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Alexandre Gehlen: “Natal precisa investir em eventos”

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Para Alexandre Gehlen o que existe agora é a superofertaVinícius Albuquerque – Editor interino de Economia

O empresário gaúcho Alexandre Gehlen conheceu desde cedo como funcionava o mercado de hospedagem. Em 1985, sua avó montou em Gramado (RS) um hotel e, com apenas 13 anos, o menino descobriu o gosto pela hotelaria ajudando em funções de garçom e mensageiro durante as férias escolares. Aos 19 anos, ele seguiu um caminho diferente: foi estudar Engenharia Química, começou a trabalhar na White Martins – no polo petroquímico instalado em seu estado – mas percebeu que o gosto pelo trabalho com os hóspedes era o que inspirava seu dia a dia. “Abandonei o curso, fui fazer hotelaria, trabalhei no exterior, na Áustria, na Alemanha. Quando retornei, comecei a cuidar dos negócios da família”, conta. Mas foi em 1999, que Gehlen recebeu o convite para participar de um projeto maior: a cadeia de hotéis InterCity. Com o primeiro empreendimento construído em Gravataí, o negócio cresceu: no ano seguinte, Porto Alegre, e depois Caxias do Sul. A empresa atua hoje também como administradora de hotéis, flats e condomínios. Com um conceito de hotel focado no hóspede que viaja a trabalho (business) a InterCity se destaca por ser uma cadeia interligada virtualmente e com serviços de agilidade para empresários e outros profissionais que querem conforto e eficiência no atendimento. Natal, capital escolhida para ser a porta de entrada do grupo no Nordeste, ainda não atingiu o patamar desejado, como revela o Alexandre Gehlen. Mas os números já são motivo de comemoração.

Natal foi a cidade porta de entrada da rede de hotéis InterCity no Nordeste. Por que essa escolha?
Bom, por dois motivos. Primeiro porque nosso crescimento é baseado em tentar identificar onde os nossos clientes viajam. Então, por que colocar um hotel em Natal, com um turismo predominantemente de lazer, um pouco fora do nosso dia a dia? Como é um hotel de viagens de negócios, no caso business, nós identificamos e acatamos a possibilidade. Os nossos hotéis são preparados para receber o público que está viajando a trabalho, com internet de alta velocidade, com canais de TV, comunicação, prédios mais adequados para esse tipo. Mas é claro que chegando em janeiro aqui em Natal você vai encontrar muita gente de lazer, porque a cidade tem essa característica. Florianópolis, por exemplo, é interessante: de março a novembro o hotel tem muitos hóspedes a trabalho. Quando chega Natal e Ano Novo há uma inversão disso. Mas nosso foco não é buscar hotéis de lazer e resorts. Aceitamos o desafio de Natal por entender que é uma cidade alinhada com a nossa estratégia.

Mas Natal, como o senhor mesmo observou é uma cidade predominante de turismo de lazer. A resposta tem sido boa?
Predominantemente, de lazer com certeza, mas Natal também recebe muita gente a trabalho. Desde fornecedores a empresários. Hoje o principal volume de clientes do hotel vem da indústria. Se pegar a nossa carteira, é bem provável que aqui seja algo em torno de 60% negócios e 40% lazer. Talvez até um pouco mais de negócios.

