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Antigamente era assim… (2)

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Jemima Morais Veras
Psicóloga – [email protected]

A BOLA DE GUDE, exigia  um foco, concentração e é claro um pouco de sorte. Os poderosos “tecos“, atropelavam as bilocas comuns. E  o barulho que faziam ao se encontrarem, anunciava que o alvo foi atingido.

E pular de ELÁSTICO? seguindo as etapas estabelecidas, vencendo os desafios, ultrapassando os limites. Era o corpo em movimentos graciosos, tendo o elástico como um  obstáculo que, às vezes não poderia ser tocado e em outros momentos se entrelaçava ao corpo, numa coreografia harmônica.

O BAMBOLÊ que envolvia e girava, girava… num  movimento coordenado, contínuo e sensual.

Jogar QUEIMADA era fugir, defender e atacar. Quando atingidos, morria-se, mesmo assim continuava-se no jogo; isso diminuia a frustração.

E jogar AMARELINHA ? um espaço delimitado, riscado no chão, onde a regra era simples e clara. Esse espaço interno deveria ser pisado, explorado, mas suas linhas eram intocáveis. Era preciso ter equilíbrio dinâmico e estático. Era imprescindível ter limite, concentração e destreza. Alguns pareciam verdadeiros gatos; rápidos, suaves e precisos.

Brincar de CINCO MARIAS era fascinante, sendo preciso somente cinco pedrinhas. Que eram manipuladas com destreza – hora subiam, hora eram lançadas ao chão; seguindo uma coreografia bem definida, bem marcada.

Quando se brincava de ANEL, se experimentava o toque do outro através das mãos. Era um toque suave.

Quantas aquisições: concentração, coordenação óculo-manual, equilíbrio dinâmico e estático, organização espacial, organização espaço-temporal, capacidade de fazer escolhas e de respeitar os limites, destreza, rapidez, determinação, companheirismo, solidariedade, contato corporal, musicalidade, saber lidar com a frustração, organização, planejamento, estratégia, seguir as regras estabelecidas, controle da ansiedade… tudo isso regado com alegria, mistério, e muito, muito calor humano. Eram felizes e sabiam disso.

Nas brincadeiras, o mais importante eram os amigos, não o brinquedo e se não tivesse nada pra brincar, era possível conversar, cantar e contar as famosas piadas do joaozinho, de papagaio e ria-se muito. Ficar sozinho em casa… nem pensar, só quando ficavam doentes. Gostavam de ficar juntos e juntos decidiam fazer qualquer coisa, escolhiam a brincadeira, separavam as equipes, definiam os papéis e seguiam as regras. Tudo sem muito estresse. Parecia que os conflitos eram resolvidos com mais tranquilidade. Às vezes ficavam de mal, mas a maravilhosa sensação de fazer as pazes, sinalizava o quanto era bom estar juntos. Quando ficavam de bem,  havia uma frase não dita, mas que estava legendada no brilho dos olhos: que saudade senti de você, meu amigo. E a partir daí, tudo seguia seu curso natural.

Também não era comum a obesidade infantil. Tornava-se quase impossível ser obeso; correndo, pulando, subindo em muros e árvores, dançando, pedalando, patinando, jogando bola… isso tudo praticado diariamente.

Com tantas experiências motoras vividas, as dificuldades psicomotoras, eram menos comuns. Até as letras eram mais legíveis, com um traçado mais firme, mais seguro. Penso que as dinâmicas das brincadeiras promoviam uma maior segurança.

Não dava pra se sentir só e portanto, a ansiedade parecia ser diluída, a frustração mostrava-se mais branda, os medos eram encarados ou superados com maior facilidade. Naquela época  havia muitos abraços, muitos olhares, mãos dadas, cantigas, palavras, sentimentos compartilhados, troca, cumplicidade… tudo isso ainda ajudava a previnir ou minimizar as possíveis depressões, fobias, manias…

As regras presentes e esse brincar em equipe,  fomentavam o contato com limites claros, bem estabelecidos. É  interessante ressaltar que, naquela época as crianças pareciam conseguir fazer seus deveres de casa com mais independência, nem sempre os pais podiam acompanhar. Da quinta série em diante, muitas vezes os pais nem sabiam o que os filhos estavam estudando.

Pareciam ter mais disposição. As meninas até ajudavam nos afazeres domésticos. É verdade ! isso aconteceu, eu juro. E hoje… as crianças vivem de forma bem diferente,  as brincadeiras de rua praticamente não existem, as escolas passam mais atividades para casa, os interesses mudaram, agora existem os jogos de computador.

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