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Alunos no Alto Oeste dão exemplo de aprendizagem

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Estudantes mostram o que produziram a partir dos projetos implementados pela equipe pedagógica

Em meio a tantas notícias desanimadoras sobre a qualidade do ensino público no Brasil, um exemplo vindo do Alto Oeste Potiguar – mais precisamente de Pau dos Ferros – mostra que quando existe comprometimento e criatividade, o aprendizado se torna uma tarefa mais fácil e prazerosa.

Aprender quais as reações químicas e o que a combinação de determinados elementos pode causar; Descobrir a origem e a diversidade da fauna da região; Entender sobre a história econômica e cultural da sua cidade; Desvendar os segredos da geografia local; Adquirir conhecimento sobre as mais diversas obras literárias do Brasil e do mundo. Visto dessa forma, parece demais para qualquer pessoa absorver. Mas essa é a grade curricular dos estudantes do ensino médio, que em Pau dos Ferros e os alunos estão dando exemplo de aprendizagem.

A equipe pedagógica da Escola Estadual Dr. José Fernandes de Melo começou a desenvolver atividades que estimulassem os alunos a continuar na escola, colocando em prática os conhecimentos aprendidos em sala de aula, através de experiências e dinâmicas de grupos, fortalecendo o aprendizado.

“Nós percebemos que os alunos não se sentiam atraídos pelas matérias apresentadas em sala de aula. E então pensamos: Como fazer com que eles se interessem por química, física ou geografia?”, relata o diretor da escola, Antônio César Pereira.

Junto com sua equipe de coordenadores, supervisores e professores, o diretor começou a pensar em saídas viáveis e que de fato se traduzissem em resultados concretos, no aprendizado do aluno. Uma das primeiras ações desenvolvidas pela equipe da escola foi na área da química. Apesar de ter um laboratório completo, as aulas não conseguiam agradar os alunos, por serem muito teóricas e pouco práticas.

Foi então que surgiu em 2006 o projeto “Ambiente e Corpo: uma relação entre higiene e beleza”. Com o projeto os alunos tiveram a oportunidade de por em prática os conhecimentos de química que aprendiam em sala de aula. Através da orientação dos professores, os estudantes aprenderam a produzir sabonetes, detergentes, amaciantes de roupa, entre outros produtos de limpeza e higiene.

“Com esse projeto, eles (os alunos) puderam entender a importância da relação entre os produtos químicos e o meio-ambiente. Pois os orientamos sobre a importância da produção de produtos bio-degradáveis, alertando sempre para o destino que esses produtos devem ter após seu uso, para não poluir o meio-ambiente”, diz a coordenadora Silvana Barros.

Hoje em dia, a equipe da escola está estudando uma forma de comercializar os produtos desenvolvidos pelos alunos. Uma maneira que já foi pensada foi uma parceria com um projeto da Secretaria Estadual de Educação com o SEBRAE-RN, o Projeto Despertar, que procura estimular o empreendedorismo entre os alunos do ensino médio da rede pública estadual. Além disso, todos os produtos resultantes do projeto são utilizados na própria escola, diminuindo assim, o gasto com compra de material de limpeza.

“Esse projeto mudou a minha visão da química e da biologia. Antes eu não queria nem saber dessas matérias. Hoje em dia, eu brigo com o professor para ficar mais tempo no laboratório. Além do que, agora eu entendo muito mais sobre o que estava estudando”, confessa a aluna do 2º ano do ensino médio, Roberta Nayara.

Aulas de literatura menos entediantes

Uma disciplina que costumeiramente “entedia” os estudantes de ensino médio é a literatura. Muitas vezes pela matéria tratar de obras literárias antigas, escritas em linguagem rebuscada, o jovem de hoje, cada vez mais “antenado” com as novidades do mundo moderno, sente um distanciamento natural.

Pensando em mudar a realidade e desenvolver o interesse dos estudantes pela disciplina, os professores criaram o “Oscar da Literatura”. A premiação funciona da seguinte forma: cada sala “adota” uma obra da literatura brasileira e precisa encenar uma peça que conte a história da obra.

“Durante o processo de produção das peças teatrais os alunos vão se envolvendo com a história e dessa forma, sem perceber eles aprendem muito mais facilmente, do que se estivesse vendo apenas em sala de aula”, declara a coordenadora Maria do Livramento.

Seguindo os mesmos moldes da famosa premiação do cinema internacional, o “Oscar da Literatura” premia os melhores atores, diretores, produtores, roteiristas, elenco, entre outras categorias. Os estudantes podem utilizar todos os campos da cultura para realizar as apresentações e ainda têm a oportunidade de filmar toda a produção, criando assim uma versão em vídeo.

