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Alberto Da Cunha Melo, ‘Poesia completa’ (2017, Record, 900 p.)

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Triste caso de não reconhecimento, os versos do pernambucano Alberto da Cunha Melo são dos mais inventivos dentro da miríade chamada poesia contemporânea, editando obras entre a década de 1960 e o novo milênio (alguma delas por sua editora independente, as Edições Pirata). Eis aqui sua poesia completa – incluindo a indefectível parte de inéditos – e na qual a leitura pode se dar a partir de qualquer uma das obras (passa de uma dezena) até 2006, perto da morte dele em 2007.

A lírica de Cunha Melo nasceu junto à “Geração 65”, nomeação que agrupou vários nomes de Pernambuco e cujos poetas exibem mais pluralismo que homogeneidade. No caso do autor de “Círculo cósmico”, obra de estreia em versos octassílabos, Cunha Melo já exibia ainda bem jovem uma verve lírica entre o íntimo e o social, incluindo os proféticos “O televisor” e “Salvar de longe” (Vamos discar no telefone/um número qualquer do mundo/e desejar felicidade:/mas bem de longe, bem de longe).

Se quiser começar por algum dos 140 poemas do bravo “Noticiário” (1979), obra agrupando social e individual como poucos – o poema “Aos mestres, com desrespeito” é emblemático –, depois pode prossigir por “Carne de terceira” (as várias breves partes de “Dual” são marcantes) ou volte lá para 1969 com “Oração do poema”(sem liturgias aqui). E, enfim, note a injustiça feita pelo desconhecimento da verve lírica de Cunha Melo, que deve figurar no primeiro escalão da poesia nacional, sem dúvidas.

Rosanne Bezerra De Araújo, “Diagnóstico literário à luz das 6” (2017, EDUFRN, 154 p.)
Aos detratores da crítica literária que propagam que ela está supostamente “cansada” e que nada de “instigante” ou “novo” surge (como se a angústia pela novidade resolvesse este último caso), recentes estudos agrupando a Literatura e seus tentáculos emergem para provar o oposto. A Professora Rosanne Araújo (UFRN) aparece aqui trazendo sua leitura sobre o filósofo romeno Constantin Noica (1909-1987), relacionando o livro mais conhecido dele, “As seis doenças do espírito contemporâneo”, com obras canônicas da Literatura ocidental. Entre as vastas relações aqui expostas, todas como resultados do Pós-Doutorado de Rosanne na Universidade de Kent (Inglaterra), estão o irlandês Beckett na obra “Esperando Godot”, cujos personagens são cientes de suas falhas, mas ainda assim prosseguem suas vidas (a teoria de Noica aponta que eles sofrem de uma “recusa em possuir Determinações”, no dizer da estudiosa). Mereceram também atenção o russo Dostoievski – estudado a partir da visão de que os personagens dele são angustiados, perturbados e cuja carência do individual ficam evidentes – e o espanhol Cervantes e seu “Dom Quixote”. Tão interessante quanto os demais ficam as possíveis relações entre as narrativas do britânico Charles Dickens e do francês Balzac, focadas a partir da noção do filho pródigo, este sempre à procura de “um sentido que preencha as suas aspirações”, ainda de acordo com a autora. São vários diagnósticos e a Literatura só tem a ganhar com eles.

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