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Angicos virou exemplo mundial

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Até ser extinto, em 1964, o projeto “40 Horas de Angicos” ganhou repercussão nacional e internacional. No dia 2 de julho de 1963, o jornal New York Times apresentou o sucesso do projeto ao mundo. Depois disso, os holofotes da imprensa internacional foram voltados para a pequena Angicos que, à época, tinha pouco mais de 9 mil moradores, dos quais 75% moravam na zona rural. Nessa época, pelo levantamento da equipe de Paulo Freire, 75% da população era analfabeta. Para Angicos se deslocaram representantes de outros jornais, tais como: Time Magazine, Herald Tribune, Sunday Times, United e Associated Press e Le Monde.
Paulo Freire (esq.) explica o projeto em solenidade de entrega dos diplomas no dia 2 de abril de 1963
Com a repercussão mundial da eficácia do projeto, em outubro de 1963, um grupo da Embaixada norte-americana visita o governador Aluízio Alves, em Natal, para preparar a visita do presidente John Kennedy a Angicos, programada para dezembro daquele ano. Kennedy foi  assassinado, em Dallas, um mês após o reunião.

O projeto de Angicos foi possível a partir de convênio celebrado, em dezembro de 1962, entre o MEC, a Sudene , o Estado do RN  e a Usaid (United States Agency for International Development), dentro dos propósitos da Aliança para a Progresso, celebrada entre os Estados Unidos e países da América Latina com o objetivo de impedir a disseminação do comunismo no continente.

Projeto seria difundido em todo o país

Após a turma de Angicos, o projeto foi expandido para outras cidades do RN (Natal-Quintas, Mossoró, Caicó e Macau) e de outros Estados do país: Ubatuba (SP), Osasco (SP), Rio de Janeiro, Brasília, Aracaju (SE) e Porto Alegre (RS).

Em janeiro de 1964, um decreto federal instituiu o Programa Nacional de Alfabetização consagrando o “Sistema Paulo Freire para alfabetização em tempo rápido”. O programa previa a criação de 60.870 círculos de cultura, para alfabetizar, em 1964, 1.834.200 analfabetos. Nesse mesmo mês, o MEC designa o educador pernambucano para a Comissão Especial do Programa.
#SAIBAMAIS#
Mas a experiência exitosa de Angicos não conseguiu ser nacionalizada. No dia 14 de abril de 1964, apenas 13 dias após o Golpe de Estado, o Decreto nº 53.886, de 14 de abril de 1964, extingue o Programa Nacional. Dois meses depois, em 16 de junho, Paulo Freire foi preso, acusado de “subversivo e ignorante”. Marcos Guerra lembra que já no dia 2 de abril – um dia após o Golpe, a sede do projeto no RN foi totalmente desarticulada pelos militares.  Marcos Guerra também foi preso e exilado. “Mas eu faria tudo novamente. Fui preso algumas vezes, pois conseguia habeas corpus para sair da prisão… essa tentativa de sair da cadeia eu não repetiria mais hoje… a minha família sofreu muito com isso… se fosse hoje, eu teria saído para o exílio com maior rapidez. Mas, no mais, teria feito tudo novamente”.

“A educação ou é feita para libertar ou domesticar”

bate-papo / Marcos Guerra – advogado e ex-coordenador do programa de alfabetização de 1963
Marcos Guerra foi coordenador do projeto 40 Horas no RN
Por que as universidades não se apropriaram desse método?

Não entendo porque as universidade só estudaram as teorias – e Paulo Freire não separava teoria e prática – e não foram lá em Angicos ver os resultados. Jornalismo não foi, Sociologia não foi, Psicologia não foi, Educação não foi, História não foi, Ciências Políticas não. Por que não foram lá conhecer, resgatar, criticar, tornar conhecido?

Acha que o momento é favorável para a implantação do projeto?

Acho bastante coerente com a política da presidenta Dilma Rousseff. Eu conversei com amigos, que são amigos dela, e me pediram uma síntese do que seria um projeto para que o Governo Federal honre o legado de Paulo Freire. Que política de alfabetização  poderia propor. Eu já enviei essa minuta, através do presidente da CUT aqui no RN, José Rodrigues Sobrinho, que já entregou à presidenta e está discutindo sobre o assunto com o Governo Federal.

O projeto tinha mesmo um forte cunho político?

O cunho político do projeto é forte. Ou a educação é feita no sentido libertador ou domesticador.  E o cunho político é inerente à educação. A educação não é neutra.

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