“A nossa turma escolheu como tema a obra Capitães de Areia de Jorge Amado. A história trata de um grupo de meninos de rua e para fazer nossa peça nós tivemos que conversar com alguns meninos de rua aqui da cidade. Como é uma obra muito densa, fizemos uma adaptação e tornamos ela mais leve, até com um tom cômico. E o resultado foi muito bom”, revela a estudante Jéssica Luana, ganhadora do Oscar da Literatura na categoria Melhor Atriz.

Os prêmios são concedidos através da votação dos outros alunos da escola e de uma comissão formada por professores e pessoas envolvidas com cultura.

Escola ajuda os alunos a serem cidadãos

A escola não é um ambiente onde se aprende apenas a ler, escrever, somar e subtrair. Além das disciplinas tradicionais, é obrigação da escola preparar os seus alunos para se tornarem cidadãos comprometidos com um mundo melhor e com um futuro digno para as próximas gerações. Na Escola Estadual Dr. José Fernandes de Melo essa também é uma das metas traçadas e atingidas pela equipe pedagógica.

O jovem Everaldo Alves de Souza, aluno da escola, foi o único escolhido em todo o Rio Grande do Norte para participar da 3ª edição do Parlamento Jovem Brasileiro. Para participar do evento, Everaldo precisou apresentar um projeto de lei, no caso dele, o projeto previa a responsabilização da União, pelo Ensino Médio. Mesmo com o projeto sendo considerado inconstitucional, foi muito importante a participação do estudante.

“Tive apoio de todos os professores e coordenadores da escola. Como eu, muitos outros alunos daqui estariam aptos a participar do Parlamento Jovem, pois é uma prática comum da escola trabalhar a civilidade entre os estudantes”, confessa Everaldo. A Escola também teve representantes em outros eventos nacionais como nas Olimpíadas de Matemática – alcançando a segunda colocação em todo o país – e no Congresso Brasileiro de Estudantes sobre Meio-Ambiente.

Outro projeto de destaque da escola é o “Amor, Paz, Cooperação e Solideriedade”. Envolvendo escola, alunos, pais e outros setores da sociedade, o projeto visa estimular a cultura da paz entre as crianças e suas famílias. Foram escolhidas e premiadas dez pessoas que se destacam em Pau dos Ferros, por sua luta em favor da paz.

Para envolver os estudantes foram realizadas palestras com pessoas das igrejas, voluntários de ONG’s, representantes de centros comunitários. Além disso, a participação das famílias dos alunos foi essencial. “Não há como trabalharmos a importância do ‘não’ à violência na escola, se quando chegarem em casa esses jovens tiverem um clima de conflito. Por isso é importante que os pais participem”, falou o diretor da escola. O projeto foi aclamado pelo prefeito da cidade.

“São experiências desse tipo que nos dão força para acreditar que é possível mudar. Que é possível fazer diferente quando se há boa vontade e comprometimento. O Estado tem o seu papel e a grande responsabilidade de gerir a educação dos nossos jovens, mas é no dia-a-dia da escola que formamos os nossos cidadãos”, concluiu a Secretária de Educação, Ana Cristina Cabral, que conheceu de perto esses projeto em visita a Pau dos Ferros, no fim do mês de março.

Projeto aborda a geografia e a biologia

Uma outra forma encontrada pela equipe pedagógica da Escola Dr. José Fernandes de Melo, de envolver os alunos nas disciplinas e ao mesmo tempo contextualizá-los dentro da realidade local, foi um projeto envolvendo as matérias de geografia e biologia.

Em primeiro lugar, os alunos pesquisaram sobre a fauna da região, através da criação de um insetário. “No momento em que os estudantes saíram em campo, para estudar sobre os insetos da região, eles também tiveram que pesquisar sobre a incidência dos bichos, os locais onde eles eram mais facilmente encontrados, o motivo da maior ou menor incidência deles em determinado local. Dessa maneira, envolvemos também a geografia no assunto”, disse a professora Maria Rocha Peixoto.

Depois de identificadas as regiões dentro da própria cidade e montado o insetário, os alunos também tiveram aulas de reciclagem de papel. Aproveitando jornais e revistas velhas, os jovens da escola aprenderam a reciclar e construíram mapas do Rio Grande do Norte, identificando cada região do Estado e a região onde estão inseridos. “O mais importante é que não reciclamos apenas por reciclar. O material reciclado tem utilidade em outra atividade escolar nossa. Aprendemos geografia, fazendo reciclagem”, revela Francisca Leila, aluno da escola.

 

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