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Anitta dá seu ‘xeque-mate’

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Pedro Antunes
AE

Com uma versão açucarada e polida de uma bossa nova pop, ela deu seu primeiro passo. Depois, no segundo, travou o outro flanco com uma canção de pista de refrão pegajoso. Apostou, então, num reggaeton bem caliente: “Xeque”, disse Anitta. Armou a isca, preparou a armadilha. Na  segunda-feira, 18, veio o xeque-mate. Com um funk, sua raiz sonora, injetado da viciante batida do trap, uma participação gringa e os já conhecidos versos em ascensão antes do refrão, Anitta deu sua volta ao mundo. Chamou a atenção dos mercados do exterior (o foco era o público norte-americano e latino) com gêneros mais palatáveis ao gosto do público estrangeiro, jogou o jogo do pop, e voltou ao Morro do Vidigal, favela da zona sul do Rio, onde foi gravado o clipe de Vai Malandra, o quarto e último passo do projeto Check Mate, uma iniciativa de lançar quatro videoclipes de músicas inéditas, um por mês.

Com Vai Malandra, Anitta teve 7,8 milhões de views em 10 horas

Com Vai Malandra, Anitta teve 7,8 milhões de views em 10 horas

Os números estão aí para comprovar o acerto. O videoclipe de Vai Malandra se tornou, em dez horas, o melhor lançamento brasileiro da história do YouTube, com 7,8 milhões de visualizações. Nem mesmo as acusações de assédio sexual contra o diretor do clipe Terry Richardson foram capazes de barrar a avalanche virtual da chegada do vídeo – Anitta, ao saber dos casos contra o também fotógrafo emitiu um comunicado no qual informava que seguiria com o lançamento de Vai Malandra em respeito à comunidade de moradores do Vidigal, que participam ativamente no projeto.

Na parada de músicas mais tocadas no serviço de streaming Spotify – hoje mais importante e significativo do que os números de vendas de discos -, Anitta conseguiu emplacar Vai Malandra entre as 50 mais executadas em menos de 24 horas de lançamento. A música, na 49ª posição, se junta a Downtown, a terceira faixa do projeto Check Mate (aquela do reggaeton caliente do início do texto), com participação do colombiano J Balvin, que figura na 26ª posição. Números colhidos às 17h30 de terça, 19.

O lance é mais do que marqueteiramente genial – embora seja importante reforçar que nada foi feito sem o auxílio de um incontável número de marcas, apoiadores, cifras e todos os integrantes da atual máquina do mercado fonográfico de massas. E tudo vem de um interesse pela internacionalização da imagem da cantora, de nome Larissa, de 24 anos, e vinda da zona norte do Rio.

É, obviamente, fruto de um olhar atento ao mercado internacional, cujo apreço pela música latina ganha força e coroou Despacito (hit de Luis Fonsi, relançado com participação de Justin Bieber). Com a libidinosa Paradinha e a empoderada Sua Cara (uma música em parceria com Pabllo Vittar e o supergrupo de produtores Major Lazer), Anitta percebeu que havia espaço para si lá fora. Investiu em aulas de inglês e fez um tour pelos veículos de imprensa norte-americanos.

No Check Mate, lançou a baladinha água com açúcar Will I See You, uma bossa nova repaginada, como se dissesse “sim, sou brasileira”. Na sequência, mostrou saber do que é feito o pop de pista, com Is That For Me, uma parceria com o DJ e rei das baladas Alesso. Por fim, já “apresentada”, se juntou a J Balvin, dono do hit Mi Gente, música sucessora de Despacito no gosto norte-americano, para Downtown, com título em inglês e letra cantada em espanhol.

Vai Malandra é, no entanto, um inteligente resgate. É a música mais funk que Anitta lança em anos – é bom lembrar que a guria estourou justamente por ser adepta da estética mais leve, com a polidez do pop estrangeiro e coreografias decoráveis. Na nova música, a Anitta deixou o polimento. Percebeu, com sagacidade, como é o oposto que fará dela única no mercado internacional. A abertura ao funk brasileiro é tão escancarada hoje que o hit Bum Bum Tam Tam, criado quase artesanalmente por MC Fioti, foi levado para o mercado norte-americano em um remix com o rapper Future e o “arroz de festa” J Balvin.

Hoje, isso é claro, mas duas semanas atrás, seria impossível pensar no funk dos bailes de periferia e dos morros numa lista de mais tocados de âmbito global. Com a produção do Tropkillaz (formado pelos DJs e produtores André Laudz e Zé Gonzales), Anitta levou o funk do Mc Zaac (o vozeirão grave e cheio da malemolência do malandro carioca moderno) para uma aproximação com o trap, ritmo derivado do rap de batidas mais vagarosas e graves, em alta entre os nomões do hip-hop dos EUA.

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