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Ariano: quando preciso minto

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Ariano Suassuna estará terça-feira em Natal. Ele é um dos palestrantes da Convenção Nacional do Comércio Lojista, que começa hoje e se estenderá até quarta, no Centro de Convenções de Ponta Negra. O senador Cristovam Buarque, uma das boas figuras do Senado, e o jornalista Alexandre Garcia, da Rede Globo, também farão palestras juntando-se a empresários, publicitários e gente do marquetingue. Cristovam Buarque falará manhã, coisa de duas da tarde; Alexandre Garcia, no encerramento. Já a palestra de Ariano será na terça-feira, começo da noite, assim pelas 18 horas. O grande escritor certamente apresentará uma de suas aulas espetáculos, sucesso total do seu repertório, tanto quando o Auto da Compadecida, como aconteceu semana passada na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Ariano foi homenageado pelos seus 80 anos. A imprensa deu destaque:

– A homenagem ao escritor Ariano Suassuna, no fim da tarde de sexta-feira, na XIII Bienal do Livro do Rio, deixou um leve gostinho de quero-mais. Aplaudido de pé assim que entrou no Auditório Machado de Assis, o paraibano foi surpreendido por dois de seus mais célebres personagens, Chico e João Grilo, interpretados por alunos do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, que levaram ao palco uma versão curta do “Auto da Compadecida”

Depois da encenação dos estudantes, Ariano falou para o auditório lotado e contou, entre outras coisas, como transcorre o processo de sua criação literária e citou a presença de Dom Sebastião, rei de Portugal, em sua obra, chegando a corrigir datas e personagens da peça: “não sou historiador, quando preciso minto”:

– O sonho é muito importante – disse, Ariano. Sem ele a gente não sai do canto. Todo ser humano precisa de um pouco de loucura, ou cai na rotina. Fernando Pessoa já dizia: “Sem a loucura, o que é o homem? Uma besta sadia”. Dom Sebastião está muito presente na minha vida e na minha obra. Simpatizo muito com ele, um cavalheiro medieval extraviado na Renascença, que meteu na cabeça fazer uma cruzada. Pelos seus sonhos e delírios ele teve a coragem de ir à frente. Mas não tinha nada que bulir com os negros muçulmanos, que estavam quietos na África. Aí mataram o pobre.

Adiante, Ariano acrescentou que deu um adjutório ao personagem em sua história:

– Sou romancista, não sou historiador, quando preciso minto. Não queria que ele fosse contra os mouros, então mudei um pouco a história.

Contemplando a carnaúba

Uma manhã dessas passei pela Livraria da Cooperativa Universitária para dois dedos de prosa com Luiz Damasceno, catar algumas coisas nas estantes e ver gente. Por ali passa uma multidão e no meio dela você descobre, além dos bons companheiros de cada dia, alguns amigos que há séculos não via. Naquela manhã, por exemplo, dei de cara com a Isa Freire. Tempão que não falava com a Isa. Acho que coisa de umas cinco copas do mundo! Naquelas eras a turma se encontrava numa peixada de Areia Preta que não existe mais. Isa é uma festa. Naquela manhã do campus ela estava com Tereza Aranha que, por sua vez, é uma força da natureza. As duas trabalham num projeto que tem o nome acadêmico de “Acesso à informação sobre a carnaúba no Rio Grande do Norte”, integrado no Núcleo Temático da Seca e do Semi Árido da UFRN.

Isa há anos vive no eixo Rio-Brasília em função de seu trabalho no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICIT), do Ministério de Ciência e Tecnologia, depois de não sei quantos cursos que fez na área da ciência da Informação por essas universidades afora. Me disse que está se preparando para voltar de vez para a terrinha. Aí eu falei: volte e bote um barzinho para a gente se encontrar com os amigos e amigas. Ela e Tereza me deram dicas do projeto que tem a parceria com o IBICIT, o apoio do Banco do Nordeste e da Funpec. Tereza Aranha vai juntando papéis retirados de todos os baús do mundo. Tudo que tenha a ver com a carnaúba. Tudo isso, depois, irá para um catálogo eletrônico. As informações o leitor encontrará futuramente na internet. Para a organização do acervo pesquisado e anotado trabalha a bibliotecária Gildete Moura. Só tem gente boa no projeto.

No meio da conversa, Tereza Aranha revela possuir uma raridade em sua biblioteca particular. Uma verdadeira jóia que recebeu de presente do grande e inesquecível Oswaldo Lamartine. É o livro “A lenda da carnaubeira”, editada pelo MEC em 1936. A apresentação da obra é simplesmente do poeta Manuel Bandeira. O livro conta a história indígena da carnaúba e, segundo Tereza, tem ilustrações maravilhosas.

Quando me despedi de Tereza Aranha e de Isa Freire, o dia já ia pegando o rumo da tarde. Passei pela feirinha de artesanato e comprei oito cocadas: quatro de maracujá e quatro de rapadura. Junteia-as no bisaco com um romance de Adriana Lisboa (Os fios da memória), um livro de narrativas de Alberto Mussa (Elegbara) e um livro de contos de Marçal Aquino (O amor e outros objetos pontiagudos). Ótimos. Sim, um livro infantil para Francisco, um neto que é vidrado em  dinossauros.

Poesia 

Virgílio Maia presenteia alguns amigos natalenses com quatro poemas-cartazes: “Derradeiras veredas riobaldas”, “Soneto de manhã nas Alterosas”, “Soneto das vertentes das Gerais” e “Se não há mais jaguar, se salve o Rio”. Todos subordinados ao título tema “Três momentos de Minas e um Jaguar”. Gostei muito da sacada gráfica do cartaz (30 por 40). Não bastasse ser um grande poeta, Virgílio também esbanja talento na xilografia e sabe manejar as técnicas gráficas, conhecedor de seus segredos. Some-se a tudo isso o primoroso calígrafo que é. Dá gosto receber um envelope escrito com a letra bonita do poeta, caligrafia arretada. Toda feita de arte. E o cidadão, gente, ainda por cima é advogado de banca famosa em Fortaleza.

Desses poemas-cartazes de Virgílio, destaco este “Soneto das vertentes das Gerais”:

“São óleo sobre tela as cores mil / que habitam cada canto da Canastra; / ara a palindromia das araras / inaugurado alqueire de algum rio. // Àquela altura se despedem as águas, / frondosas chuvas sobre chão mineiro; / se apruma rumo à sede o Chico Velho / e vai o Araguari crescer o Prata. // O azul tonteia fundo na aquarela, / posta postal nos panos da paineira / desde o encanto europeu de Saint-Hilaire. // Aos olhos para ver a serra brinda / vertente após vertente a quem quiser, / que os belos horizontes miram Minas.”

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