quarta-feira, 24 de abril, 2024
28.1 C
Natal
quarta-feira, 24 de abril, 2024

Ana Dalva Araújo Marinho Barreto: “As torcidas são nossos maiores problemas”

- Publicidade -

Felipe Gurgel – repórter de Esportes

Tiveram início na última sexta, o 39º Jogos Escolares do Rio Grande do Norte. Para a competição desse ano, algumas modificações aconteceram em relação as edições anteriores, como a exclusão de cinco modalidades esportivas e a mudança do local de abertura dos Jerns, por motivo de segurança. Nessa entrevista a TRIBUNA DO NORTE, Ana Dalva Araújo Marinho Barreto, mais conhecida como “Lulu”, que comanda a Coordenadoria de Desportos do Estado (Codesp), revela porque teve que mudar a solenidade de abertura de local, os motivos para a retirada de cinco modalidades, e o que ela espera em relação as políticas públicas voltadas para o esporte estudantil, já que o Brasil vai sediar as Olimpíadas de 2016.

Qual a expectativa da Codesp para os Jerns esse ano?
Esperamos que seja tranquilo. As torcidas, que são os nossos maiores problemas, que estejam nos locais de competição para torcer, participar, para que exista uma integração maior entre as escolas, e que os atletas realmente participem das competições e que estejam preparados, mas, que saibam tanto ganhar, como perder. Esse é o nosso maior objetivo, porque sabemos que o esporte faz crescer a pessoa como ser humano. Espero que os Jogos Escolares possam passar esse sentido de integração para os alunos.

A mudança do local da abertura dos Jerns, do Machadinho para o auditório do IFRN, tem relação com essa violência entre as torcidas?
Na verdade, as escolas que não aceitam mais que a abertura seja realizada em um ginásio por conta das confusões dos anos anteriores. E se os Jern’s são feito para as escolas, não poderia fazer uma abertura sem elas. Apesar de que no ano passado não ter havido problema nenhum. Esse ano nos reunimos com a Polícia Militar e eles me disseram que dariam toda a segurança, do mesmo jeito que foi no ano passado, com uma ótima estrutura de segurança. Mas, o caso é que as escolas não aceitaram. Então, infelizmente, tive que tomar essa atitude.

Essa atitude não pode diminuir, em importância, os Jogos Escolares?
Mas, o que podemos fazer, se as escolas decidiram assim? Prefiro ser criticada por estar “diminuindo” os jogos, do que está aqui, amanhã, preocupada por ter acontecido algum tipo de incidente com algum aluno que foi para a abertura dos Jern’s.

Não tem como coibir a ação desses vândalos?
A Secretaria Estadual de Educação está desenvolvendo um trabalho de paz nas escolas. Infelizmente, o projeto foi lançado recentemente, então, não temos como saber se isso vai ser sentido já na abertura dos Jern’s. Esperamos que esse projeto dê certo e que em 2010, possamos ter uma abertura de Jern’s como antes.

Qual o motivo da retirada de cinco modalidades dos Jogos Escolares desse ano?
Na verdade, logo depois do Jern’s do ano passados, as escolas se reuniram e decidiram retirar 15 modalidades da competição. Depois, enviaram esse documento a Codesp, alegando que os Jern’s tinham crescido de maneira desordenada. Se você for comparar com outros jogos escolares, e até mesmo com os Jogos Universitários Brasileiros, nós não temos esse número tão grande de modalidades. Só nas Olimpíadas. Então, as escolas pediram para retirar essas modalidades e a Codesp realizou um estudo e, analisando alguns critérios, sempre levando em consideração a opinião das escolas estaduais, chegamos a um denominador comum.

Tudo foi baseado nas escolas estaduais?
Com certeza. As escolas pleitearam a retirada do Surf. Fomos analisar e constatamos que essa modalidade é uma das que mais medalhas dá as escolas estaduais. Então, fomos por esse caminho. Decidimos pela retirada dessas cinco modalidades, porque elas não iam influenciar muito no resultado final dos Jogos. O Squash, por exemplo, nem é praticado nas escolas. O esporte é praticado em academias particulares.

Mas, isso não pode fazer com que professores percam seus empregos?
Muitas pessoas disseram que íamos prejudicar os profissionais dessas modalidades. Mas, me diga uma escola que tenha Squash como esporte? Ou então, Tênis de Campo? Eles treinam em Federações ou em Academias. Cerca de 12 ou 13 escolas assinaram esse documento sobre a retirada das modalidades. Não entendo porque que depois de assinarem o documento aceitando a retirada dessas modalidades, algumas escolas estão achando ruim. Nada foi feito a revelia. Todas as escolas envolvidas no processo, seja estadual ou particular, estavam cientes que isso iria acontecer.

Porque a decisão de acabar com o título de Campeão Geral dos Jerns?
Ser  Campeão Geral dos Jogos, não acrescenta em nada. Na verdade, deixou de existir um único campeão, e vai passar a existir vários campeões, que serão por modalidades.

