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Amanhecer de desesperança

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Daísa Alves
Repórter

Os despertadores ainda não tocaram quando eles já deram os primeiros passos rumo ao trabalho. A maresia e os longos anos em atividade se apresentam em suas roupas desgastadas, mãos calejadas e ombros cansados. Os trabalhadores da fonte econômica mais antiga de Natal amanhecem na desesperança e rumam ao declínio da tradição da pescaria artesanal.
Em Ponta Negra, os pescadores quase perderam espaço para o enrocamento. Na Redinha, diminuiu o número de pescadores e houve queda na produção, o que fez aumentar o preço do pescado
Pesca artesanal vive declínio no RN

Nas praias da Redinha e Ponta Negra, em Natal, e Pirangi do Sul, em Nísia Floresta, a atividade é a principal fonte de renda da maioria das família, mas a pesca está sentenciada ao fim, segundo os próprios pescadores. Além da idade avançada, a maioria sofre com doenças adquiridas na atividade e rumam à aposentadoria. Já seus filhos,  não querem mais seguir a tradição da família. Dados da Colônia de Pescadores de Natal apontam em 2001 havia 1.500 associados. Hoje são apenas 800, quase a metade.
“Os meninos iam nascendo e o pai já levava pra pescaria, ensinava a pescar. Hoje não fazem isso, vão estudar. Não querem porque dizem que a mão dói. Eu já disse lá em casa para meus meninos. ‘Rapaz, eu com minhas mãos doendo (tenho três filhos homens), eu criei vocês puxando aquilo’”, conta Manoel dos Santos da Silva, conhecido como Santino, 74, que desde os 15 anos é envolvido na pescaria. Mesmo aposentado, todos os dias ele vai à praia buscar a “mistura” da refeição, mas apenas com a rede de tarrafo, pois sua hérnia de disco, localizada na virilha, não o permite o esforço numa rede três mários, a utilizada na pesca com técnica de arrasto.

Luiz Gonzaga Ferreira, 59, está próximo da aposentadoria, pois pelo INSS, é instituído 60 anos de idade. Apesar dos mais de trinta anos na ativa, ele não indica a profissão. “Sou filho de pescador, pesco, mas meu filho não queria que fosse. Porque é um negócio sem futuro”, relata decidido. “Não tem esperança para o pescador, pescador é uma classe sofrida. Não tem melhora para ele não. Ou fica aleijado, ou cego”, relata.
Pirangi do Norte: a cada ano diminui o número de pescadores. Quem continua na atividade afirma que “é uma vida muito sofrida”
#SAIBAMAIS# Assim como diminuiu o número de pescadores, também houve queda na produção de peixe, o que tem valorizado o produto. Eles dizem que hoje ganham mais. Um ponto positivo, dentre os males.  “Hoje se ganha mais.  No tempo anterior tinha mais peixe. Hoje tem menos, mas ganha mais. A valorização foi crescendo, o peixe tem mais valor”, lembra Santino. Ele conta que anos atrás pescou 512 charéis. Na época, vendeu todos por  R$ 300 reais. “Já vi vender hoje um charéu só por 80 reais. Pense aí se fosse hoje” (sic). Outro fator positivo é que com o crescimento do turismo, o peixe ginga é bem procurado pelos atravessadores – pessoas que revendem  no mercado -, e pelos comerciantes das praias.

Somado às próprias condições do trabalho, a falta de incentivo por parte do poder público também é uma das reclamações. “Nunca vi momento mais difícil”, frisa Rosangela Silva, presidente da Colônia de Pescadores, instituição representante da classe. Apesar da facilitação do governo federal de financiamento junto aos bancos, muitos não conseguem ultrapassar as barreiras burocráticas, afirma. Alguns conseguiram comprar motores para suas jangadas ou barcos, mas as embarcações continuam obsoletas.

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