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Arte embutida na madeira

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EXPOSIÇÃO - Artista mostra seu trabalho de esculpir madeira

Ulisses Leopoldo é nome de marcheteiro. Mas não precisa fazer essa cara feia. Ele também achou estranhíssimo quando soube, ainda na década de 70. Para falar a verdade, esse potiguar natural de São Paulo do Potengi, hoje com 59 anos de idade, não sabia sequer que a arte que aprendera a desenvolver sozinho na superfície plana das madeiras tinha nome. Quando descobriu, lembra, fez cara de quem não gostou. “Achei horrível! Marcheteiro é de lascar. Marchetaria até que vai, mas marcheteiro é triste. Quando viam que eu trabalhava com isso as pessoas me perguntavam se não era uma arte feita com papel marchê. E eu explicava que não tinha nada a ver, que o trabalho era feito na madeira”, conta.

Apesar da repulsa inicial com o nome, Leopoldo levou a profissão adiante e afirma, agora sem crise e com orgulho, que é o único marcheteiro potiguar que comercializa suas peças. Um pouco dessa arte ainda pouco divulgada por aqui estará à disposição do público entre os dias 17 e 29 de novembro no Palácio da Cultura. A exposição “Signos, Símbolos e Mandalas” traz 41 peças esotéricas do artista. A abertura, na próxima sexta-feira (17), ocorre às 19h30.

Quem pensa que o tema esotérico é fruto apenas da inspiração do artista nem imagina a pesquisa feita por ele até chegar ao resultado. Nas telas de madeira, os detalhes em algumas peças chamam a atenção. “A idéia foi de caso pensado, teve uma pesquisa por trás em livros, revistas, consultei pessoas estudiosas no assunto. Acho que na arte da marcheteria, a inspiração e a transpiração são bem balanceadas. Sou muito metódico, gosto dos pormenores. Se faço um trabalho voltado para o candomblé tenho obrigação de não fazer a coisa errada, ter certeza daquilo. Essa minha exposição é meio universal porque o que não é signo e mandala é símbolo”, explica.

Formado em odontologia pela UFRN, em 1975, Ulisses Leopoldo mistura, literalmente, as duas profissões que abraçou. No processo de criação das peças, o artista trabalha com bisturi e outros materiais que já não servem mais no consultório. “Uso os materiais cortantes. Desde que voltei do Rio de Janeiro para Natal, em 1992, nunca mais deixei a marcheteria. Antes chegava a ficar três anos sem produzir nada, mas incorporei que meu trabalho é voltado para o lado comercial também. Acho que sou o único marcheteiro no Estado que trabalha dessa forma embora tenha uns poucos fazendo apenas pela arte mesmo”, disse.

Em média, Ulisses Leopoldo usa entre cem e duas mil peças. O tempo dedicado ao trabalho, com a experiência de mais de três décadas dedicadas à arte, caiu de longos dias para uma semana. “As mais complicadas faço em uma semana. É interessante ressaltar que a marchetaria pode ser usada em qualquer material, e não apenas na madeira. Mas é importante que seja aplicada em superfícies planas que resulte numa também em figuras planas”, explica.

Paralelo ao trabalho manual, o artista-dentista dedica parte do tempo passando o conhecimento adquirido sem qualquer influência de escolas artísticas para um único aluno. O motivo? É que todos os outros alunos que chegaram a ele não agüentaram o rojão. “O pessoal não tinha paciência e para quem não quer aprender eu também não tenho vontade de ensinar. Mas o Thiago Galvão (filho do músico Galvão Filho) é uma das grandes promessas da marchetaria potiguar. Daqui a poucos anos ele vai ficar melhor que eu. É engraçado porque aprendi as técnicas sozinho e quando compro revistas especializadas na arte vejo tudo o que estou ensinando ao garoto. Acho Thiago muito rápido e muito bom”, disse.

Serviço:
Abertura da exposição de marchetaria “Signos, Símbolos e Mandalas”, dia 17 de novembro, a partir das 19h30, no Palácio da Cultura. 

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