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Ariano Suassuna e Nossa Senhora

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Padre João Medeiros Filho

Desde a infância, Ariano e Oswaldo Lamartine foram grandes amigos. O pai do dramaturgo paraibano começou sua vida profissional, como advogado, em Mossoró. Por conta de perseguição política no estado de origem, a família de Dr. João Suassuna passou a viver no Rio Grande do Norte, acolhida por Juvenal Lamartine, genitor de Oswaldo. Este e Ariano eram grandes devotos de Nossa Senhora. Para o nosso conterrâneo a Virgem Santíssima é “O mais belo sorriso de Deus”. Tal definição situa-se teologicamente ao lado dos grandes conceitos mariológicos, que declaram ser a Virgem Santíssima: “O rosto materno de Deus”, “Ternura divina na terra dos homens”, ou mesmo “Onipotência suplicante”, na expressão de Bernardo de Claraval, retomada por Pio XII na encíclica Ad Coeli Reginam. Acrescenta o Gênio de Taperoá: “Maria é referência para os anseios de igualdade e justiça”. É a Mãe de Deus. Dela nasceu o Verbo segundo a carne. “E ninguém consegue dizer algo de mais sublime e grandioso sobre Ela”, escreveu Lutero.

O povo brasileiro é majoritariamente pobre, mas profundamente devotado a Nossa Senhora. A genialidade de Ariano Suassuna traduz essa realidade. Quem não se lembra das invocações de João Grilo, no Auto da Compadecida? “Valha-me, Nossa Senhora”!  Por outro lado, o Encourado lamenta: “Lá vem a Compadecida”. É bem presente e real Aquela que se apieda de todas as misérias humanas, com seu olhar feminino sobre os humildes, desesperados e ameaçados pelo “Chifrudo”. Bíblica e teologicamente, a Virgem Santíssima é outro nome da Misericórdia, bem-aventurança evangélica. Comiserar-se pelo sofrimento do outro é um toque divino. Assim age Nossa Senhora. João Grilo recorre a Maria, pois Ela está “mais perto de nós, por ser gente boa! Gente como eu, pobre”… Na peça teatral, Manuel (Cristo) reage: “E eu não sou gente, João”? Este retruca: “O Senhor é gente e ao mesmo tempo Deus; é uma misturada muito grande”.

Ariano mostra-nos que Cristo encarnado, posteriormente coroado de espinhos, consolado por sua Mãe, conhece a realidade dos sofridos e suas lutas frente às forças do Mal. “João foi um pobre como nós. Teve de suportar as maiores dificuldades, numa terra seca e castigada como a nossa”, argumenta a Compadecida, em defesa de João Grilo. “São tão numerosos os carentes e pobres. Para eles, principalmente, Cristo foi enviado à terra”, afirmara Inácio de Loyola.

Como “Mulher da Encarnação”, Maria afasta a ideia de uma religião distante, alienada e individualista. A Mãe de Deus não é uma expectadora passiva. No Magnificat (Lc 1,46-55), exalta a justiça divina para os humilhados, os famintos, os esquecidos e tristes. Seu cântico mostra que o nascimento de Jesus é a Boa Nova para os deserdados e ameaça para os poderosos. Ela se coloca do lado daqueles cuja dignidade foi subtraída. Seu canto expressa a vontade do Pai. De exaltação e esperança, o Magnificat é o espelho da alma de quem não aceita a realidade de forma alienada. Por isso, a devoção mariana deverá ser uma atitude de comiseração e solidariedade, suplicando intercessão por milhões de Joãos Grilos ameaçados pelos encourados do mundo, a serviço das forças da morte e da injustiça. Milhares de brasileiros estão condenados a viver, contando apenas com a misericórdia divina, representada por Nossa Senhora. São clamores que exigem resposta de outras Marias corajosas e solidárias. A Virgem é referência para os anseios de igualdade e paz. Desperta o coração de quem não acordou. Mostra que a justiça é condição indispensável para construir um mundo mais justo. Eis a mensagem do imortal paraibano, inspirada no Cântico do Magnificat.

Para Jesus, sua mãe, seus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática (Lc 8, 21). Por isso, Maria “concebeu antes na mente e depois no ventre. Foi tão feliz por ter sido discípula da Palavra de Deus quanto por ser mãe biológica do Senhor”, afirmou Santo Agostinho. Fica-nos a lição de Ariano: é preciso lutar sem temer contra as forças da morte e a ira dos covardes. E que em 2018, sejamos mais fraternos e marianos!

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