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Apelo aos que creem

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Padre João Medeiros Filho

É hora das pessoas de fé priorizarem o debate sobre a vida dos brasileiros e o momento atual de nossa pátria. Numa sociedade marcada pela crescente desigualdade social, violência estrutural e injustiças – inviabilizando condições de vida com dignidade a milhões de brasileiros – o testemunho dos fiéis torna-se um imperativo ético e um dever profético.

Nestes últimos anos, assiste-se no Brasil ao recrudescimento de disputas reais e simbólicas, que revelam uma degradação estarrecedora do tecido social. Como se não bastasse tanta desventura, um clima de ódio e sectarismo se dissemina nesta amada terra de Santa Cruz. Foi o que tentamos descrever em artigo anterior, publicado neste jornal. Alguns bispos já se manifestaram sobre esses temas. No entanto, aumenta o número de grupos desejosos de viver apenas uma religião individualista. Pouco sensíveis ao drama de nosso povo, abandonam a luta por uma sociedade mais humana, justa, fraterna e inclusiva.

No quadro político, a deterioração dos poderes republicanos sinaliza a ausência de poucas perspectivas para uma saída tranquila, democrática e constitucional da crise que se instalou no país. Essa situação não pode ser considerada normal e reflete os caminhos tortuosos da vida política nacional. Uma parte da imprensa serve, às vezes, a oligopólios econômicos. E atuando em uníssono com partidos políticos, pode contribuir para a radicalização dos discursos de ódio. As redes sociais se transformam quase num patíbulo. O eventual desrespeito à ordem constitucional e a ameaça de turbulência social levam autoridades militares a se manifestar, chegando a transparecer preferências partidárias. Em algumas ocasiões, os tribunais superiores parecem se transformar num campo de batalha, exibido em rede nacional, para constrangimento dos telespectadores. O panorama eleitoral é dos mais complexos e sombrios. De acordo com projeções, é alta a tendência, nas eleições deste ano, de manutenção da maioria dos atuais ocupantes do Congresso Nacional. Por vezes, seus feitos maculam a Carta Magna de 1988.

Sob outra perspectiva, há uma clara estratégia de empoderamento político de igrejas e partidos para ampliar suas bancadas nos parlamentos, a partir de 2019. Nesse cenário, a tendência de um acirramento das disputas parece evidente. E isso tudo, como se já não bastasse a triste estatística de homicídios no país (cerca de sessenta mil por ano). O Rio Grande do Norte está se tornando um dos estados brasileiros mais violentos, negando sua tradição de terra pacífica e hospitaleira.

Por essa razão, as igrejas, tendo em vista sua história de luta pelas liberdades democráticas e pela justiça social, são convidadas a se posicionar, de forma mais objetiva e positiva. E isentas de partidarismo, são convocadas a refletir sobre a situação atual da nação, indicando à sociedade caminhos de superação da crise. Esperam-se propostas e sugestões viáveis. É preciso mostrar ao país que são “sal da terra e luz do mundo”, como pregou Cristo no Sermão da Montanha (Mt 5, 13). O futuro de nossa nação corre perigo, no momento. Muitos podem argumentar que a pior atitude das igrejas, querendo agradar gregos e troianos, seria a omissão ou procurar lavar as mãos. É necessário ter em mente a frase bíblica: “O Senhor disse: Vi a opressão de meu povo, ouvi o seu grito de aflição e me compadeci de sua dor” (Ex 3, 7). É fato que uma atitude profética sempre implicará em risco de desagradar muita gente.

O medo e a paralisia que se abateram sobre muitas lideranças trarão consequências perversas à vida de nosso povo. Tal realidade deverá ser enfrentada pelos cristãos e fiéis de todas as religiões. Nesta hora complexa da vida nacional, urge que as pessoas de fé se unam para aliviar o sofrimento de seus irmãos. Qualquer que seja o credo, deve-se levar em consideração as palavras do Papa Francisco, em sua última exortação apostólica: “Não podemos propor-nos um ideal de santidade [verdadeiro humanismo] que ignore a injustiça deste mundo, onde alguns festejam, gastam folgadamente e reduzem a sua vida às novidades do consumo, ao mesmo tempo em que outros se limitam a olhar de fora, enquanto a sua vida passa e termina miseravelmente” (Gaudete et Exsultate, nº 101).

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