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Amadurecendo com Hamlet

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Tádzio França – repórter

O grupo de teatro Clowns de Shakespeare fará 20 anos em 2013. O momento de maturidade veio acompanhado de muitos êxitos profissionais, como  os espetáculos bem repercutidos nacionalmente e o destaque dos integrantes fora dos palcos. Também veio uma série de projetos novos e promissores. Nascidos sob a inspiração do bardo inglês da dramaturgia, os clowns natalenses começarão ainda este mês a trabalhar na montagem da obra-prima maior “Hamlet”, contando com a direção de Marcio Aurelio Pires de Almeida, um dos maiores nomes das artes cênicas brasileiras. O dilema hamletiano existencialista fica só no palco. O grupo potiguar sabe bem o que quer e como fazer.
Elenco do grupo Clowns de Shakespeare em um dos primeiros encontros com o diretor Márcio Aurélio
“Boa parte do grupo está passando pela famosa ‘crise da meia idade’, com os filhos chegando, a juventude ficando pra trás… e a discussão sobre o envelhecer e o sentido do teatro que fazemos tem uma certa reverberação nos dilemas hamletianos”, diz Fernando Yamamoto, diretor dos Clowns de Shakespeare. E, claro, havia o desejo de muito tempo para trabalhar essa obra de referência. “A obra shakespeariana é nossa principal linha de pesquisa, e ela sempre esteve no nosso imaginário. Apesar do desejo, há também o medo de encarar essa que é, sem dúvida alguma, a maior obra-prima da dramaturgia universal”, afirma.

O incentivo que faltava para montar o drama clássico do Príncipe da Dinamarca e seus fantasmas familiares, veio na figura do próprio Marcio Aurelio Pires. “Conhecemos o Márcio em 2007, na mesma ocasião em que conhecemos o Gabriel Villela, quando estávamos fazendo uma residência no Teatro da USP, em São Paulo. Tivemos uma série de encontros com ele justamente sobre Hamlet, já que ele é um grande especialista e apaixonado pela obra”, lembra. O encontro deixou o desejo futuro de trabalhar junto com Marcio, e também reavivou o desejo dos Clowns em explorar a parte “não cômica” da obra do bardo.

Enquanto o grupo estava envolvido no processo de “Sua Incelença, Ricardo III”, já era trabalhada a perspectiva de “Hamlet”. Segundo Yamamoto, há mais de um ano o grupo e Marcio Aurelio trabalham em atividades sobre a montagem da obra. O encenador virá a Natal no dia 22 de setembro, acompanhado da assistente Lígia Pereira, ficando aqui quatro meses para trabalhar a adaptação. O diretor dos Clowns afirma não saber os rumos da linguagem a ser utilizada. “Não sei ainda, o processo é quem vai indicar. O Márcio é um encenador que historicamente circula de espetáculos comerciais, com atores globais, até experiências experimentais de vanguarda. Estamos abertos a descobrir os caminhos que a potência desse encontro entre os Clowns e ele trará”, analisa.

SOBRE O DIRETOR MARCIO AURELIO

O paulista Marcio Aurelio Pires de Almeida tem longa experiência com a dramaturgia brasileira, sendo um dos nomes mais respeitados da área. É diretor teatral e também professor doutor pelo Departamento de Teatro da Escola de Comunicação e Artes da USP. Como encenador, montou espetáculos no Brasil e no exterior a partir de textos de Sófocles, Shakespeare, Bertold Brecht, Nelson Rodrigues, Alcides Nogueira, entre outros. Em 1990, criou a Companhia Razões Inversas com a primeira turma de formadores da Unicamp, na qual dirigiu espetáculos premiados como “Senhorita Else”, de Arthur Schnitzer, “A Bilha Quebrada”, de Kleist, e “Agreste”, de Newton Moreno.

Já recebeu prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, do Troféu Mambembe, do Molière e do Prêmio Shell, em diversos espetáculos, como “Lua de Cetim”, “Pássaro do Poente” e “Pólvora e Poesia”.

HAMLET ESTREIA EM JANEIRO DE 2013
A estreia de “Hamlet” está prevista para 2013, no final de janeiro ou início de fevereiro. Fernando Yamamoto adianta que o grupo está em negociação com alguns festivais para a estreia nacional do espetáculo, mas ainda sem nada fechado. “De qualquer forma, mesmo sem data ainda, sabemos que ‘Hamlet’    terá uma temporada de 16 apresentações em Natal, e vai circular por Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Fortaleza, Teresina e São Luís. Depois seguiremos pelo país no circuito de festivais, como sempre fazemos”, diz. A montagem conta  com os apoios da Petrobras, Eletrobras e Programa de Cultura Banco do Nordeste – BNDES.

 NO BARRACÃO, GRUPO EXPÕE MÉTODO DE TRABALHO

Através do projeto de Manutenção da Petrobras, os Clowns também começaram ontem o projeto-oficina “Prática e Pensamento”, seguindo até sexta, no Barracão instalado em Nova Descoberta. É uma fusão de oficinas que dão uma ideia geral de como funciona o trabalho de um grupo de teatro ativo e pequeno. As aulas passam por todos os aspectos, como criação cênica, pesquisa musical, corpo, dramaturgia, e questões de gestão, administração e produção. Todos os integrantes do grupo atuam nas oficinas.

