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Apagando o cigarro

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Tádzio França
Repórter

Quem fuma sabe que parar é difícil. Ao mesmo tempo, nunca houve tantos estímulos, campanhas e tratamentos contra o cigarro como nos últimos dez anos. O tabagismo já entrou na conta dos problemas de saúde pública, e o combate a ele está mais acessível a todos. O projeto nacional contra o tabagismo existe desde 1996, e cada Estado mantém seu programa local em acordo com a disponibilidade dos municípios.

O  programa “Deixando de Fumar sem Mistérios” atua no Rio Grande do Norte desde 2014, oferecendo tratamento gratuito pelo SUS a interessados em largar o cigarro, através de sessões terapêuticas e medicamentos. A chegada dos tratamentos anti-tabagistas às unidades básicas de saúde, como os postos de bairro, foi um passo importante para torná-lo mais próximo da comunidade.
Chegada dos tratamentos anti-tabagistas às unidades básicas de saúde é passo para torná-los mais próximo da comunidade
“O tabagismo é problema complexo, e por muito tempo isso atrapalhou a expansão de ações que o combatesse. Felizmente os novos programas de controle dinamizaram as ações e as tornaram mais acessíveis para todos os perfis de pessoas”, afirma Lizabeth Guimarães, coordenadora do Programa Estadual de Controle do Tabagismo do RN. Segundo ela, atualmente cerca de 65 municípios do Estado oferecem, pelo SUS, tratamento para quem deseja parar de fumar.

O programa “Deixando de Fumar sem Mistério” atua com tratamentos que devem ser requeridos junto a um posto de saúde, realizados em grupo ou individualmente. O tratamento coletivo  compreende reuniões com grupos de no máximo quinze pessoas, que debatem sobre procedimentos, problemas, limitações, e avanços no tabagismo. As reuniões contam com a presença de alguns profissionais de saúde relacionados à área tabagista como enfermeiros, dentistas, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos, entre outros.

Tratamento

As sessões duram em média três meses, sendo que no primeiro mês as reuniões são semanais, no segundo são quinzenais, e a partir do terceiro passam a ser mensais.  É o protocolo do projeto, mas podem durar mais conforme as necessidades do grupo.  Os profissionais treinados pela Sesap/Inca ajudam os fumantes a identificar situações que os levam a fumar e conviver com elas.

O atendimento gratuito do SUS inclui também os medicamentos específicos, como os adesivos e as gomas de mascar com nicotina. Para o paciente que apresenta alto grau de dependência, são usados antidepressivos. Em Natal, algumas unidades já tem programas e sessões de terapia: Conjunto Pirangi, Mirassol, Hospital Giselda Trigueiro, Nazaré e Parnamirim.

A medicação já está na unidade de saúde procurada. Lizabeth também ressalta a presença do agente de saúde que vai às casas das pessoas, identificam, e as conduzem às unidades de saúde. “Essa abordagem mínima é um intermediário importante para nós”, diz.

Aumento após os 40

Segundo Lizabeth Guimarães, as ações anti-tabagistas já provaram sua eficiência. No RN, de 2006 a 2015 foi reduzida a prevalência de fumantes maiores de 18 anos de 13,5% para 8,0%. Os dados também confirmam que por aqui os homens fumam mais.  O perfil é de jovens acima de 18 anos com baixa renda e pouca escolaridade. No entanto a coordenadora ressalta uma curiosidade: aumentou o número de mulheres fumantes acima dos 40 anos. “São pessoas que não fumaram na adolescência, mas por várias motivações da vida adulta começaram a fumar. Registramos os casos de muitas viúvas, que estão suprindo a falta do companheiro com cigarro. Isso nos preocupou”, afirma.

A maioria das pessoas começa a fumar na adolescência. Diminuir a ansiedade causada pelo estresse cotidiano é a motivação maior. Lizabeth Guimarães informa que o programa avalia e relaciona os níveis de dependência química, psicológica e o hábito diário para montar as estratégias de tratamento. A coordenadora também alerta para o fato de a indústria tabagista estar adicionando substâncias ainda mais fortes ao cigarro. “Essas substâncias não saem mais do nosso organismo nem após a morte”, afirma. As altas incidências de câncer de pulmão e efizema pulmonar são as consequencias mais conhecidas.

Fogo baixo

Cada cigarro aceso ou apagado  tem uma motivação. A jornalista Sheyla Azevedo está há sete meses sem fumar. “Eu já havia feito várias tentativas de parar, mas ficava suscetível e voltava. Substituía o cigarro por chocolate, cravo, chiclete, mas não deixava de querer fumar. Agora decidi não deixar de fazer nada que fazia antes com cigarro”, conta. Ela combate a vontade de fumar com exercícios físicos e muita água. “A vontade vem, mas você resiste uns cinco minutos e passa. E mais dois copos d’água para rebater”, diz.

A jornalista acredita nas terapias e medicamentos. “Eu estava chorando por qualquer coisa e me deprimia. A respiração estava ruim e a pele, seca. Fui a um pneumologista e ele indicou um remédio que tomei com meu marido, que também fuma. Foi bom para nós dois”, afirma. Sheyla chegou a usar os adesivos de nicotina, mas avisa que não funciona para quem ainda fuma regularmente. “A nicotina pode estimular. Melhor alguém que já esteja parando pra valer”, afirma.

O publicitário Felipe Tarquínio fuma desde os 16 anos e tentou parar três vezes. Ainda não conseguiu. “Já está claro que minha dependência é mais  psicológica do que física. Estou meio que na direção correta de tentar entender o porquê disso”, conta ele, que faz bastante análise para, entre outras coisas, ajudar a parar de fumar.

“Acredito que quando isso estiver mais claro será bem mais fácil parar. Inclusive desde que voltei a fumar pela última vez, o cigarro não é mais a mesma coisa pra mim”, afirma. Ele ressalta que a “repressão” aos fumantes nos lugares públicos não o incomoda. “Antigamente a gente fumava em qualquer lugar mesmo. Sei o quanto é incômodo a fumaça e por isso tento manter um mínimo de noção e respeito nos lugares fechados e públicos”.

Foi ao se sentir cansado e sem ar para subir uma escadaria na praia de Ponta Negra que o produtor cultural Marcelo Veni tomou a decisão crucial: parar de fumar. E parou, já faz quatro anos. Ele sempre lembra a data anualmente nas redes sociais para estimular quem deseja parar. Veni conta que não usou medicamentos, adesivos, ou consulta médica para parar, apenas a força de vontade. “Após os primeiros sete dias sem fumar, comprei chinelos em vez da carteira de cigarro. Isso foi muito simbólico pra mim, era minha nova jornada saudável”, lembra. Ele fumou por mais de dez anos, uma carteira por dia. “Fumava pela sensação de prazer, após o café, as refeições…me achava moderado”, diz. O produtor não se considera um ex-fumante chato. “A fumaça do cigarro não me incomoda, mas digo pra todos: é muito melhor a vida sem cigarro. E você ainda economiza dinheiro”, conclui.

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