sexta-feira, 19 de abril, 2024
28.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Alerta nos quatro cantos do mundo

- Publicidade -

A temperatura do ar, oceanos, neve e gelo vem subindo. Onze dos últimos 12 anos estão entre os mais quentes desde 1850, quando a temperatura passou a ser medida. Em cem anos, a elevação foi de 0,74°C – num passo acelerado nos últimos 50 anos.

Não é pouco. Menos de 1°C foi suficiente para desequilibrar o sistema climático: Katrina, que arrasou Nova Orleans; Catarina, o primeiro furacão brasileiro; ondas de calor no Hemisfério Norte, levando milhares à morte; secas prolongadas na Ásia; monções enfraquecidas; noites mais quentes; pestes ampliando sua área de influência; plantas que entendem ser primavera no inverno e florescem. Todos os eventos foram influenciados, em algum grau, pelo aquecimento.

A elevação da temperatura trouxe também o degelo de lençóis glaciais e a redução da cobertura de neve. Com isso, o nível dos oceanos subiu 3,3 milímetros por ano entre 1993 e 2006. No século 20, a elevação foi de 0,17 metro.

Mesmo que a emissão dos gases-estufa pudesse ser controlada hoje, as alterações continuariam por centenas de anos. Isso porque o carbono tem um ciclo de permanência na atmosfera de cem anos.

O efeito é mais devastador do que o próprio Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) imaginava. O gelo diminuirá no Ártico e talvez na Antártida, alterará a salinidade da água e aumentará o volume de precipitações. A conjunção de fatores vai reordenar ventos e ondas. Haverá chuvas torrenciais, furacões mais agressivos, ondas de calor mais longas. Em alguns anos, o extremo será comum.

A questão é como e quanto a humanidade conseguirá minimizar os danos. Em cenários futuros, o grau de investimento em tecnologias limpas e redução de uso de combustíveis fósseis têm impacto direto no nível do problema. As projeções do IPCC se baseiam em seis modelos complexos, programas de computador alimentados com dados coletados por anos.

O IPCC realizado na semana passada em Paris, prevê que, até o fim do século, as temperaturas subam 0,2°C por década, mais do que nos anos passados. A melhor estimativa é de 1,8°C a 4°C até 2100, com 3°C a mais considerado provável. Os oceanos subirão entre 18 e 58 cm, ameaçando ilhas e cidades costeiras. Alguns especialistas dizem que o perigo é maior: elevação de até 1,4 metro no fim do século.

O IPCC prepara outros dois volumes deste mesmo relatório, um sobre adaptação e outro sobre mitigação, que serão lançados nos próximos meses. Até o fim do ano, quando ocorre a próxima conferência da ONU sobre clima, os países terão de apresentar propostas mais efetivas de controle do efeito estufa do que Kyoto. “O dia 2 de fevereiro de 2007 será lembrado como o dia em que o ponto de interrogação sobre a responsabilidade do homem foi removido”, disse o diretor do Programa da ONU para Meio Ambiente, Achim Steiner. “Quem ainda se arriscar na inatividade será considerado irresponsável nos livros de história.”

Assunto entra na pauta das empresas

Davos (AE) – O aquecimento global e o controle das emissões de gás carbônico deixaram de ser uma causa apenas dos ambientalistas, e tornaram-se uma das principais preocupações das grandes potências e das maiores empresas globais. Esta tendência ficou evidente no Fórum Econômico Global de 2007, em Davos, no qual o efeito estufa foi, junto com a retomada das negociações da rodada Doha, o principal tema. Um número recorde de 17 das cerca de 220 sessões do Fórum de Davos neste ano (realizado dos dia 24 a 29 de janeiro) foram dedicadas ao tema, explorando os mais diversos aspectos, como os mecanismos de mercado para controlar as emissões, os riscos para a segurança global, os aspectos jurídicos, etc.

