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“Ala Ursa” salva a folia no Seridó

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TRADIÇÃO - Pelo 19º ano consecutivo, o “Bloco do Magão” desfilou em Pirangi

“Moisés” comanda a banda. Depois dele, seguindo-o, vêm “Lampião”, “Gilson da farmácia”, “Zé Dantas da sucata”, “Ivoncísio do TRE” e outros bonecos. Um pouco mais atrás, algumas dezenas de “Cãos” e papangus, monstros, “burrinhas de padre”, gente fantasiada, o povo do “mela-mela”, foliões, enfim. Olinda? Que nada. Seridó, Rio Grande do Norte. Mais especificamente Caicó –  praça Dinarte Mariz –  avenida Seridó: domingo de carnaval. Folia garantida.

É lá que tradicionalmente e oficialmente há 19 e 16 anos, respectivamente, com ou sem chuva, a folia se mantém graças ao “Ala Ursa do Poço de Santana”, também conhecido como o “bloco do Magão”. A diferença entre o tradicional e o oficial? Tem explicação. Fantasiado de Moisés (ou seria Maomé?), o Magão (Ronaldo Batista Sales, 47 anos, instrutor de artesanato) esclarece que quando o bloco começou, em 1987, não era levado a sério nem mesmo por ele.

Três anos depois – daí contar só 16 – Magão pôs na cabeça que faria do bloco uma referência no carnaval de rua de Caicó. E fez. Hoje, quem quer curtir o carnaval no Seridó sabe que a Ala Ursa não falha: sai no sábado, no domingo na segunda e na terça-feira de Carnaval. Dia 26 passado, o Ala Ursa foi à rua novamente, confirmando a tradição. Por volta das 16h30, em meio à correria para aprontar os 10 bonecos de 10 metros que compõem o bloco, Magão explicou que a cada ano fica mais difícil e melhor de dar sua contribuição ao carnaval de rua de Caicó.

Pior porque falta apoio. “Só quem gosta de cultura é doido e pobre”, esculacha, referindo-se ao fato de que muitas pessoas dizem gostar de cultura mas não fazem nada para promovê-la. Melhor porque cada carnaval é uma superação. São cerca de 100 pessoas que trabalham de graça ou dão pequenas contribuições para ajudar a botar o “bloco do Magão” na avenida e, com isso, impedir que o carnaval de rua morra (como já ocorreu em muitos outros municípios). Gente como o aposentado Manoel Amaro, 69 anos, o “Buru”, (figura folclórica); e a costureira Madeleine Dantas de Araújo, 43 anos.

O primeiro é – como diz Magão – sócio fundador e afirma que sem o Ala Ursa o carnaval no Seridó não prestaria. Já ela, é a estilista pessoal do Magão, quem costura suas fantasias. “Enquanto ele me quiser por aqui, eu fico. É uma forma de pôr meu juízo no lugar”. E se está tão difícil, por que continuam? Nessa hora, o Magão pára, retoma a palavra e responde convicto: “Por amor ao carnaval, pela cachaça e pela alegria”. E a seca, piora muito a situação? Segundo ele, sim. Nos anos chuvosos, como em 2004, o número de participantes foi bem maior que este ano, até agora seco. “Quando chove, é tudo mais fácil. Caicó depende da chuva”. E sai correndo porque já está na hora do bloco passar.

Magão tem outros blocos além do Ala Ursa

O Ala Ursa do Poço de Santana não é o único bloco de rua comandado por Magão. Há também o “Psifolia”, o “Camburão” e “as Virgens”. O destaque feito por Ronaldo Sales é com relação ao primeiro.  Segundo ele, esse bloco é único, sai com 2.500 pessoas na quinta-feira anterior ao carnaval e dele só participa quem possui com algum distúrbio mental (nem todos tomam remédio). “É o único do Brasil”.

No Psifolia, ninguém bebe. É a oportunidade que muitos têm de esquecer seus temores e curtir um carnaval como todos têm direito.  Para lembrar: criar esses blocos foi a maneira que Magão achou para preservar o que ele define como o verdadeiro carnaval de rua. O nome dado ao Ala Ursa é uma homenagem ao poço que deu origem a Caicó. O bloco tem orquestra que só executa marchinhas e frevos. É isso. No domingo de carnaval, em Caicó, atrás do Ala Ursa, só não vai quem já morreu.

Festa baiana lidera carnaval no Oeste

Axé, axé, axé. Funk, funk. Vez por outra um frevo, um forró em  ritmo acelerado e uma marchinha para agitar a galera. Foi assim o carnaval  nas cidades do Oeste, onde os mais jovens se reuniam em pequenos grupos,  fantasiados à moda Carnatal; os foliões de meia idade relembravam os grandes  bailes carnavalescos em Campo Grande com orquestra de sopro, e os mais  velhos olhavam para o céu riscado por muitos relâmpagos, mas por pouca chuva.

