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“Ainda faltam os times do Nordeste”

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Felipe Gurgel – repórter de Esportes

Fazendo parte da comissão técnica da Seleção Brasileira de Futsal desde 2005, primeiro como auxiliar-técnico, e agora como treinador, Marcos Sorato esteve em Natal para participar de um projeto elaborado pela Secretaria Estadual de Esporte e Lazer que tinha como objetivo trazer grandes nomes do esporte brasileiro para passar um pouco das suas experiências aos profissionais do esporte no Rio Grande do Norte. Entre uma palestra e outra, Sorato recebeu a equipe da TRIBUNA DO NORTE para contar um pouco sobre seu trabalho realizado à frente da Seleção, a troca de experiências com os treinadores e desportistas do Estado, o trato com Falcão e a necessidade do Poder Público em investir no esporte, como ferramenta de transformação social.

Como está o Futsal no Brasil?

O esporte vem crescendo no país, não só em relação aos números de praticantes, como também a quantidade de times na Liga. Temos 21 equipes na competição, mas ainda faltam os times da região Nordeste, que é um grande celeiro de jogadores. O futsal tem uma gestão própria, com patrocínio próprio, estádios lotados, em todo canto que a Seleção vá jogar. O que falta é o esporte se tornar olímpico. Mas, tenho certeza que, no Brasil, o futsal é modelo de gestão.

E o que falta para o futsal se tornar uma modalidade olímpica?

Apenas vontade política. O esporte tem todos os pré-requisitos para fazer parte das Olimpíadas. É praticando em 160, 170 países, tem tanto no masculino, quanto no feminino, tem regras unificadas, enfim. Como esporte, ele é atrativo, então, o que falta mesmo é vontade política dos organizadores dos Jogos Olímpicos. O futsal não deixa nada a desejar as outras modalidades que são disputadas nas Olimpíadas.

O futsal, assim como o futebol, revela vários jogadores. O trabalho nas bases é bem feito para que o esporte possa, cada vez mais, se desenvolver?

Como eu falei, o Brasil é modelo, mesmo faltando estrutura, apesar de faltar condições para esses profissionais, ele ainda é moderno, para o resto do país, e por isso faz a diferença. Se formos analisar, o futsal é o grande celeiro do futebol. Robinho, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, todos eles começaram no futsal. A habilidade deles provém daí, do esporte de quadra. Enquanto os outros países não descobrirem isso, o Brasil vai continuar sendo tecnicamente superior aos demais.

Qual o motivo dessa troca, do futsal, pelo futebol? A parte financeira pesa?

Com certeza. A mídia, a questão financeira, enfim, vários fatores contribuem. O futebol de campo é o esporte rei no Brasil. Mas, sempre que os craques do futebol dão entrevistas, eles valorizam a importância que o futsal teve na sua formação. E isso para nós, que trabalhamos no esporte, é importante. Vai continuar existindo jogadores de futebol, que começaram no futsal. Como vai continuar existindo aqueles que acabam decidindo em continuar no futsal. Então, para nós, o importante é isso, eles reconhecerem que o futsal foi importante na formação deles, como atletas e jogadores habilidosos.

Existe a possibilidade de o futsal impedir que os jogadores migrem para o futebol?

É difícil. Ainda não temos Estrutura financeira para que isso aconteça. Temos algumas exceções, como o Falcão, o Lenísio, alguns jogadores que atuam na Europa, mas, ainda estamos longe, muito longe, financeiramente, do futebol. Mas, aquele que acaba ficando, é motivado pelo prazer. Apesar de serem esportes similares, existem muitas diferenças.  Aqueles que gostam mesmo do jogo, acabam ficando no futsal.

O futsal do Brasil perde jogadores não só para o futebol, como também para os países europeus. Tem como evitar esse êxodo?

A Itália está levando cada vez mais meninos, e isso é um problema. Eles acham que os garotos estão formando, quando na verdade não estão. Chegam lá e não encontram um trabalho de qualidade, como os treinadores daqui e hoje estamos perdendo muitos jogadores para o mercado Russo. A Rússia é a grande vilã no momento. A Espanha está passando por uma crise, mas, mesmo assim, detém grandes jogadores, nos principais clubes de lá, mas, o mercado russo está cada vez maior. Essa semana foram dois meninos para o Catar, o Japão está levando. Enfim, o brasileiro, pela sua qualidade, sempre é bem visto em qualquer lugar que vá.

A CBF criou leis para evitar que os jogadores saíssem muito novos do Brasil. A Confederação de Futsal tem alguma lei que impeça essa saída tão precoce?