A ocupação dos hotéis tem sido uma reclamação constante do setor. Sendo um hotel voltado para negócios, como está a ocupação do InterCity?
A gente se preocupou esse ano com Natal porque se nota que houve uma queda violenta. Isso aconteceu em função da saída dos voos charteres, dos estrangeiros. E acho que é um grande desafio para a cidade resgatar isso. Obviamente, não estamos imunes a esse problema por não tratar com esse público, mas a gente sente também. Agora, não estamos na mesma situação de hotéis resorts. É o caso dos hotéis da Via Costeira que recebem um  público que vem a lazer, que vem da Alemanha, Itália, Espanha. Nós não atingimos esse público. O mapa de ocupação do hotel fala muito por si só. Na sexta-feira, há um declínio muito grande porque o executivo, na quarta, quinta-feira zarpa de volta para casa. Ele ainda tem que passar na empresa, ele tem que ir pra casa, às vezes mora no interior de São Paulo ou do Rio Grande do Sul. Aqui (no hotel) de segunda a quarta-feira, para se conseguir um quarto é quase impossível. Terça e quarta, principalmente. É tanto que nos fins de semana a gente tem explorado parcerias com lazer, com empresas como a Destaque, justamente para movimentar essa queda que é muito grande.
#abre#”Quando houve o boom da crise, toda empresa que sentia que podia não mandar o executivo, não mandava. Ela antes tinha que deixar o empregado ficar quatro dias e dizia para resolver em três”#fecha#
Essa parceira para a realização de eventos e a proposta de hotel de business tem dado certo?
Natal é uma capital de sol, maravilhosa, linda. E a maioria, 95% talvez, das pessoas está focada no turismo de lazer. Mas, assim como existe em Florianópolis, Fortaleza, também existe em Natal um turismo de negócios e eventos. Natal talvez pudesse dar uma atenção especial a eventos. Porque o lazer, somente ele, é muito sazonal. E nós buscamos hotéis que o nosso público se identifique muito. Aqui em Natal temos feito muita parceria nessa questão de eventos. Foi uma ideia entrou aqui para ser um ponto de equilíbrio na hospedagem. Temos parceria com o Teatro Alberto Maranhão, por exemplo. Temos uma parceria também com o Maranello, que já fez um ano, hospedando todas as atrações que se apresentam lá. Inclusive os DJs internacionais que têm vindo.  Eles geram hospedagem para cá e ganhamos também em divulgação. O pessoal que vem de Recife para curtir a noite em Natal acaba ficando hospedado aqui. Estamos no Twitter do Maranello, em toda a mídia deles, que hoje contempla um banco de dados de mais de 15 mil pessoas. Então acaba gerando uma hospedagem através disso para esse equilíbrio de fim de semana. Os eventos maiores que acontecem na Via Costeira, tudo isso ecoa aqui: o Centro de Convenções, o Carnatal que sem dúvida é o maior evento do estado. No ano passado, tivemos parceria com a SimTV! para o evento.

Na sua opinião, o turismo de eventos seria a solução para uma cidade como Natal que vive hoje de turismo de lazer?
Ele é complementar. Não é que seria a solução. Eu sei que temos recebido aqui grandes eventos, mas não sei como está o Centro de Convenções, a atuação do Convention Bureau na cidade. Mas outras cidades já investem nisso: Fortaleza, que está concluindo seu espaço de eventos agora, Salvador tem seu Centro de Convenções. Então, os eventos podem complementar essa lacuna do turismo de lazer. O retorno dos charteres para a cidade pode ajudar também. Até porque aqui temos muitos investidores estrangeiros. Boa parte dos apartamentos do hotel teve o aporte desses investidores de fora, então isso acaba atraindo também os hóspedes que eles mesmos cuidam de direcionar para cá.

Fale um pouco dos números da rede InterCity.
De uma forma geral, o Brasil do primeiro semestre de 2008 para 2009, a situação se manteve estável. Isso aconteceu porque a taxa de ocupação caiu, mas as diárias subiram um pouco, então a receita por apartamentos se manteve. Significa dizer que não crescemos nada, mas também não perdemos. Isso em termos de Brasil. A rede InterCity fechou esse primeiro semestre com uma leve queda de 3% na ocupação. Algumas redes tiveram um pequeno acréscimo de 2%, outras também perderam 2%, 3%. De janeiro a agosto, estamos no zero a zero na média nacional. O tema crise desencadeou muito esse fenômeno. Quando houve o boom, toda empresa que sentia que podia não mandar o executivo, ela não mandava. Ela antes tinha que deixar o empregado ficar quatro dias e, com a crise, dizia para resolver em três. Agora, eles estão correndo atrás e estão buscando resultados, retomando negociações.

