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Ao leve sopro da brisa

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José Narcelio Marques de Souza me manda uma crônica que escreveu sobre o livro que o seu colega engenheiro, Marcos Dourado, organizou a partir dos originais do livro que o seu pai, o poeta Augusto Dourado (1908-1988) tentou publicar, mas não conseguiu.  Marcos conseguiu editá-lo, agora, reverenciando a memória do pai, cuja poesia está incluída na antologia “Panorama da Poesia Norte-Rio-Grandense”, organizada por Rômulo C. Wanderley e publicada em 1964 com prefácio de Luís da Câmara Cascudo. 

Final de julho tive o prazer de ler “Ao leve sopro da brisa” que me chegou pelas mãos de Alex Nascimento, mensageiro de Marcos, ambos engenheiros da mesma geração, fazendo trio com José Narcelio.  Li e gostei muito, destaque para a entrevista que o velho Augusto Dourado deu para Marcos Aurélio de Sá, publicada no jornal “Dois Pontos”, em dezembro de 1987. Estava na minha agenda escrever sobre o livro, mas abro a vaga para a crônica de José Narcelio, que o leitor irá gostar. O título da crônica é o mesmo que está lá em cima, o mesmo do livro: “Ao leve sopro da brisa”. Leiamos:

“Recebi do meu amigo Marcos Dourado, engenheiro saído da UFRN e radicado no Rio de Janeiro, um exemplar dos rascunhos que o seu pai, Augusto Dourado (1908-1988), quis publicar em vida: ‘Espero levar brevemente às mãos de Woden Madruga, para ver se a Fundação José Augusto transforma em livro’.

Augusto Gome Dourado, natalense, autodidata e ávido leitor, conhecido representante comercial, poeta e trovador, conviveu com a intelectualidade boêmia de Natal por quase quatro décadas. Na juventude, ele foi um bom desportista no futebol, no remo e na pesca. Torcia pelo ABC Futebol Clube desde 1922.

Sua narrativa ao Jornal Dois Pontos, de Marcos Aurélio de Sá, em dezembro de 1987, é antológica: “… Tenho saudade da pacatez de Natal – do tempo em que se confiava nas pessoas…”

“Eu vi os seios da Lua / Na janela do horizonte”

“É bem tarde, ando na rua / Despreocupadamente / E olhando o céu, de repente / Eu vi os seios da Lua / Que ebúrnea, diáfana e nua / Debruçada sobre um monte / À espera que alguém lhe conte / Como é que está sendo vista / Na suja pose de artista /Na janela do horizonte”.

Na Revolução de 1935, Augusto Dourado foi preso sem qualquer prova que o incriminasse. Segundo seu depoimento, ele esclareceu: “Quem era cafeista naquele tempo ficou marcado, sob suspeita… Café Filho não tinha nada de comunista”. Essa detenção lhe custou mais de nove meses de encarceramento em Natal.

“A morte é qual promissória / Que não possui vencimento / E pra ela é maior glória / Cobrá-la a qualquer momento”.

A amizade de Dourado com Café Filho surgiu desde quando ele era líder sindical nas Rocas: “Fui amigo de Café e cheguei a tirar muitas vezes dinheiro do meu próprio salário para ajudá-lo a comprar papel para o jornal que ele imprimia… Para minha absolvição muito contribuiu um discurso que João Café fez na Câmara, mostrando que no Rio Grande do Norte estavam mantendo presas pessoas que nada tinham a ver com o comunismo”.

“Cai a flor do jasmineiro / Ao leve sopro da brisa”

“Sendo antigo jardineiro /Profissão de que meu ufano / Sei, pois, que uma vez ao ano / Cai a flor do jasmineiro / Sempre no mês de janeiro / O caule e a coroa frisa / O perfume vaporiza / Desmaia perde a beleza / E entrega-se à natureza / Ao leve sopro da brisa”.

Augusto Dourado casou com Maria Dourado, em 1935, e desse matrimônio nasceram Mário, Vilma, Vânia e Marcos. Sua esposa, a Dama Dourada, foi minha professora, e de muitos contemporâneos, na preparação do exame de admissão par o ginasial. Foi para ela que ele escreveu esta poesia:

“Tu passaste fugaz e majestosa / E eu vi que havia um que de santidade / No teu sublime olhar de castidade / No teu riso de fada venturosa / E como o colibri que suga a rosa /Minh’alma devora sem piedade / O mel do teu sorriso e alacridade / Daquele teu olhar, virgem formosa / Mas, no entanto, fugiste como um sonho / E fiquei só, perplexo, tristonho / A perguntar de mim para mim mesmo / Se porventura havia enlouquecido /Porque, sentia o peito bipartido / E o pensamento a procurar-te a esmo. ”

Na Academia
O ministro Luiz Alberto Gurgel de Faria, do STJ, toma posse hoje à noite (20 horas) na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Ocupará a cadeira 7, cujo patrono é o historiador Ferreira Nobre, sucedendo ao embaixador Nestor dos Santos Lima. Na mesma cadeira sentaram-se o magistrado e poeta Antônio Soares de Arújo sucedido pelo médico e  poeta Mariano Coelho.

O novo imortal será saudado pelo acadêmico e também ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas.

O Dia das Moscas O romance de Nei Leandro de Castro, “O dia das moscas”, é tese de mestrado em Linguística Aplicada, na UFRN, que será defendida por Alana Moraes. A dissertação tem como centro “a cosmovisão carnavalesca do livro, passando pelo humor e erotismo”.

A banca examinadora é composta pela escritora e   orientadora Cellina Muniz e mais os professores Derivaldo dos Santos e Conceição Flores. Será às 14 horas no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).

Livro
A partir das 16 horas de hoje, na Livraria da Cooperativa Cultural, da UFRN, haverá o lançamento do livro “Moacy Cirne, Moacys Cirnes : Cinema, Literatura e Quadrinhos”, organizado pelo historiador Marcos Silva, professor da USP.

Violência
O governo Robinson Faria bate mais um recorde: O Rio Grande do Norte é o Estado mais violento do Brasil. A revelação é do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, realizado ontem em São Paulo, que mereceu destaque de capa do jornal O Estado de S. Paulo, reportagem assinada por Marco Antônio Carvalho. Título: “Com 63.880 vítimas, o Brasil bate recorde de mortes violentas em 2017”.

E mais adiante, a matéria aponta  o destaque potiguar:

– O Rio Grande do Norte assumiu a liderança entre os Estados mais violentos do País, com uma taxa de 68 por 100 mil habitantes, seguido pelo Acre (63,9) e Ceará (59,1)

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