Fernando Yamamoto ressalta que as oficinas não têm o objetivo de “descobrir talentos”, mas demonstrar o rol de particularidades que estão em cima do palco e por trás das cortinas. “Trabalhar em um grupo de teatro é um projeto de vida que demanda comprometimento com pesquisa e disciplina. O que nos interessa é ter um corpo de criadores – não só atores – que tenham compromisso com o projeto artístico que o grupo está inserido. Entendemos que essa é a função do artista, e não se pavonear diante dos holofotes”, afirma.

O diretor afirma que as oficinas são a a melhor forma de se aproximar de pessoas que podem vir a se tornar parceiras do grupo, mas tendo consciência que isso faz parte de um investimento longo de tempo e trabalho, sem o menor glamour. A equipe dos Clowns de Shakespeare conta atualmente com treze pessoas – sendo oito atores, e no mais, diretor, secretário, produtor, iluminador e diretor de palco/gerente do Barracão. E além deles, há parceiros diversos.

SUA INCELENÇA VOLTA AO RN APÓS TEMPORADA EM SP

A peça “Sua Incelença Ricardo III” pôs os Clowns no mapa da dramaturgia nacional, e será apresentada mais uma vez em território potiguar durante o 4º Festival Literário da Pipa, de 22 a 24 de novembro. O espetáculo viajou todo o Brasil, e ganhou resenhas elogiosas de veículos como revista Bravo, Estadão e Folha de São Paulo. Fernando Yamamoto considera que foi a afirmação de maturidade artística do grupo. “O ‘Ricardo’ marcou nosso nosso encontro com Gabriel Villela, que abriu portas, e a efetivação do grupo na linguagem de rua, que já tínhamos experimentado em espetáculos anteriores como ‘Muito barulho por quase nada’ e ‘Farsa da boa preguiça’”, diz. Os Clowns participaram dos principais festivais internacionais realizados no Brasil, e em outubro irá para a Espanha, no Festival de Cadiz. Há convites também para a Rússia. EUA, França, Equador e Portugal.

LIVROS SOBRE  O GRUPO

Os Clowns estão em fase de finalização do projeto ‘Cartografia do Teatro de Grupo do Nordeste’, pela Funarte/MinC e BNDES. Trata-se de um mapeamento dos grupos de teatro de todo o Nordeste. “Circulei pelos nove estados da região e fiz um levantamento com mais de 120 grupos, através de entrevistas. Esse material será lançado em outubro com três publicações, além de um portal eletrônica que servirá de referência. Temos um material riquíssimo em mãos”, diz.

 E para as duas décadas dos Clowns,  em 2013 há um desejo – ainda não é projeto – de produzir duas publicações: uma sobre a história do grupo, assinada por um renomado pesquisador (“que ainda é segredo”) e outro um livro de fotografias de Pablo Pinheiro, que tem quase 100 mil imagens dos Clowns. “São ações que integram o projeto guarda-chuva dos 20 anos do grupo, em fase de elaboração e planejamento para que consigamos viabilizá-las”, conclui. 

Yamamoto confirma Titina Medeiros para “Hamlet”

Dois integrantes dos Clowns de Shakespeare têm recebido holofotes para além do palco: Titina Medeiros, a Socorro da novela “Cheias de Charme”, e Dudu Galvão. O diretor falou sobre a situação “insólita” dentro do grupo:

Como tem sido a relação de Titina Medeiros com o grupo?

A participação da Titina na novela é uma experiência pontual para ela. Durante esse período ela esteve ausente de todas as atividades do grupo, sendo inclusive substituída temporariamente no “Ricardo III”. Nas próximas semanas ela finaliza as gravações e retorna a Natal e ao grupo, para começar o processo do “Hamlet”. Sem dúvida a experiência foi muito bonita, tanto pra Titina, quanto para o grupo. Ela só aceitou o convite da Globo após conversar conosco, e encontrarmos alternativas para viabilizar, e demos todo o apoio. No entanto, para uma atriz que trabalha sob uma perspectiva de criadora, a televisão não nos contempla. O ator televisivo é muito mais um técnico do que um artista, um “operário” que coloca o seu trabalho a serviço de uma linguagem e um pensamento que não passam pelos seus desejos. Assim, por mais bacana que essa incursão televisiva tenha sido para ela e para todos nós, não é uma experiência que nos seduza, que chegue a nos balançar em relação ao trabalho do grupo. Esse frisson é muito mais exterior, no campo do imaginário popular que entende que a televisão é uma arte maior, apenas pelo fato de ser mais comercial. A fama e a qualidade do trabalho são características que não têm nenhuma relação uma com a outra.

Recentemente o Dudu Galvão foi indicado como “muso do teatro” numa matéria do R7. Acredita que pode acontecer a ele algo parecido com o de Titina?

Temos uma premissa, partindo do princípio que o grupo é a prioridade, de tentar flexibilizar nossa atividades ao máximo para que todos possam desenvolver seus projetos fora, desde que isso não atrapalhe o trabalho do grupo. O Dudu vive, sem dúvida, um momento profissional de muita felicidade. O processo do “Ricardo III” significou um grande salto qualitativo na carreira dele, e isso vem sendo reconhecido dentro e fora do grupo. No entanto, é importante deixar claro que essa projeção individual nesse blog paulistano, essa coisa de ser eleito o “muso do teatro brasileiro do mês de julho”, isso é uma fato curioso, divertido, mas sem importância nenhuma. Parece até que o Dudu não consegue mais andar pelas ruas de São Paulo sem ser atacado pelo fãs! (risos). E, mesmo que fosse, também não teria nenhuma relação com a qualidade do trabalho de ator que ele vem conquistando nos últimos anos.

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