Segundo Tony Blair, primeiro-ministro britânico, presente ao encontro, as nações devem buscar um acordo ainda mais radical que o protocolo de Kyoto (não assinado pelos Estados Unidos), quando este expirar em 2012. “Acho que estamos na iminência de uma grande virada”, disse Blair em Davos. Esta opinião refletiu a visão consensual no Fórum Econômico de que há boas chances de que o controle da emissão de gases do efeito estufa comece de fato a ser exercido em grande escala pelos principais poderes globais, seja no mundo político, seja no das empresas. Um debate importante em Davos sobre aquecimento global foi o de definir até que ponto este é um problema para ser resolvido pelos mercados, e até que ponto a solução depende dos governos.

Uma das preocupações óbvias num encontro dominado por capitalistas foi sobre o risco de regulações excessivas atrapalharem o crescimento das empresas e o desenvolvimento econômico. Mas a tendência geral foi a de considerar que os efeitos nocivos do aquecimento global são piores do que aquele risco. Jacques Aigran, principal executivo da Swiss Re, uma das maiores seguradoras do mundo, observou em Davos que os custos para controlar a mudança do clima são bem menores do que o custo das conseqüências, quando se faz um cálculo baseado nos níveis de risco. “Ficar esperando não é uma resposta válida, nenhum acionista toleraria uma atitude destas no mundo de negócios, por que as pessoas iriam tolerar isto da gente?”, questionou Aigran.

O sistema de mercado para controlar as emissões (“cap-and-trade”, em inglês) – no qual limites são criados por emissor, que podem vender direitos de poluição caso fiquem abaixo – foi visto como uma boa solução pela maioria dos participantes, mas talvez insuficiente diante da velocidade do aquecimento global. O sistema funcionou muito bem para reduzir as emissões de dióxido de enxofre, que causam chuva ácida, mas os mercados que já existem para a emissão de gás carbônico são muito inferiores ao que seria necessário para conter o efeito estufa.

Segundo o Fórum de Davos, os participantes do evento representam empresas com um faturamento total de US$ 10 trilhões, ou quase um quarto do PIB global. Desta forma, o potencial de influenciar a agenda de combate ao efeito estufa é grande. Uma pesquisa de opinião junto aos participantes mostrou que o número dos que consideram o aquecimento global uma prioridade para os líderes mundiais dobrou, de 9% para 20%, entre os encontros de 2006 e 2007.

Postura dos americanos surpreende fórum

Paris (AE) – Uma das grandes surpresas na divulgação do relatório do IPCC foi a postura assumida pelo governo dos Estados Unidos – país que não ratificou Kyoto, acordo internacional que estipula a redução nas emissões de gases-estufa, e um crítico das afirmações que os seres humanos são responsáveis pelo aquecimento do planeta.

Os representantes americanos não exerceram pressões sobre as estatísticas e terminologias adotadas no IPCC. Ao longo da semana, cientistas americanos expuseram suas informações sem serem contestados pelos emissários de George W. Bush. A situação contradisse o relatório da Union of Concerned Scientists (UCS), publicado nos EUA, cujo teor indicou que o trabalho de climatologistas americanos é alvo de pressões políticas. Uma pesquisa da entidade mostrou que mais de 45% dos cientistas americanos haviam dito saber de casos ou terem sido, eles próprios, objeto de pressões para expurgar de seus trabalhos termos como “aquecimento global”.

Por meio de seu porta-voz, o presidente George W. Bush elogiou o trabalho do IPCC, dizendo que “este é um estudo muito valioso, com conclusões muito significativas”. Uma exceção à essa postura foi a declaração do secretário de energia americano, Samuel Bodman. Ele tentou minimizar a responsabilidade dos EUA na questão dizendo que “o diálogo sobre a questão deve ser global”. Os EUA são o maior poluidor global, responsável por 25% das emissões de carbono.

A independência científica foi uma das razões de comemoração da Organização Meteorológica Mundial (WMO) e do Programa de Ambiental das Nações Unidas (Unep).

“Em algum momento leremos nos livros de história que o relatório impulsionou os políticos do mundo. Isso é motivo de esperanças”, disse ao Estado Achim Steiner, diretor-executivo da Unep.

Depoimentos colhidos pela reportagem na cerimônia de lançamento do estudo indicam que a interferência dos delegados governamentais – quatro por país, dentre 130 nações – ao longo do congresso, realizado a portas fechadas, produziu um impacto mínimo sobre o relatório final.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas