Recife – Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife, deverá ser alvo de uma queixa-crime por difamação, injúria e calúnia contra a dona de casa Ivânia Olímpio de Almeida Queiroga. Em audiência de conciliação, na noite de anteontem, ele se negou a se retratar de uma suposta acusação de adultério, o que evitaria processos judiciais. “Não aceito fazer nenhuma retratação porque quem se retrata reconhece que errou”, justificou Dom José. “Eu não cometi nenhum erro, não caluniei ninguém, não difamei ninguém, não injuriei ninguém”. Diante da negativa do arcebispo, a promotora de justiça Sineide Barros propôs um outro acordo para evitar que ele viesse a ser processado, o de cumprir uma pena alternativa. “Ele não teve interesse e vai esperar que justiça decida”, informou ela, no término da audiência, no Fórum Universitário do Recife.
“O que buscamos é o restabelecimento da honra desta mulher que é casada, mãe e avó, por isso encerraríamos o caso com uma retratação do arcebispo”, afirmou o advogado de Ivânia, Hebron Cruz de Oliveira, ao afirmar que ela foi acusada, pelo arcebispo, de adúltera, de manter um relacionamento conjugal com o padre João Carlos Santana, que desde 1994 atua na paróquia de Água Fria, zona norte do Recife. O padre e Ivânia são primos e foram criados como irmãos desde a infância, na Paraíba, segundo o advogado. Ivânia prestou queixa na Delegacia dos Crimes contra a Mulher em dezembro do ano passado. Anteontem foi a primeira audiência relativa ao caso. Até cinco de maio, seus advogados deverão entrar com ações nas esferas criminal – queixa-crime – e cível – ação pelo restabelecimento da honra e, possivelmente, de indenização por danos morais.
O suposto caso amoroso mantido pelo padre e Ivânia foi o argumento de Dom José para afastar o religioso da paróquia, através de decreto, no dia 16 novembro do ano passado. No decreto ele alega também ter recebido João Carlos Santana na sua arquidiocese, em 1994, “num gesto de benevolência”, a pedido do bispo de Cajazeiras (PB), onde o padre atuava e respondia, na época, “a processo criminal, sob acusação de homicídio, sendo também suspeito de viver em adultério” com a mesma Ivânia. O arcebispo lembra, no decreto, que posteriormente Ivânia Queiroga se transferiu para o Recife, passando a freqüentar a mesma paróquia de Água Fria e, “conforme o testemunho de vários paroquianos” o sacerdote freqüentava o seu apartamento, onde era conhecido como “marido” dela.
O Padre João Carlos Santana não aceitou a decisão e se mantém na paróquia porque entrou com recurso na Santa Sé, em Roma. Ele nega qualquer tipo de relacionamento amoroso com Ivânia e destaca que o processo em que foi acusado de mandante de um crime, em Pombal (PB), foi arquivado por absoluta falta de provas. A acusação, segundo ele, teve conotação política. Na época Ivânia era secretária municipal da cidade e o seu marido era prefeito. “Não sei por que hoje o arcebispo me acusa disso”, declarou hoje, por telefone, ao afirmar que dom José não lhe deu direito de defesa. A comunidade de Água Fria se revoltou com a atitude do arcebispo e já realizou passeatas e atos de protesto. Para Emanoel Bernardino Chá, um dos paroquianos que lutam pela permanência do padre, “que tem promovido interação com a comunidade e iniciativas sociais na paróquia”, o arcebispo “é um desagregador”.