Isso não pode desestimular as escolas em investir no esporte?
Eu acho que não. Vai sair a premiação de Campeão Geral, mas vai continuar existindo o campeão do vôlei, do basquete, do handebol, do futebol, mirim, infantil, juvenil, masculino, feminino… Eu sempre fui atleta, técnica e o que mais gostava era ganhar na quadra, ver meu time ser campeão. Receber as medalhas e o troféu. O Campeão Geral, quem vem buscar o troféu, é o diretor da escola. No meu ponto de vista, ser campeão geral dos Jerns, não faz muita diferença.

A premiação para atleta ouro vai continuar?
As escolas pediram para que déssemos uma melhorada nos critérios da escolha do atleta ouro, e esse ano fizemos uma parceria com algumas universidades do estado e elas vão nos dar um apoio em termos da escolha do atleta ouro. Nos anos anteriores, sempre pedíamos para os árbitros, técnicos e os próprios atletas, escolherem os destaques, mas, esse ano convidamos uma professor do Ceará, que, com sua equipe, vai avaliar as disputas coletivas, para que eles analisem e escolham os melhores de cada esporte coletivo, porque no individual, isso fica mais fácil de ser escolhido pelo pessoal daqui. Mas, eles vão analisar somente as semifinais e finais das competições coletivas. Que são dessas fases, que normalmente saem os atletas ouro.

Em relação aos alojamentos? A Codesp vai arcar com todas as despesas?
Estamos fazendo um esquema desde o ano passado que melhorou muito essa questão de alojamento. Decidimos realizar primeiro as competições individuais e depois as coletivas, para diminuir o número de atletas no CAIC. Damos as três refeições para os alunos das escolas públicas que estão vindos do interior. Porque, normalmente, os das escolas particulares, sempre ficam na casa de familiares ou de amigos aqui em Natal. Com isso, os alunos das redes estaduais e municipais podem vir mais tranquilos para Natal. Para você ter uma ideia, antes eles traziam comida, fogão, tudo para cá. O que acabava se tornando uma bagunça. Agora, ficou mais fácil, com essa ajuda que a Codesp está dando.

Na próxima década, o Brasil vai receber os dois maiores eventos esportivos do mundo, que são a Copa do Mundo, em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Essa é a hora de investir forte no esporte?
Com certeza absoluta. Tirando os estados mais desenvolvidos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, os outros, principalmente no Norte/Nordeste, dependem exclusivamente das escolas para revelar atletas. Aqui em Natal, por exemplo, só temos a AABB como clube e acabou. Então, temos que desenvolver um trabalho dentro das escolas. Nós, como coordenadores, estamos tentando melhorar as políticas públicas voltadas ao esporte. Desde que entramos aqui, estamos trabalhando na capacitação dos professores da rede estadual. Não que outros professores de outras redes não possa participar dessa capacitação. Realizamos seminários com professores de outros estados, então, estamos tentando melhorar. Repassamos para as escolas kits esportivos, com bolas de vôlei, basquete, futebol, tatames, redes e uniformes. Foram 207 escolas do ensino médio que receberam esses kits. E já estamos desenvolvendo um projeto parecido com as escolas de ensino fundamental.

E em relação aos locais de treino? A maioria das escolas do Estado não possuem quadras…
O Governo do Estado, desde o final do ano passado, está tentando agilizar a documentação das escolas para a construção das quadras. O problema é que a maioria não possui o registro de terreno, então fica difícil saber a área dessa escola para podermos construir os locais de treinamento.  É um trabalho difícil demorado, mas estamos tentando dar condições para os alunos treinarem.

Mesmo as Olimpíadas acontecendo no Rio de Janeiro, o investimento tem que acontecer no Brasil todo, para garimpar esses atletas. Acha que isso vai acontecer?
Em minha opinião, acho que existe esse dinheiro para ser investido. O Ministério da Educação vem elaborando projetos para ser desenvolvido nas escolas. Temos que desenvolver esses projetos aqui no Rio Grande do Norte para que os atletas de hoje, os meninos, possam representar bem o Brasil nas Olimpíadas de 2014.

Você acha que falta interesse ou recursos para melhorar o esporte no Brasil?
Não é que seja falta de interesse. O que posso ver, é que o esporte não é tratado como prioridade. Por exemplo: se você chega ao gestor de uma escola e diz: existe uma sala de aula com problemas e também a quadra da escola precisa de reforma. Com certeza o diretor vai consertar primeiro a sala de aula.  Às vezes, é isso que acontece. Não que eles não pensem no esporte. Os gestores sempre pensam no esporte, sabem da importância de praticar uma atividade física para uma criança, um adolescente.  Nós, que trabalhamos com o desporto escolar, temos a certeza que a relação entre professor de educação física e aluno é maior do que com qualquer outro professor, de outra disciplina. Mas, infelizmente, é mais fácil construir uma sala de informática do que um ginásio.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas