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Ajustar as velas para 2021

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Flávio Rocha
Empresário e presidente da Riachuelo
Ganhou grande destaque na imprensa a recente declaração do presidente Jair Bolsonaro de que o Brasil estaria quebrado. As palavras de um presidente, qualquer presidente, sempre têm peso proporcional ao cargo que ele ocupa. É compreensível, portanto, a repercussão. 
Desconfio, no entanto, que a afirmação do chefe do Executivo está mais para desabafo do que para reflexão. Porque evidentemente – como sabem empresários, economistas, trabalhadores e o próprio Bolsonaro – o país não está quebrado. Enfrenta dificuldades, sim – algumas pontuais, outras estruturais – mas está longe de estar na lona.
As projeções indicam alta de cerca de 4% do Produto Interno Bruto para este ano. Se concretizado, o resultado estaria em linha com o desempenho médio da economia mundial. Não se trata de uma expectativa irrealista, até porque viria depois de um ano de recessão que encerrou o que alguns economistas estão chamando de nova década perdida. Uma expansão dessa magnitude não chega a repor integralmente as perdas passadas recentes em termos de atividade econômica, mas também não é desprezível.
O comércio exterior deverá brilhar, com US$ 60 bilhões de superávit, 33% maior que o do ano passado – um recorde. Puxadas pelas commodities, as exportações deverão aumentar mais de 13% (para US$ 237 bilhões), enquanto as importações subiriam pouco mais de 7% (para US$ 168 bilhões).
O comportamento do varejo também é promissor. Entidades do setor preveem para 2021 alta de mais de 4%, praticamente o dobro do registrado no ano passado, quando o setor foi impulsionado pela liberação do auxílio emergencial para mitigar os efeitos da pandemia. Neste ano, não está prevista a retomada a ajuda do governo, mas os consumidores, embora cautelosos, devem aos poucos voltar às compras. Nesse caso, o setor sentiria o efeito de uma demanda represada pela situação de distanciamento social.
Além disso, o ambiente econômico continuará se beneficiando das taxas de juros, que se encontram em patamares historicamente baixos. Trata-se de um estímulo não só ao consumo, sobretudo aquele que depende de financiamentos, mas também aos investimentos. Afinal, grande parte dos recursos para a construção e ampliação de fábricas e lojas tem origem em empréstimos bancários, que estão mais baratos do que os de alguns anos atrás. Os juros têm ainda importância decisiva sobre a dívida pública. Sem surpresa, o governo reduziu a previsão do endividamento no ano passado, de 93,3% para 91% do PIB.  Neste ano, deve ficar praticamente no mesmo nível (91,7%).
É claro que há muitas incógnitas. O ano está só começando, e não se sabe o que acontecerá com variáveis importantes. A pandemia infelizmente ainda não acabou, e teme-se que uma aceleração de casos e óbitos esteja no horizonte, resultado do relaxamento das medidas de confinamento durante as festas de fim de ano. A vacina é uma questão de “quando”, não de “se”. É um avanço que concretiza a esperança nascida há quase um ano, com o início da pandemia do coronavírus. Ainda assim, não se sabe com certeza em que momento teremos a chamada imunização de rebanho, condição para destravar de vez a economia. 
Na política, temos pela frente uma acirrada disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, que definirá o futuro das reformas estruturais que ainda não fizemos. A eleição de um nome da situação certamente ajudará a encaminhar propostas da equipe do Ministério da Economia, no sentido de liberalizar a economia, desburocratizar o país, promover a competitividade de nossas empresas. 
Por fim, mas não menos importante, há de se acompanhar o desenrolar dos acontecimentos nos Estados Unidos, nosso segundo maior parceiro comercial, depois da China.
A invasão do Congresso americano por apoiadores do presidente Donald Trump, acendeu um alerta sobre a tradicional estabilidade política do país que é, com justiça, considerado um paradigma da democracia contemporânea. Tudo indica que, depois da alta tensão dos eventos de 6 de janeiro, a maior potência ocidental terá uma transmissão de poder pacífica. Mas o germe da polarização e do radicalismo está no ar e não se pode descartar desdobramentos com consequências econômicas adversas.
Diante desse cenário, cada um de nós – empreendedores e trabalhadores – deve se planejar com realismo. Como diz um antigo ditado chinês, enquanto os pessimistas reclamam do vento e os otimistas esperam que sua direção os ajude, os realistas ajustam as velas.
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