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Altos e baixos de um grande festival

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Tádzio França – Repórter

Mais compacta – e sem chuva – a edição do festival Música Alimento da Alma (Mada) de 2009 concentrou um público estimado em 20 mil pessoas no fim de semana passado para conferir sua já conhecida mistura de nomes grandes do pop nacional com artistas do cenário alternativo. O saldo foi positivo para quem aprecia a experiência de ouvir diferentes ritmos, de gostar ou não deles, e ao mesmo tempo se divertir com toda a maratona de excessos sonoros sem pausa para respirar — coisa que só um festival de música proporciona. Camisa molhada, neste ano, só de suor.

Rapper, bem acompanhado, mostra que sabe dominar o palcoO primeiro dia do festival, sexta, poderia ter sido chamado de “a noite black”. As batidas funkeadas, os sons graves e as falas ritmadas se sobrepuseram às  guitarras com ligeira vantagem. Sorte das cinturas mais ágeis. O Carcará na Viagem abriu a noite mostrando que o encontro do rap com embolada e afins ainda tem o que render. Mistura ainda mais azeitada foi a do MC Priguissa, que propõe uma inusitada conexão Kingston-Natal via raggamuffin. Os beats suingados do MC recebem apliques de xote e samba que funcionam bem com os grooves jamaicanos, tendo seu ápice no quase hit “Essa boe”, dancehall bem resolvido e cheio de gírias natalenses. Aparando clichês e acertando algumas coisas na produção, o MC Priguissa estará pronto para embalar bailes Brasil afora.

Corte seco para as guitarras distorcidas e altas: a local Calistoga confirmou seu status de banda pesada mais certeira da cidade, com um som rápido, sujo e eficiente. A mossoroense Sick Life trouxe as trevas metálicas para o festival. Apesar de uma ou outra referência moderna (beats, programações), o vocal gutural não deixava dúvida que era um show de metal no palco. O baile volta com a banda DuSouto e seu dub/jungle/reggae/samba de inspiração enfumaçada. O material do novo disco, “Malokero High Society”, dominou o show e, pelas danças na platéia, provou que os Soutos estão refinando cada vez mais seus grooves; “Cachaça a go go” e “Fazendo a cabeça” merecem ser hits.

A pegada continuou dançante com o carioca Fungos Funk – dançante, mas sem surpresas em sua mistura de funk com rock pesado. Mistura com pouco sabor também na potiguar Chico Antronic, em que o elemento regional pareceu forçado em meio  aos sons de funk, rock e eletrônica. Carece de coesão e identidade.

Hora das grandes: Natiruts agradou em cheio ao público local  que aprecia os clichês do reggae roots praieiro e romântico; a banda tocou todos os seus hits e algo mais. Em seguida, Marcelo D2 fez um show ágil e pesado. O DJ Nutz costurava os beats, como numa discotecagem cujo repertório é de um artista só. As intervenções do baixo e guitarra foram minimalistas. D2 juntou canções de seus quatro discos solo, e algumas da histórica Planet Hemp. Em meio a samples de Marcos Valle, citações ao funk carioca e até Led Zeppelin, o rapper mostrou que sabe dominar um palco com poucos elementos.

Sábado: Encerramento memorável

A banda Ganeshas do Rio de Janeiro está no palco nesse momentoO sábado foi dia que começou cedo a encher. Um público razoável viu o bom show da banda paraibana Nublado, cujo rock acessível, em português, de referências ‘indie’ americanas, caiu bem; o encerramento com “Getting better”, dos Beatles, foi bonito. O Ganeshas também mostrou rock de acento pop,  mas ensolarado por um certo balanço bluesy; o vocalista, de timbre parecido com o de Cazuza, reforçou o apelo carioca. A local Tricor mira seu pop/rock direto às rádios. Apesar de bem tocadas, as composições afundam em clichês.

O alagoano Sonic Jr levou o conceito de ‘banda de uma homem só’ para o palco do Mada. Dividindo-se entre bateria, percussão e máquinas, encarou o desafio de controlar tudo ao mesmo tempo, e ainda entreter o público. A música, breakbeats e drum ‘n bass  com ambiências dub, produziu agito, apesar do estranhamento de parte da plateia. Nada estranho foi o som do Lenzi Brothers, bastante reconhecível em suas influências roqueiras básicas. Sem surpresas.

O quinteto curitibano Copacabana Club, já conhecido de alguns segmentos descolados por sua mistura de garage rock e dance music, provou que tem potencial para se apoiar além do hype. E não apenas por ter uma vocalista (Camila Bukowski) que fica muito bem de microshort; “Just do it” e “King of the night” são peças pop refinadas e alegres.

Ana Cañas, um dos shows aguardados da noite, mostrou que está mais para rock que para MPB. A performance agradou o público que aprecia o lado mais convencional (até conservador) do gênero, com direto a citações a Raul Seixas e Led Zeppelin.

Pitty, com o perdão do clichê, “já entrou com o jogo ganho”. Deu – e até repetiu – todos os hits que seus numerosos fãs queriam ouvir. Tambores e alfaias à frente, a Nação Zumbi provou que, 15 anos depois, “Da lama ao caos” continua um disco relevante e vibrante. Tocaram todo o disco, fazendo concessões só a “Maracatu atômico” e “Cidadão do mundo”, do segundo álbum. O público sentiu o baque, cantou, pulou e encerrou o festival de forma memorável.

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