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Alto falante “mostrava” a Copa para natalense

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NARRAÇÃO - Ary Barroso era o principal comunicador da época

Everaldo Lopes – repórter e pesquisador

No começo dos anos trinta Natal era uma pequena e atrasada capital de pouco mais de 40 mil habitantes, ainda muito longe  de proporcionar à população os benefícios da tecnologia que já havia chegado  às grandes capitais. Foi naquele ano que o futebol teve seu primeiro Campeonato Mundial, tendo Montevidéu como sede. Se, hoje, fora dos estádios o torcedor  tem como assistir aos jogos pela televisão, Internet e até utilizando minúsculos aparelhos celulares, pelo menos até o Mundial de 1962  o torcedor brasileiro tinha de contentar-se com os barulhentos e apressadinhos narradores do rádio, com destaque para Ary Barroso na Rádio Tupi e Oduvaldo Cozzi, na Mayrink Veiga. Imagens da Copa  só através jornais, revistas e os velhos jornais da tela, semanas ou até mesmo, meses depois.

Sem ter nenhuma opção, os natalenses não puderam acompanhar os jogos das Copas de 30 e 34 nem mesmo pelo rádio, salvo rádio-transmissores  navios ou bases militares. Na Copa de 30, que teve apenas dois jogos da Seleção Brasileira (Iugoslávia 2×1 Brasil e Brasil 4×0 Bolívia), o natalense só veio a saber o resultado dois dias depois num espaço de poucas linhas no jornal “A República”. A campanha brasileira foi pífia, não repercutiu positiva nem negativamente. O povo ignorou.

Veio o Mundial de 34, na Itália, e aí o fiasco brasileiro foi maior ainda, já que o nosso time  perdeu para a Espanha por 3×1 e recebeu o bilhete de volta. Os jogos eram todos eliminatórios. Para a estréia brasileira, outra vez o matutino “A República” minimizou a informação,  até porque não tinha como obter maiores dados, publicando uma pequena notícia de 12 linhas em uma coluna na primeira página. A partir daí, mais nada.

Os leitores do mais antigo jornal do RN só passaram a ser melhor informados a partir da Copa de 38, inclusive com os jogos do Brasil sendo transmitidos pelo rádio. No dia da estréia brasileira, “A República” avisou a seus leitores que a Casa Lamas, especialista em artigos esportivos com lojas na rua Dr. Barata, Ribeira,  instalou um alto falante para que a população pudesse acompanhar o desenrolar da partida. O texto da notícia foi este: “Avisamos aos leitores que a Casa Lamas amplificará a irradiação do jogo Brasil x Polônia na praça 7 de Setembro, por intermédio de possante aparelho RCA Victor.” Complementava a notícia avisando que, em caso de vitória brasileira, haveria um corso de automóveis em volta da praça até a sede da Associação Feminina de Atletismo, que ficava a poucos metros dali.

Se a divulgação dos jogos pelo rádio  tinha suas falhas, além do detalhe de que poucas famílias em Natal possuíam esse eletro-doméstico, no que se refere à imprensa escrita o drama não era menor. O jornal de maior expressão era mesmo o órgão oficial do estado, “A República”. Curiosa foi a  manchete no dia do jogo Brasil x Polônia valendo a Copa de 38, na França: “Ao influxo da bandeira nacional os jogadores brasileiros demonstrarão, hoje, em Strasbourg frente o selecionado polonês, o valor do atleta do nosso país”. Abaixo uma ampla notícia e a formação da equipe brasileira com Batatais, Domingos e Machado, Zezé Procópio, Martin e Afonsinho, Lopes, Romeu, Leônidas, Perácio e Patesko. O treinador era Ademar Pimenta. A vitória foi brasileira – 6×5, tendo o meia rubro-negro Perácio quebrado a clavícula do goleiro polonês Planika, devido a violência do seu chute.

Os únicos cronistas esportivos de Natal eram Valdemar de Araújo, que além de cronista esportivo de de destaque, jogava como atacante do Santa Cruz FC, de Natal, e Vicente Farache. Este,  ao ser  entrevistado um dia antes da estréia brasileira previu muitas vitórias “pelo grande valor do atleta do nosso país”.  Farache era jornalista esportivo nas horas vagas, já que exercia o cargo de Juiz Municipal como advogado formado no Rio de Janeiro, era diretor de futebol do ABC e direetor técnico da Liga de Desportos Terrestres, antecessora da hoje FNF. Como houve dois vazios sem Copa do Mundo (1942 e 46) devido a 2a. Guerra Mundial), o Mundial de 50 teve cobertura bem mais ampla, inclusive com os cinemas exibindo, semanas depois, lances dos jogos da Seleção Brasileira através os jornais da tela. Transmissão pela tevê, no RN, somente a partir de 66 e, em cores, na de 1970.

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