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Agosto

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Vicente Serejo
Não carrego entre as desconfianças da alma o medo de agosto, mas não foi por falta de vê-lo a vida inteira nos olhos silenciosos de minha mãe, quando seus dias começavam. Com os anos, fui convivendo com seus ventos que algumas tardes mais cinzas parecem aziagos, talvez tangidos pelas horas do crepúsculo quando o dia vai morrendo nos longes do mundo. Vem da tradição supersticiosa do homem ferido por coincidências que lhe marcam as tristes notícias.
Câmara Cascudo era supersticioso. É tanto que não esqueceu o verbete ‘Agosto’ no seu ‘Dicionário do Folclore Brasileiro’. Foi a autores de longe e de perto e convocou a palavra do amigo Leonardo Mota, com quem convivera no tempo de estudante, em Recife. Anos depois, a editora Cátedra convidaria Cascudo a prefaciar a primeira edição nacional, após a morte do amigo ‘Leota’. E Cascudo escreveu um belo e definitivo prefácio sobre os cantadores de viola.   
Ouvi do próprio Cascudo que não saía de casa sem antes banhar a cabeça com lavanda de Alfazema e levava, no bolso esquerdo da calça, o terço que pertencera ao padre João Maria, aquele que D. Dhália entrelaçou nas suas mãos já sem vida. Ninguém estudou melhor o homem na sua normalidade. Nunca perdeu tempo em tentar entender as coisas excepcionais. Queria ter no olho o homem comum, que vive, dorme, trabalha, sente fome, coragem e medo, ama e odeia. 
Está ai, e afirmo sem as credenciais austeras do saber, por não tê-las, que essa é a grande contribuição de Cascudo: ter observado com olhos eruditos o homem brasileiro para que não passasse sem ser visto nas suas universalidades e singularidades únicas. E resumiu com muita perfeição quando, numa frase simples, escreveu que queria desde cedo saber o significado de todas as coisas. Do imaginário entre Deus e o Diabo, posto que ai reside o homem por inteiro.
Leitor do ‘Folclore Pernambucano’, de Pereira da Costa – pediu ao então governador Eraldo Gueiros, de Pernambuco, através de Mauro Motta, uma segunda edição, depois de um século desaparecido de tão raro – é lá que cita o documento da tradição oral que faz de agosto o mês do desgosto. Evitado, desde sempre, há quem até não viaje, não case, não faça cirurgia, se é agosto. Na madrugada anunciando agosto, em 1914, estourou a Primeira Guerra Mundial. 
Quanto a esses ventos de agora, são largos e frios, como se viessem do mar. Chegaram nos últimos dias de julho num galope sobre nuvens espessas. Há sempre uma chuva fina que banha as manhãs quando nascem. Depois, os ventos dissipam o cinzento e um sol preguiçoso, lavado da chuva, vai se aninhando sem o vigor de quando o verão chegar. E noto que em agosto – ora, pra que negar? – as tardes são antigas. E fagueiras. Como nos velhos sonetos parnasianos. 
ZEBRA – Vem sendo vista como uma perda para o deputado Hermano Morais a nomeação de Cláudio Porpino para secretário de esportes da Prefeitura de Natal, ato do prefeito Álvaro Dias 
RAZÃO – Hermano é do PSB, o mesmo partido de Porpino, é candidato firme a prefeito, e tem confirmado sua candidatura. Símbolo do wilmismo, Porpino agora faz parte do time de Álvaro.   
AGENDA – A Assembleia Legislativa tem data oficial para o retorno: 18 de agosto. Mas pode prolongar. E voltar às sessões presencias é incendiar o debate sobre a reforma previdenciária.
SURDO – Até lá, assegura uma fonte da oposição, permanece o jogo surdo entre governistas e oposicionistas. Aqueles, apostam na força do governo; estes, na coesão da resistência. É a luta.   
COMO? – Os imortais vivem um impasse regimental: como declarar vagas as quatro cadeiras com o falecimento dos ocupantes, sem a sessão de homenagem como determina a sua tradição? 
PERDAS – O RN perde aos poucos seus protagonismos. Chegou a presidir a Confederação do Comércio, a Confederação da Indústria e o Senado. Hoje é um estado órfão de força e prestígio.  
VÍRUS – Foi o vírus do provincianismo medíocre que terminou assumindo os destinos de um Estado que hoje, amesquinhado e anônimo, anda de cuia na mão, mesmo tendo dois ministros. 
PIOR – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, sobre o zoológico humano sempre com seu pelo eriçado: “De todo mostruário da fauna humana o pior fenótipo é o cão de guarda”. 
AVISO – Ao superintendente ou coisa que o valha da Caixa Econômica Federal no RN, apenas um registro. Cliente da CEF desde 1978, portanto, há 42 anos, fui cerceado duas vezes ao tentar entrar na sede do Posto do Campus, UFRN, impedido por uma ordem da gerência, segundo foi transmitido por um dos seus vigilantes. Embora lá estivesse operando um caixa e quatro clientes na sala de espera das chamadas eletrônicas. Ao contrário da semana anterior, fui estranhamente impedido, sob a alegação de que o saque só seria feito via caixa eletrônico. Não tenho a ilusão, nem cometeria a tolice de esperar solução. Sei, o corporativismo é o câncer do serviço público. Sequer tive garantido, na condição de cliente, e professor aposentado, o direito inalienável de ir à gerência numa instituição que é pública e publicamente mantida. No passado, esta coluna protestou contra a ameaça de privatização na defesa do inegável papel social da CEF. Ainda há testemunhas ativas da minha posição. Mas agora, já não teria a certeza de tal convicção. (VS)    
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