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Afonsinho, o “rebelde” que não se dobrou a ditadura

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HISTÓRIA - Afonsinho (de barba)  também fez parte do glorioso Santos ao lado de Pelé

Há um pouco mais de 10 anos, em 24 de março de 1998, foi promulgada a Lei número 9.615, popularmente conhecida como Lei Pelé, em alusão ao então Ministro dos Esportes Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. A Lei foi um marco na relação jurídica entre clube de futebol e atleta, uma vez que resultou no fim do passe do jogador profissional.

Porém, quase três décadas antes, um jogador em especial foi considerado o precursor na luta pelo fim do passe do jogador de futebol. Seu nome: Afonso Celso Garcia Reis, o Afonsinho. O fato aconteceu no ano de 1971, em plena Ditadura Militar, quando Afonsinho foi proibido de jogar por algum tempo, por se recusar a cortar seus longos cabelos e barba, chegando a ser fichado no Serviço Nacional de Informações (SNI), como subversivo e comunista.

Diante da proibição, o jogador inicia uma batalha jurídica e política, conseguindo obter a propriedade do seu próprio passe, feito até então considerado inédito no futebol brasileiro.

Sua trajetória no futebol começou nas categorias de base do XV de Jaú, em 1962. Três anos mais tarde, com apenas 17 anos, transferiu-se para o Botafogo, onde conquistou muitos títulos, incluindo o bicampeonato carioca de 67/68, ganhando projeção nacional. Ficou de 1965 a 1970 no Alvinegro Carioca. Após a conquista do passe livre, em 71, foi para o Olaria, na época com um grande time, e para o Vasco, em seguida.

Em 1972 jogou pelo Santos, ao lado de Pelé; no Flamengo, em 73/74; América Mineiro (75); retornou ao XV de Jaú, (77); Madureira (80); e Fluminense (81/82), onde encerrou sua carreira como jogador profissional. Sua postura de esquerda impossibilitou qualquer convocação para Seleção Brasileira, em período de ditadura, apesar do talento inegável para vestir a camisa amarela.  

Além de um jogador talentoso, Afonsinho mostrou empenho nos estudos para se formar em Medicina, pela UERJ, em 1974, mesmo sob reclamação dos técnicos e dirigentes, que exigiam dedicação exclusiva do jogador ao futebol. Sua carreira incomum despertou o interesse da classe artística. O músico Gilberto Gil, hoje Ministro da Cultura, lançou em 1973 a canção “Meio de Campo”. O última frase da composição diz: “fazer um gol nessa partida não é fácil, meu irmão”, em alusão a luta do jogador contra a cartolagem.

Em 1974, o cineasta Oswaldo Caldeira dirigiu um filme documentário sobre a vida de Afonsinho, o Passe Livre. Tem a participação de vários jogadores, técnicos, artistas, políticos e comentaristas de renome, como João Saldanha, Jairzinho, Amarildo, João Havelange, Zagalo, Rafael de Almeida Magalhães entre outros. Na literatura a trajetória dele ficou marcada para sempre em dois livros: “Prezado Amigo Afonsinho”, de Kleber Mazziero, e “Afonsinho e Edmundo – a rebeldia no futebol brasileiro”, de José Paulo Florenzano.

Hoje, com 60 anos, com os cabelos grisalhos, mas ainda barbudo, continua a exercer a medicina como médico psiquiatra do Instituto Pinel, no Rio de Janeiro, em Botafogo, ajudando a realizar atividades esportivas, recreação e lazer como complemento ao tratamento psiquiátrico, contribuindo no tratamento aos deficientes mentais. Além disso, coordena um projeto de inclusão social com crianças carentes através de sua escolinha de futebol, também no Rio. 

Afonsinho aproveitou o feriado de São João para vir a Natal, rever os amigos que aqui deixou e  visitou a redação da TRIBUNA DO NORTE para um agradável bate-papo.

Bate-bola  / Afonsinho

O que te levou a começar essa luta contra o passe preso  dos jogadores aos clubes?
Eu tive alguns problemas com a diretoria do Botafogo e vi que era o momento de deixar o clube, mas justamente porque o meu passe era preso ao Botafogo, comecei minha batalha junto a Justiça Desportiva para conseguir ser dono do meu próprio passe, feito que consegui em 1971.

Você guarda alguma mágoa por nunca ter jogado pela Seleção?
 Em 1970, realmente acredito que não havia espaço para mim naquele time de craques. Mas depois disso, os técnicos tinham ligação direta com os militares do regime que deixaram claro que não me queriam jogando pela seleção brasileira.

O que te trouxe a Natal?
A carreira de jogador lhe dá a oportunidade de fazer amigos em todas as partes do Mundo e em Natal não foi diferente. Fiz alguns jogos no Machadão, em competições nacionais e sempre que posso eu procuro voltar. Adoro essa cidade.

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