Então, mesmo para o turismo de negócios, houve uma retração?
Houve, mas isso já está sendo resgatado. Temos números para dizer que há uma recuperação. O que aconteceu também foi uma migração: quem viaja a trabalho saiu de uma hotelaria mais cara, para uma mais econômica. Elas deram um “downgrade” na categoria dos hotel. E no primeiro semestre a gente sentiu mais em algumas cidades que têm indústrias que estão mais focadas em exportação. Caixas do Sul, por exemplo, a ocupação caiu muito porque está muito centrada na atividade industrial. Agora Cuiabá, que tem agronegócios, só cresceu. Os números de Cuiabá estão 14% ou 15% do ano anterior. É a particularidade da região. Não é assim um filme de terror, a crise. Jundiaí, por exemplo, cresceu. Acho que Natal nesse contexto tem um espaço legal. É uma das cidades que estão crescendo. Eu já passei da minha fase de pessimismo. Para se ter uma ideia, nessa semana (início de outubro) estamos com todos os hoteis praticamente lotados. Temos alguns com 70%, 80%. E há outros com até 90% de ocupação. É um período em que o faturamento é cheio.

E Natal? Também está nesse patamar?
Não. Natal está um pouco abaixo, com uma leve queda.

E por que então essa situação negativa?
Talvez porque Natal não é tão pujante em negócios. Tem que equilibrar mais negócios e lazer. E é um fato que está ligado também às aeronaves, cai os voos, cai a ocupação. E Natal deveria brigar mais por mais companhias, mais voos.

Além de Natal, a rede está em quais outras cidades do Nordeste hoje?
Abrimos recentemente a administração de um flat em Fortaleza e agora em dezembro vamos abrir em João Pessoa. Nosso modelo de negócios é de uma administradora hoteleira. Nós administramos o patrimonio de terceiros. Então, nós temos aqui vários investidores.

O senhor percebe alguma diferença desses dois mercados nordestinos para o mercado natalense?
Acho que Natal tem um povo mais receptivo, mas existe uma diferença cultural, claro, de uma cidade para outra. Mas as pessoas que trabalham circulam muito e a gente acaba encontrando muita gente por aqui.

Vocês também trabalham aqui em Natal com flats. Como tem sido a resposta desse segmento?
O investidor desse prédio sabe que ele investiu em um patrimonio de beira de praia e que esse é um negócio como qualquer outro. Hoje, o mercado melhorou muito. Se você tivesse me feito essa pergunta há três anos eu te diria: olha, é complicado. A relação com o investidor que atua no ramo de hotelaria é difícil, porque superofertou na maioria das cidades. Mas o que aconteceu? Com o passar do tempo, o PIB crescendo a economia estabilizou, não tem mais novos hotéis na cidade, hoje temos investidores que estão ganhando 0,8% ao mês, por exemplo. E o prédio em Natal ainda não atingiu nível de cruzeiro, ainda estamos conquistando o mercado, ainda estamos crescendo aqui. Os investidores aqui sabem que têm um patrimonio muito bom, com perspectiva de melhora. Hoje Natal está operando com 56%, 58% de ocupação. Quando atingirmos 70%, aí vai estar todo mundo feliz. Hoje estamos felizes. Mas pode ser um pouco mais. Isso não é um mérito nem demérito, é mercado mesmo.

Diante do cenário atual, a crise acabou mesmo?
Olha a crise é pontual. Mas no nosso setor, a pior crise que pode haver é a crise da super oferta hoteleira. É uma crise que leva anos para se adequar. Natal é uma das únicas praças que está indicando que não precisa mais de apartamentos para a Copa do Mundo. O que quer dizer: temos muito apartamento no setor hoteleiro. O que se precisa agora? Trazer mais gente porque o que existe agora é a super oferta.

E o que falta? Iniciativa pública ou privada?
Acho que falta os dois.

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