Infelizmente não tem como segurar. O que existe, é um movimento para limitar esses brasileiros que defendem outras nações. A final da Copa Europa, que teve o Azerbaijão, o time deles, tinha cinco brasileiros como titular e isso acaba denegrindo a imagem da competição. Isso não pode acontecer isso não é esporte. Estamos lutando contra isso. Se o garoto for jovem para um determinado país, se forma culturalmente naquela nação, aí sim, ele pode defender aquela seleção. Mas, aqueles que vão jogar fora do Brasil, e com dois meses já são naturalizados, isso é enganar o torcedor e impedir que o esporte se desenvolva naquele país, já que eles, os presidentes de Confederações, acham mais viável naturalizar jogadores prontos, do que investir na formação de atletas do seu país.

Essa troca de informações com profissionais do Futsal de outras regiões do país é positiva?

É válida demais. Primeiro, estamos mostrando como é desenvolvido nosso trabalho na seleção brasileira, mostrando um pouco das categorias de base, mesmo não sendo um especialista e também, estou aprendendo muito com eles. Então, é totalmente válido. A partir do momento em que estamos falando de futsal, em qualquer lugar do Brasil e do mundo, estamos proporcionando que o esporte cresça. E isso é o mais importante para a nossa modalidade.

Como está a preparação da Seleção para os compromissos deste segundo semestre. Tem dois amistosos marcados contra a Argentina, no final de agosto, não é verdade?

Vamos nos apresentar quarta-feira que vem em Manaus, apenas com jogadores que atuam no Brasil e em seguida nos juntamos com os outros atletas, que jogam no exterior, na Romênia. Depois, vamos realizar alguns treinamentos para definir os 12 convocados que vão representar o Brasil no Grand Prix, no final do ano. Vamos participar de um mini-mundial, com Argentina, Rússia Itália, Brasil e Portugal e depois disso, vamos definir quem vai participar do Grand Prix.

É complicado comandar uma Seleção Brasileira, com tantos títulos na história?

É difícil e ao mesmo tempo fácil. A pressão em busca dos títulos, dos resultados, sempre vai existir. Mas, o trato com os jogadores, vai tornando as coisas mais fáceis. Temos que assumir as responsabilidades e sabendo que, com o apoio dos jogadores, tudo fica menos difícil. Não podemos, em momento algum, fugir de nossas responsabilidades.

Trabalhar com jogadores do nível do Falcão, do Lenísio, simplifica ou complica as coisas?

É fácil. Qualquer atleta que é convocado, e nisso o Falcão está incluso, já tem uma linha de comando marcada. Todo mundo quer estar na Seleção. Se olharmos hoje, temos cerca de 40 atletas que são convocados constantemente. Para a posição do Falcão, por exemplo, temos cerca de 4, 5 jogadores querendo a vaga. Se ele não estiver bem, vai vir o outro, e assim, sucessivamente. Então, por todos os leques de opções que um treinador do Brasil tem, fica fácil trabalhar na Seleção.

Como se dá a renovação na Seleção de Futsal?

Tento, em cada convocação, sempre levar, de 12, oito atletas com idade para disputar o Mundial, em 2013, juntando com os experientes, já que eles ajudam nessa transição, nessa filosofia que é implantada na Seleção. A renovação é gradual, mas, todos sabem que a experiência ainda é fundamental.

O futsal é um esporte muito praticado nas escolas do Brasil. Essa é a verdadeira base do esporte?

É aí que começa tudo. Todo mundo começa jogando no pátio do colégio, para chegar quem sabe um dia, a defender a Seleção Brasileira. A escola é a base. É aqui que precisamos de treinadores preparados. E saber também, que é importante formar o atleta como cidadão e talvez, lá na frente, como jogador. Mas, o mais importante  é que eles precisam ter disciplina, aí sim, mais na frente, eles vão poder crescer como atletas ou em qualquer setor da vida.

O Brasil vai ser sede da Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016. Chegou a hora do Poder Público investir no esporte?

Existem empresas que patrocinam times de futebol que nem impostos pagam e deixa de patrocinar atletas, como o Diego Hipólito, enfim, que levam o nome do Brasil mundo afora. Então, a gente espera que o Governo comece a olhar para esse lado e invista nesse pessoal. Não nos atletas que já são consagrados e sim nos que trabalham duram, que invista na estrutura. Às vezes, vamos fazer treinamentos nas cidades, dar palestras, e os clubes e times só possuem uma bola de futsal para 12 atletas. Essas coisas básicas são fundamentais e a gente espera que o Governo, ao apoiar e não fica só mostrando o que é o bonito, na mídia, mas, que vá lá embaixo, nas bases, para ajudar os verdadeiros trabalhadores.

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