E olha que este ano duas marchinhas tinham tudo para emplacar. A primeira  era o “Bloco do Mensalão” em que Dosinho, 78, tripudia da turma  denunciada por Roberto Jefferson. Diz o refrão: “Toma lá o seu/Me dá cá o  meu/Vamos ‘rachar’ direito para não dar confusão.” E mais na frente: “Se me  chamarem lá na CPMI/Eu não tô nem aí/Eu não tô nem aí.”

Na outra marchinha, Dosinho tira um sarro em Marco Valério e no assessor do  irmão do deputado José Genuíno, preso no aeroporto com 200 mil dólares na  cueca. “Quero que me explique seu careca/O que vai fazer com tantos dólares  na cueca.”
As emissoras da Rede Potiguar de Comunicação (RPC), do ex-deputado Carlos  Augusto Rosado, aqui, acolá tocavam uma música chamada “Um Matuto no  Carnaval”, estilo Samarica Parteira, de Luiz Gonzaga.

A música é o relato  de um matuto convidado para uma moderna festa carnavalesca. O personagem dá  uma tungada na loló daquelas em que o coração parece querer sair pela boca. O mundo ainda está girando pra ele quando aparece uma foliona cantando “um  tapinha não dói.” O matuto mete-lhe a mão no pé do ouvido e termina na delegacia sem saber o por quê da prisão. As emissoras de rádio da região traziam notícias de um  carnaval tranqüilo. Os delegados e soldados de polícia entrevistados ao  vivo, repetiam a mesma ladainha: “Só prisão corriqueira, por embriaguês.”

Em Campo Grande nem carnaval havia. Os foliões de lá saíam todas as noites em  carreata para Upanema e Caraúbas.  Caraúbas foi o município escolhido por um grupo de jovens de Olho D’água dos  Borges, Lucrécia, Patu, além de Campo Grande e Janduís.

Barragens têm pouco movimento

Nos anos secos, não é todo o Seridó que consegue manter a animação verificada em Caicó, no bloco Ala Ursa do Poço de Santana. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE visitou, domingo passado, outros três municípios para ver como estava a festa. O referencial de comparação foi o ano de 2004, quando os principais reservatórios da região estavam sangrando; a visitação às cidades chamou a atenção; e o reinado de Momo ficou conhecido como o “Carnaval das águas”.

A primeira cidade visitada foi Acari, a 201 quilômetros de Natal, onde fica localizado o açude Gargalheiras. Em 2004, o tráfego de carros na área da barragem foi proibido. Domingo passado, dava para contar os veículos estacionados no local: quatro (contando com o da TN). Na Pousada do Gargalheiras, principal ponto de hospedagem, a ocupação foi máxima, como é comum. Mas nada da procura intensa que houve em 2004. O atendente Celso Medeiros, 50 anos, confirma: “O movimento só é forte mesmo quando chove”.
Em Parelhas, a 232 quilômetros de Natal, também deu para ver que o carnaval seco nem se compara ao outro, o de 2004. Naquele ano, andar na parede do Boqueirão, reservatório que fica na cidade, era difícil tamanho o número de visitantes que foi ver o açude sangrar. Domingo passado, a parede contava pouca companhia. Na área do açude, o domingo não parecia aquele domingo de carnaval que as águas levaram.

Por lá, ânimo mesmo só se viu durante a decolagem de helicóptero que estava aterrissado próximo ao açude. A aeronave foi locada pelo empresário paraibano Roberto Carlos Cavalcanti, 44 anos. “Me conhecem mais como ‘Lamparina’”, informa. Como tem amigos em Parelhas e em Jardim do Seridó, Lamparina resolveu alugar o helicóptero com piloto e tudo; chamou os filhos, Jefferson (16) e Thales (19); e resolveu dar um “pulinho” nas cidades. Na opinião dele também, o carnaval na região é mais animado quando chove. A aeronave foi locada à empresa Helisae e tem um custo de R$ 2.400,00 (hora). O piloto é incluso, o que deixa o locatário livre para beber sem se preocupar com nada. No máximo, um enjôo.

Além de Acari e Parelhas, seguindo informações dadas durante a viagem, a equipe da TN visitou também Jardim do Seridó, onde funciona o “Mangueiral”, uma casa de shows que promoveu uma festa no domingo de carnaval. Outro local visitado foi o clube Itans, em Caicó, onde há dois anos não havia lugar para estacionar. Domingo passado, sobrava espaço e o movimento era tão fraco que se cogitava acabar com a cobrança de ingresso. Apesar de não ser verificado muita folia durante o dia nas cidades do Seridó, em todas havia informações que durante a noite haveria alguma festa para a população.

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