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Alarme falso

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Alcyr Veras – Economista e professor universitário

Especialistas ligados ao mercado financeiro estão considerando a desvalorização do real, em relação ao dólar, ocorrida nas últimas semanas, um fato acentuadamente negativo.  Dizem isso baseados em estudo da LCA Consultores, segundo a qual em um grupo de 21 países selecionados, o Brasil figura como a maior segunda desvalorização de sua moeda, perdendo apenas para a Turquia. Não sei se essa avaliação prevalece nos demais segmentos da economia.

Esse tipo de comparação, em geral, não exprime com exatidão o que, efetivamente, está ocorrendo.  Existe uma série de fatores contextuais que podem mascarar as informações e contribuir para tirar conclusões precipitadas. O que vale para a parte nem sempre vale para o todo.  Para cada ângulo de observação, o elefante apresenta um perfil diferente.

Na verdade, na ciência econômica, sempre houve divergências de concepções, desde os postulados doutrinários até as formulações políticas e estratégicas.  Não, simplesmente, o fato   de divergir por divergir, nem alimentar polêmicas por razões emocionais, mas o debate consciente, alicerçado em bases construtivas. Como exemplo, podemos citar a extraordinária e a mais valiosa contribuição para a nova ciência econômica dada por John Maynard Keynes, considerado o maior economista do século XX.  Sua contribuição foi de suma importância numa época em que os Estados Unidos enfrentavam  uma de suas maiores crises, a grande depressão econômica de 1929.  As ortodoxas e livres forças de mercado fracassaram e a superprodução não teve como escoar, congestionando os portos de embarque americanos.  Para ele, estava extinta a crença no pragmatismo do Laissez-Faire, no qual uma “mão invisível” regularia automaticamente o equilíbrio de  mercado entre a oferta e a procura.  Essa discussão, porém, apesar de antiga, até hoje persiste. Keynes demonstrou a ineficácia do equilíbrio monetário, bem como  da política não intervencionista e provou o papel inovador do Estado, através do investimento público e privado, como fator de geração de emprego e renda.

No caso do Brasil, a recente desvalorização do real e a queda das bolsas de valores, não significam, necessariamente, crise no mercado financeiro.  As oscilações econômicas, dentro de limites razoáveis, são previstas, não havendo, portanto, motivos para alarme ou desespero. Sabe-se, por outro lado, que por trás de tudo isso existe a especulação financeira, interessada em tirar proveito próprio de uma situação momentaneamente desfavorável.

Não se pode também desconhecer que os países emergentes, como o Brasil, gravitam em torno dos Estados Unidos e qualquer ajuste na economia norte-americana repercute, quase sempre, negativamente no desempenho econômico desses países.  O impacto sentido agora se explica devido às taxas de juros, relativamente baixas, que ocorreram na economia mundial no período de 2002 a 2005, o que fez com que os países emergentes aumentassem suas exportações e suas reservas cambiais.

É claro que o Brasil não está totalmente blindado aos terremotos e furacões da conjuntura econômica internacional.

Hoje, a economia brasileira encontra-se apoiada em bases mais sólidas e caminha com suas próprias pernas.  Há ainda, no entanto, muitos quilômetros de estrada a percorrer.  Mas, está menos vulnerável.  Deve-se a isso, sobretudo, à implantação de algumas medidas de ajustes na política econômica, tomadas ao longo dos últimos 15 anos,  por diferentes governos, cujos frutos estão sendo colhidos agora.  Isso, não quer dizer que o governo Lula não tenha seus méritos, pois graças a ele a política econômica brasileira está consolidando sua estabilidade. É ingênuo supor que a recuperação econômica de um país aconteça, milagrosamente, durante um mandato eletivo de quatro anos.

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