A situação do nosso Plano Diretor em relação a opinião pública era muito semelhante a da Operação Lava Jato que passou cinco anos sem ninguém ter coragem de criticar o que vinha sendo feito em Curitiba. “Os fins justificarem os meios”, era uma posição aceita por todos, “no combate a corrupção”, até que apareceu o jornalista norte-americano Gleen Greenwald e o Intercept Brasil denunciando uma série de irregularidades praticadas, enlameando a biografia de alguns “heróis nacionais”.
Naquela oportunidade, em vez de se levantar pontos negativos do Plano Diretor para a opinião pública, a atuação foi direcionada para os votos dos Vereadores, mas não houve ninguém que tivesse topado mostrar os prejuízos que o Plano Diretor já estava trazendo para Natal. Esperava-se resolver o negócio na penumbra do legislativo, de preferência sem a necessidade de mostrar a cara.
E o Plano Diretor continuava acima da crítica dos mortais, passando incólume pelo escândalo até o encontro da última semana. – A “Operação Impacto” fortaleceu ainda mais o PDN que teve renovado seu status de inatacável, inatingível.
E a resposta do público ao novo discurso foi imediata; cada pancada era saudada por uma salva de palmas da quase totalidade dos presentes.
E isso terminou dando a diretriz das críticas formuladas por Álvaro: “O Plano Diretor está servido para impedir o desenvolvimento da cidade”. E começou a citar exemplos, de municípios vizinhos que construíram verdadeiros bairros, condomínios no seu território, sem as amarras do Plano Diretor de Natal. Sendo o mais marcante, o bairro de Nova Parnamirim.
São exemplos claros, sem maior sofisticação dos argumentos dos técnicos e acadêmicos que centralizavam os debates, porém muito distantes da percepção e do linguajar do homem comum.
Ai foi fácil escalar os dois times. Inclusive nominando quem é “contra o progresso” colocando num mesmo pacote, as intervenções do Ministério Público encampando causas que contrariam o ponto de vista da maioria em casos difíceis de se sustentarem, como o esforço para impedir a demolição das ruínas do Hotel dos Reis Magos, esta uma primeira batalha que vinha sendo ganha pelos defensores do progresso nos órgãos de comunicação.
O resumo desde encontro é de que o Plano Diretor está sendo apresentado como quem está impedindo o desenvolvimento de Natal que vem perdendo arrecadação, espaço e população tantos são os entraves que tem criado e que estão travando o desenvolvimento de Natal.
Ao longo desses 52 anos, a inibição criada para quem desejava criticar o Plano Diretor e ficou calado, pode ter levado esse descontente, para fugir do rótulo de reacionário, especulador imobiliário, sem qualquer compromisso com o destino da cidade, ter preferido o silêncio.
Isso porque, a discussão passou a ter um forte componente ideológico, quando o CONPLAM (Conselho de Planejamento Municipal) foi constituído, na sua quase totalidade por funcionários públicos e representantes da universidade que encontraram ai um espaço para misturar princípio ideológicos com alguns casos da cidade, enquanto o empresariado só foi acordar quando o problema já estava criado.
O Plano Diretor existe para orientar políticas públicas para o desenvolvimento urbano da cidade, mas terminou descendo a detalhes que foram se institucionalizando ao longo dos anos em que foi sendo tocado. Isso serviu para bancar absurdos, como no Morro de Mãe Luiza, único lugar do mundo, onde a Prefeitura não permite que se faça a anexação de terrenos, porque quando foi votado, nos anos ´80, o CONPLAM resolveu impedir que os pobres fossem expulsos de sua casas pelos especuladores.
Para o Prefeito, essa situação é consequência das restrições impostas pelo Plano Diretor que não permite a construção de edifícios.
E nesse embalo entrou a necessidade de demolição das ruínas do Hotel dos Reis Magos que, há 50 anos era a imagem do progresso da cidade, assim como o Plano Diretor, que chegou como um moderno instrumento para abrir os caminhos do progresso; e agora começa a ser visto como seu inimigo.