem.

Comerciantes de Assu estão na expectativa

Às margens do açude Mendubim, em Assu, o clima é de expectativa. Enquanto as canoas se mantém amarradas à margem do reservatório e os pescadores permanecem em suas casas – proibidos de exercer sua atividade, devido à época de reprodução dos peixes -, os comerciantes dos diversos bares do local convivem com a baixa freqüência de visitantes. Tudo pode mudar, porém, se os poucos centímetros que separam as águas do nível do sangradouro forem vencidas com as próximas chuvas.  

“Quando o Beldroega (açude rio acima do Mendubim) sangrar, certamente aqui vai sangrar também”, avalia o morador de Assu, Ronaldo Araújo, enquanto se diverte com os amigos à beira do reservatório. “Aqui não tem praia, então nossa alegria e diversão é mesmo vir para cá. Se sangrar, aí é que vai dar gente”, avalia um dos colegas de Ronaldo, Manoel Bezerra. Mesmo sendo trabalhadores da construção civil, atividade geralmente prejudicada pelas chuvas, os dois e seu terceiro amigo, Ranieli Soares, não deixam de torcer pelas precipitações. “Nós queremos mais é que encha e aí vai ser bom para muita gente”, aponta Bezerra.

Gente como a comerciante Ana Lígia da Silva, proprietária de um bar a poucos metros do Mendubim. “Esse aqui é um ponto turístico e só melhora mesmo quando o açude está cheio”, explica. Ela aponta, no entanto, carências que podem inviabilizar o movimento do comércio local, mesmo se São Pedro fizer sua parte: “O pessoal que vive da pesca, e é muita gente, está parado, por determinação, mas também não está recebendo a ajuda de custo. Além disso, o acesso até aqui está horrível, assim não tem açude cheio que dê jeito”, denunciou.

De fato, os seis quilômetros que afastam o Mendubim da BR-304 são de solo pedregoso e apresentam vários buracos e desníveis, dificultando a passagem dos veículos. “É difícil chegar aqui quando não chove, porque quando chove ninguém consegue passar mesmo, ficamos todos isolados”, enfatiza a comerciante.

Quatro açudes estão com capacidade total

De acordo com as últimas medições da Semarh, quatro açudes do estado já teriam atingido sua capacidade total: Encanto, na cidade de mesmo nome; Santana, em Rafael Fernandes; 25 de março, em Pau dos Ferros; e o Pataxós, em Ipanguaçu. Dos demais, o que está mais próximo da sangria é exatamente o maior reservatório do estado, a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, que abrange diversos municípios do Vale do Açu, cujo volume já ocupa 90% da capacidade total.

Também já se aproxima da sangria o Santa Cruz, em Apodi, segundo maior reservatório potiguar e que, no final de fevereiro, estava com 84% de sua capacidade. Dentre aqueles com menor nível d’água, há casos específicos, como o da barragem de Poço Branco, localizada na região do Mato Grande, com apenas 8%. O reservatório, no entanto, sofre por conta de um problema registrado no ano passado, quando as comportas foram completamente abertas, no intuito de permitir seu conserto, e até hoje o volume não foi recuperado.

De uma forma geral, no entanto, açudes e barragens monitorados apresentam volume superior ao do mês de março de 2006. De uma lista de 22, cujos volumes foram registrados neste período em 2006 e agora em 2007, 14 já superaram o nível de 12 meses atrás.

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