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Almino Affonso, o tribuno I

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Dorian Gray Caldas – Artista Plástico Escritor

Em seu coração
O sol não se deita.
Neruda

Um grande homem não é só as suas circunstâncias. Um grande homem está sempre acompanhado de sua alma. Fibra a fibra do coração indomado, caráter firmeza e honra, alto e reto, à semelhança dessas árvores da sua Amazônia. Largueza e extensão da origem. Este é Almino Affonso, que hoje é recebido nesta Casa da Memória, centenária (102 anos), com todas as honras que merece, ao lado de sua digníssima esposa, Sra. Lígia Brito Álvares Affonso, à qual entregou o seu coração de guerreiro, acompanhado de toda a história que lhe pertence.

O mérito é sem dúvida dele, mas a história o considerará muito mais do que o cidadão probo e justo, símbolo da nossa melhor tradição política e humana. A história corrobora com este homem público e é respaldada também pela sombra altaneira de Almino Álvares Affonso, seu avô, o tribuno e imortal defensor dos oprimidos, libertador dos escravos, senador, professor, poeta, legítimo representante de uma época e de seu povo. Este que nos honra neste momento, Almino Affonso, por todos os títulos, tão nobre e tão relevante na linha das consecuções legitimadoras do seu avô, lança nesta hora, neste momento histórico, para nós do Rio Grande do Norte, o seu livro “Testemunhos e Perfis”, entre tantas obras já publicadas pelo nosso insigne homem público. O ilustre homenageado não se limita às dimensões protocolares da simpatia ou da linguagem clássica.

Transborda como um rio caudaloso da Amazônia e se apresenta em sua obra com este liame que o envolve num só laço de vibrações humanas, numa só emoção, testemunhando os amigos, nesses perfis que resgatam as origens também da exemplar presença do seu avô Almino Álvares Affonso e dos filhos José e Bohemundo de Souza Martins Álvares Affonso, desbravadores de Rondônia, precursores do que hoje é esta florescente região. Ambos nascidos no Ceará, vencendo a saga das selvas, navegando rios, plantando o grande sonho da humanidade “livre dos desmandos da força e confiantes na liberdade humana”, na expressão de Almino Affonso, o qual ao mesmo tempo em que exalta os seus, assoma em letra grifada a sentença que lhe serve também de máxima para sua conduta e seu modelo de vida.

Almino ratifica e dá procedimento, como observa muito apropriadamente Valério Mesquita, no seu prefácio (no livro que ora está sendo entregue aos seus inúmeros leitores), ressaltando ainda os seus biografados e identificando-os progressivamente no decorrer da leitura dessa obra luminar em mais de uma trintena de verdadeiras biografias de marcantes personalidades.

Ressaltem-se, a bem do documento humano e literário de Almino Affonso, a fidelidade, a emoção no seu discurso sobre a cidadania outorgada a ele na Assembléia Legislativa, (iniciativa ainda do Deputado Estadual Valério Mesquita), no pronunciamento em 17/05/2000 Confessa ele ter “as sandálias empoeiradas… e a alma onde se gravam as lembranças mais nobres”, as quais teimam em reavivar-lhe as origens. Se não bastasse a alma plena dessa essência rara que é o sentir, evoca Almino Affonso o ritual de Rômulo na fundação de Roma, porque cada um, para não renegar seus deuses tutelares, havia trazido também um punhado de terra sagrada de seus antepassados. Almino Affonso cumpria nesta hora este ritual de seus pais, terra “pátrum”, pátria porque aqui estão as raízes de sua família.

Quisera, amigo, possuir a eloqüência que o privilegia na oratória para agradecer os registros contidos no seu depoimento sobre a minha pequena contribuição no livro que escrevi sobre o seu avô Almino Álvares Affonso, o “Poeta e Outros Depoimentos”. Suas palavras, meu caro Almino Affonso, adoça a minha alma como a flor vermelha depositada no seio da mulher negra, simbolicamente no quadro que lhe ofereci à primeira vez que tive a grata oportunidade de conhecê-lo, na solenidade do Instituto Histórico Geográfico em sessão conduzida pelo Presidente desta Casa Centenária, Dr. Enélio Lima Petrovich, na noite de 13 de maio de 1988. Se há algum mérito em meu livro sobre Almino Álvares Affonso, o seu avô, é o de ter posto em pauta a poesia imorredoura do escritor, abolicionista, senador, tribuno, professor, homem público e desta maneira, embora restrita em poucos poemas (pela dificuldade natural da grafia à mão do livro “Poemas Rústicos”), ter despertado para fixação definitiva a Polianteia de Almino Affonso sobre a obra memorável do seu avô.

Repito: um grande homem não está apartado de sua alma. Um grande homem não vive só pelo que diz ser, mas pelo que merecidamente fez de si, por princípios que nortearam sua vida, na direção do relâmpago de que nos fala Sanderson Negreiros no seu livro também de perfis.

Acompanho, reavivo, palavras e ações de Almino Affonso, este admirável causeur, este cavalheiro (conselheiro), na sua difícil trajetória, tendo como dom da alma a deliberação voluntária de servir ao seu povo e de ser a voz de uma geração de homens públicos, ainda atentos ao dever perturbador (para muitos) na observância do direito pleno que emana do povo, reconhecimento que, repousando suas idéias e seu ideário na moral do dever cumpriu desde cedo com ética nas situações mais adversas.

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