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Ambulantes da arte

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Maria Betânia Monteiro – repórter

Após representar  o RN na conferência de brasília, a artesã ked mendes e o diretor  do Grock, Nil Moura, se  unem em busca de um melhor futuro para a arte circense  e o artesanatoA falta de reconhecimento do trabalho de artistas circenses e artesãos no Rio Grande do Norte impulsionou dois representantes da cultura local à defesa destes seguimentos artísticos nacionalmente. Nil Moura, artista circense, diretor do Circo Grock e da Escola Potiguar das Artes do Circo, e a artesã Ked Mendes foram os dois representantes da cultura do Rio Grande do Norte escolhidos para definirem, junto ao Ministério da Cultura – MINC, as políticas públicas culturais do Governo Federal. A escolha feita durante a II edição da Conferência Nacional de Cultura, ocorrida entre os dias 11 e 14 de março, em Brasília, repercute de forma incisiva na produção cultural do Estado, nos setores do circo e do artesanato. O VIVER conversou com os dois representantes, que falaram sobre a produção cultural local e a pauta dos novos projetos.

Nil Moura:  “Circo é patrimônio cultural”

Nil fala que o circo deve ser considerado como patrimônio cultural da humanidade. Ele lembra que o circo é batizado como a mãe de todas as artes, e que antes do surgimento dos grandes veículos de comunicação ditos de massa, era o circo quem levava para o público a música, a dança, o esporte e até o zoológico. “A cidade tem igreja, tem praça, tem teatro; então a cidade também precisa ter um circo”, afirma Nil e completa “o circo vai aonde o povo está”.

A importância dos circos, naturalmente percebida pela população antes do desenvolvimento dos grandes centros de compra e lazer, retorna com o olhar lançado por pesquisadores das universidades, mas este também é um processo lento.

O Rio Grande do Norte é praticamente anônimo em matéria de circo. “É como se não existisse o circo do RN para o Brasil”, conta Nil Moura. Segundo ele, a Fundação Nacional de Artes – FUNARTE — tinha apenas os registros do Circo Grock e da Tropa Trupe. A constatação veio quando Gena Leão, artista que interpreta a palhaça Ferrugem, parceira de Nil dentro e fora das lonas, fez inscrição para participar de um encontro nacional de palhaças no ano passado. “Ninguém lá fora sabe qual é a cara do nosso circo”, disse ela, na ocasião.

De acordo com o membro do Conselho de Cultura do Ministério da Cultura, um dos motivos dessa ausência é a falta de articulação política no setor. Para o artistam o Rio Grande do Norte é um dos Estados menos articulados do País com relação à arte circense. “O RN está numa posição inferior à Pernambuco, que já tem uma política pública delineada. Lá já existem editais voltados exclusivamente para o circo”. Nil Moura explica que, de forma geral, as decisões públicas de favorecimento ao circo são incipientes em todo o país. “É claro que no Rio de Janeiro e em São Paulo é um pouco diferente. Como nestes Estados existem escolas de circo de grande porte, cooperativas e associações, a difusão da arte acaba sendo maior”.

Plano Diretor não prevê a atuação de circos

A falta de espaço para a atuação de circos é um grande problema. De acordo com Nil, o Plano Diretor de Natal não prevê espaços destinados aos circos de grande porte. “O Brasil tem mais de 2 mil circos registrados. Destes, 80 são de grande porte. São circos para um público de 4 mil pessoas por exemplo. E nenhum destes circos chega em Natal, simplesmente porque não cabe no Largo do Machadão”.

Mas a falta de espaço não inviabiliza apenas a rotatividade de circos de grande porte em Natal. Também a fixação de espaços destinados ao pensar circense, como o próprio Circo Grock, do é diretor.  O Grock é um exemplo desta falta de planejamento dos espaços públicos.  Abriga a Escola Potiguar das Artes do Circo (Epac) mas foi removido de Candelária no final do ano passado por estar em lugar de área verde. Hoje, o circo está  no prolongamento da Pudente de Morais. Nil Moura fala que o seu trabalho estará focado na educação. Ele pretende, junto a outros artistas circenses, criar um programa para promover a reciclagem, mas antecipa não ser um trabalho de colonização. “Faremos como um diretor de teatro, que procura limpar a peça”.

Ked Mendes: “Artesanato não é só trabalho e renda”

O Artesanato, que anteriormente era visto como uma atividade de geração de renda passa a ser compreendido como atividade cultural, como explica Ked Mendes. Segundo ela, o fato de o Ministério da Cultura ter abarcado a atividade, nesta última conferência nacional é motivo de grande comemoração.

Ked Mendes explica que o olhar para o artesanato apenas do ponto de vista econômico, facilita uma rápida desconfiguração do fazer artístico. Pois o comércio acaba interferindo não só ao determinar as características dos produtos, como também de seu modo de produção.

Sendo agora uma cadeira do Ministério da Cultura, o artesanato terá um longo caminho a percorrer em uma nova estrada. Para Ked, é preciso de certa forma resgatar o artesanato, como sendo uma arte, um modo de fazer aprendido e repassado para diversas gerações. “Artesanato não é trabalho e renda. Artesanato é cultura”, diz Ked Mendes.

Onde está o artesanato potiguar?

A produção local de artesanato tem sido nestes últimos anos, engolida pelos estados vizinhos. Segundo Ked Mendes, nas feiras fixas de artesanato em Natal, como a do Centro de Turismos e a de Ponta Negra (que fica na praça que dá acesso ao conjunto residencial) os produtos comercializados são adquiridos na Paraíba, no Ceará e em Pernambuco. “Até a areia colorida, que surgiu nas praias de Tibau passou a integrar o artesanato cearense”, conta ela, concluindo que “no Estado podemos falar exclusivamente das bordadeiras de Caicó, que resistiram ao industrionato”.

O local fixo para escoamento do artesanato norte-rio-grandense era o Centro de Artesanato Papa-Jerimum, em Petrópolis. Segundo Ked o local esta fechado e não tem previsão para ser aberto. A única forma de escoamento do artesanato seriam as grandes feiras. “Acontece que as feiras não acontecem durante o ano todo e como fica os artesãos nos meses que não tem feira?” questiona.

Atividade não é regulamentada

Outro problema enfrentado pelos artesãos é a falta de regulamentação profissional da atividade. Segundo Ked existe um projeto de regulamentação, mas há dez anos ele está parado.

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