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Adoremus

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Vicente Serejo
Fui menino vendo na mesa de cabeceira da minha mãe um pequeno livro de capa preta e fímbrias douradas, e nele escrito: Adoremus. Era o livro de orações que no silêncio da sua fé seus olhos iam buscar de vez quando. O tempo devorou o livrinho e um dia desapareceu não sei como. Toda boa casa de família cristã tinha um Adoremus, muito mais a nossa, com um pai mariano que acompanhava a procissão da padroeira dos macauenses, a Senhora da Conceição. 
O livrinho desapareceu dos olhos do menino, mas ficou guardado entre os guardados da alma, numa afeição antiga. Anos depois, caiu nos olhos o livro de Oswaldo Lamartine e padre João Medeiros Filho, ‘Seridó, século XIX, fazendas & Livros’. Uma leitura das leituras, como os franceses ensinaram ao mundo, dividido em dois universos: livros de oratório e de prateleira, leituras sagradas e profanas nas velhas fazendas, textos formadores do imaginário da tradição.  
Oswaldo Lamartine não poderia ter escolhido alguém melhor preparado do que o padre João Medeiros Filho para tomar conta dos livros sagrados, e ele, Oswaldo, dos livros profanos. É, certamente, sobre a leitura sertaneja produzida no Rio Grande do Norte, a contribuição mais erudita e singular. Um olhar moderno a perscrutar o imaginário do sertão, nascido das leituras utilitárias e do sentimento de contrição de um povo que tinha na fé a sua força mais profunda.
Para os fetichistas, levados pelo amor ao objeto, os livros vão e nunca voltam. Mas ainda assim, resta sempre um jeito imaginado de recuperá-los, tê-los de volta, talvez como se fossem os mesmos. Foi assim com o Adoremus. Um dia, numa livraria antiquária, num edifício no centro antigo de São Paulo, os olhos cataram uma fileira de livrinhos escuros. Curioso, puxei um deles. Era um Adoremus. E parecido com aquele que vivia no criado-mudo da minha mãe.  
Alisei com os olhos, puxei mais um, outro mais, e fui imaginando que poderia existir ali a edição de 1951, ano do meu nascimento. Estava. É a 23ª edição do Adoremus, ou, como está na folha de rosto, resguardada em papel de seda – ‘Manual de Orações e Exercícios Piedosos’, de D. Frei Eduardo, da Ordem dos Frades Menores – O.F.M. – impresso na editora Mensageiro da Fé, em Salvador, Bahia. No centro da página, amarelada e perfeita – “XXIII Edição, 1951”.
Não é o mesmo que ficou nos olhos do menino. Não é raridade, nem tem valor material. É só para lembrar a infância e os anos não a trazem mais, como no verso cantante de Casimiro de Abreu na canção dos oito anos. Não tenho certeza e a dúvida só acabaria se consultasse seu livro ‘O Bibliófilo Aprendiz’, longe dos olhos. Mas acho que foi Rubem Borba de Morais quem avisou: os livros esperam pelas mãos que o procuram. Aquele Adoremus esperava por mim..
Palco
OVO – Um parlamentar federal local foi ferino quando, em alusão velada ao ministro Rogério Marinho, sussurrou virtual, via e-mail: “O ministro Paulo Guedes chocou o ovo da serpente”. 
DELFIM – Neste domingo, nas páginas e no portal da TN – e na TV Assembleia – o leitor pode acessar a entrevista exclusiva com o ex-ministro Delfim Neto. A partir das oito horas da manhã. 
ALIÁS – O próximo entrevistado da TN deverá ser o ministro Paulo Guedes que já recebeu o convite e depende de sua agenda. Mas já determinou aos assessores que encontrassem uma data. 
MEDO – O livro faz medo. Medo é típico do autoritarismo. Pois não é que tem gente no governo querendo acabar com a isenção do livro? Bobagem. Ninguém esconde o autoritarismo. Ele foge.
BOM – O presidente Jair Bolsonaro descobriu que a distribuição de renda num país de grande desigualdade social é o bálsamo para ser bem avaliado. E é, sim. Desde o bolsa-família do PT.
MAS – Tem um preço: representa a volta do estado-mãe, generoso e cúmplice, tudo quanto fere o ideário do famigerado neoliberalismo do ministro Paulo Guedes, já com água no cavername.  
BORGES – Vai ser sábado próximo, 22, a partir das 10h, no Sebo Vermelho, o lançamento do novo ensaio de Chico Ivan – “Borges, do autor ao leitor sob o signo do barroco”. Chico sabe.  
AVISO – Numa obra de uma das ruas do Recife antigo, um tapume muito bem produzido, e bem pintado, avisa a quem passa: “Ficar sem ver o sol talvez deixe o coração pálido”.  Já nas redes.
Camarim
PLANO – O vereador Paulinho Freire não terá limites no esforço para aprovar a proposta de reforma do Plano Diretor. Seu discurso de manter a Câmara independente é cortina de fumaça. É aliado do prefeito Álvaro Dias e não parece disposto a mudar até que sejam abertas as urnas.  
MOSSORÓ – Três partidos deverão erguer, cada um distante do outro, as bandeiras da oposição em Mossoró: Democratas, com Cláudia Regina; Solidariedade, com Alysson Bezerra e PT com Isolda Dantas. É uma fragmentação que tira a chance da oposição e fortalece Rosalba Ciarlini.
FORÇA – A formação da força de oposição mais provável seria uma aliança Cláudia Regina e Alysson Bezerra, mas esta é considerada impossível. Cláudia não aceita, nem o ex-senador José Agripino como apoiador decisivo da candidata. Na prática, talvez seja, até, a missão do Dem.
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