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Alimentos: Percurso extenso e caro até o RN

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Isaac Lira – Repórter

Até a mesa da sua casa, o arroz e o feijão que você come fazem um percurso extenso e caro. O Rio Grande do Norte não  é tradicionalmente um estado produtor de boa parte dos itens que fazem a dieta básica de um brasileiro. Produtos como arroz, feijão, carne, milho, legumes e frutas são todos “importados” de outros estados, o que encarece, principalmente por conta do frete, o preço para o consumidor final.

70% dos alimentos consumidos no Rio Grande do Norte vêm de outros Estados do Brasil

Como se sabe, o RN produz principalmente frutas, além de farinha de mandioca, cana de açúcar, entre outros produtos. Os demais precisam ser adquiridos de fora pelos atacadistas e gerentes comerciais de supermercados. De acordo com estimativa do presidente da Associação de Supermercados do RN, Valdir Farias, cerca de 70% dos alimentos consumidos no RN vêm de fora do Estado. “É uma dinâmica natural, onde os estados investem nos seus potenciais e o RN não tem tradição como produtor de muitos itens”, diz Valdir Farias.

 Uma refeição simples, com arroz, feijão e carne pode ter passado por oito estados. O arroz que é consumido, em sua ampla maioria, é plantado e industrializado principalmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Esse dado se refere ao “arroz branco”, ensacado e estampado nas prateleiras dos supermercados e mercadinhos. O RN produz apenas o chamado “arroz vermelho” ou “arroz do sertão”, que é plantado e comercializado na região de Apodi. Segundo o atacadista Jair Paiva, que trabalha há 45 anos com importação de cereais e estivas, o translado do arroz significa R$ 0,25 a mais no preço final do produto.

Já o feijão é “importado” prioritariamente da Bahia, que é um dos grandes produtores do país, além do Paraná e de Goiás. Jair Paiva afirma que compra o produto em torno de R$ 1,60 o quilo e revende por R$ 1,80. “Mas isso muda bastante, depende do momento e da safra, como também da localidade. Se compramos de um lugar mais longe, o aumento do frete é sentido no bolso do cliente”, diz Jair Paiva.

A mudança de local, dependendo da safra, é um dos maiores responsáveis pelas variações de preço, de acordo com o gerente de abastecimento da Ceasa, Moisés Eustáquio. Ele dá um exemplo bem prático dessa questão. “Há duas semanas a caixa de 25 kg de caju custava cerca de R$ 30. Há uma semana esse preço caiu para R$ 26 e deve chegar a R$ 21 em breve. O motivo? O caju era comprado no Piauí, depois passou a ser adquirido no Ceará e agora já é o início da safra em Serra do Mel. É o frete que encarece na maioria das vezes”, diz Moisés.

O chefe do setor de operações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Sebastião Arruda, dá outro exemplo. Segundo Arruda, boa parte do arroz que a Paraíba consome é produzido no próprio Estado. “O consumidor de lá acaba pagando mais barato porque não é necessário pagar frete”, diz Sebastião Arruda. “O problema não é beneficiar, não é o processo industrial, porque isso é relativamente simples. A questão é que o RN não tem tradição nesses produtos. É uma dinâmica natural dos Estados ter mais tradição em uma ou outra coisa”, afirma Jair Paiva.

Contar com o frete já é tradição

O presidente da Associação de Supermercados do RN, Valdir Farias, discorda que o frete seja o “grande vilão”. O empresário acredita que o mercado potiguar já está acostumado com esse tipo de gasto, que é referente principalmente ao translado por rodovia. “Os estados do Sul e do Sudeste sofrem a mesma coisa quando compram o melão cultivado no Oeste potiguar”, justifica.

Valdir Farias lembra a questão da carne consumida no RN, que vem de Goiás e do Pará. “Os grandes frigoríficos ficam todos no Norte e no Centro-Oeste. Eles produzem com tanta tecnologia e uma logística tão apurada que fica mais barato trazer de lá do que comprar aqui. E a produção de carne do Estado mal existe”, diz Valdir, acrescentando que a carne potiguar não é responsável nem por um quarto da demanda do Estado.

O frete sequer é pago como uma despesa a mais. Na maioria das vezes, o valor já vai embutido no preço do produto. “Discordo completamente que o frete seja o maior responsável pelo encarecimento dos produtos. Não é ele quem onera e aliás as transportadoras são nossas parceiras. É possível conseguir um preço competitivo independente disso, principalmente para quem compra em grandes quantidades”, avalia Valdir Farias.

Concorrência afeta pequenos comerciantes

Se não é uma pedra no sapato dos grandes comerciantes, os pequenos acabam sofrendo com a questão do frete. Período de entressafra é difícil. E eles ainda precisam conviver com a concorrência dos grandes. É o caso de Manoel de Moura, de 60 anos, que há 26 trabalha vendendo banana na Ceasa. Ele conta que consegue um melhor desempenho quando compra o produto de Assu.

“Quando fica difícil pegar em Assu, é preciso comprar dos atravessadores de Petrolina. Isso deixa tudo mais caro e acabamos perdendo boa parte do produto”, diz Manoel. A diferença de preços Manoel sabe de cabeça. A banana que vem de Assu para a capital consegue ser vendida a R$ 6, o cento. Já a “importada” de Pernambuco, sai por R$ 10. “Com esse preço eles não conseguem entrar aqui pra competir com a gente, pelo menos os pequenos”, diz Manoel de Moura.

Contudo, já há quem consiga trazer a banana pernambucana para Natal e vender mais barato do que Manoel de Moura. “O pessoal tem comprado em grandes quantidades e já chega aqui com o preço até mais baixo do que o nosso. Lá, eles cultivam em grande quantidade e fica difícil competir. O meu caminhão só vai até Assu, mas já estou pensando em mudar”, encerra.

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