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Arte Potiguar dialoga em SP

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Ramon Ribeiro
Repórter

Nome representativo do Poema Processo e da Arte Postal brasileira, Falves Silva caminha à margem do verbo. Com cinquenta anos de trajetória artística, ele segue dedicado à investigar a linguagem em suas obras gráficas, derrubando os alicerces da palavra para fazer florescer suas poéticas visuais. Pela primeira vez, a produção recente do artista poderá ser vista para além das barreiras do Rio Grande do Norte, em duas exposições que acontecem neste segundo semestre em São Paulo.
Produção recente de Falves Silva, série “Sinais” ganha exposição em galerias de São Paulo
Principal mercado de arte do país, a capital paulista recebe a exposição “Sinais”, primeira individual de Falves na cidade, montada na Galeria Superfície. A abertura é nesta quinta-feira (25), com visitação até 30 de setembro. Depois, em novembro, será a vez do importante Centro Cultural São Paulo receber trabalhos inéditos do artista em uma exposição coletiva que também contará com a participação do potiguar Jota Medeiros.

Em “Sinais”, Falves apresenta uma série de peças realizadas entre 2006 e 2007, inspirados em um texto de Décio Pignatari (1927-2012), em que o autor se referia a sinais de uma nova linguagem. O artista se apropria dessa ideia para criar colagens coloridas em papel cartão, um forte trabalho de racionalidade matemática e geométrica.

“Os trabalhos são desdobramentos do Poema Processo. E evidenciam sinais de uma nova linguagem semiótica”, afirma o artista por telefone ao Viver. Nascido na Paraíba, Falves vive em Natal desde a infância. Foi na capital potiguar que ele estreou com sua primeira exposição individual, há exatos 50 anos. “É gratificante ver o interesse de um dos grandes centros de arte do mundo no meu trabalho. A gente sabe que o nordeste não tem a divulgação que existe no sudeste. Então essa exposição é muito significativa”.
Obra de Marcelo Gandhi faz contraponto com naif de João Natal
Responsável pelo texto crítico da exposição, ao lado da pernambucana Fabricia Jordão, a potiguar Sanzia Pinheiro comenta que há um interesse no cenário da arte internacional de buscar artistas e movimentos escanteados em décadas passadas. “As narrativas da história sempre privilegiam os centros e quem esta na periferia é esquecido. No entanto existe hoje um esforço de reafirmação dessa produção que não foi reconhecida”.

Neste ano, o movimento Poema Processo tem sido tema de diversos estudos e exposições. Para Falves, esse interesse não se trata de resgate, mas de continuidade. “O poema processo nunca parou. O que está acontecendo é um reconhecimento”. O artista vê o movimento como algo ainda atual, com relações diretas com este século. “O poema processo trata do não uso da palavra. Coloca a imagem no centro da linguagem. É o visual falando mais que a palavra”. Exemplos não faltam para ilustrar essa tendência, como o sucesso dos memes e o avanço das narrativas em quadrinhos.

Jota Medeiros
Mantendo seu estilo particular, Falves também tem se debruçado sobre novos temas, como uma série inédita de trabalhos onde conta a história da humanidade através do desenvolvimento da linguagem humana. Vai ser uma espécie de poema épico, focado na imagem. Os trabalhos vão ser vistos pela primeira vez em uma exposição coletiva no Centro Cultural São Paulo, marcada para novembro. A curadoria dessa exposição será assinada novamente pela dupla Sanzia Pinheiro e Fabricia Jordão. Além de Falves, participam da coletiva o potiguar Jota Medeiros e o grupo Nervo Óptico – referência gaúcha de experimentações artísticas.

Fora o Poema Processo, Jota Medeiros esteve envolvido, assim como Falves, com importantes movimentos artísticos da década de 1970, como a arte postal e a arte conceitual. Sem poder dar muitos detalhes da exposição, Sanzia, comenta que hoje existe uma reafirmação na arte de tudo que a modernidade deixou para trás, principalmente a produção artística fora dos grandes centros. “Na arte contemporânea a gente vê muito esse conceito de redes de colaboração, produção de obras colaborativas, uso da internet. Isso já existia na arte correio e Falves e Jota Medeiros participaram ativamente disso”.

Diálogo naif
A 13ª edição da Bienal Naifs do Brasil foi aberta na última semana em Piracicaba, em São Paulo, com uma proposta ousada: mesclar contemporâneos e naifs para provocar deslocamentos de olhares. Meio a essa provocação, um encontro de gerações e linguagens colocou lado a lado dois potiguares, João Natal e Marcelo Gandhi, artista natalense radicado na capital paulista.

João Natal foi selecionado pela curadoria por sua série de esculturas em madeira mulugu, bastante usada para fazer mamulengos. Com um trabalho que transita por várias linguagens contemporâneas, Gandhi foi convidado pela curadoria para fazer esse contraste com o naif. “Essa Bienal de Naif tirou o naif do lugar comum e jogou numa plataforma de questionamentos sobre legitimação de categorias no sistema de arte. Unindo contemporâneos e naifs na mesma exposição, estreitou fronteiras e desfez conceitos formatados por um elite cultural colonialista”, avalia Gandhi.

Em setembro os dois estarão em Natal para participar de um bate papo aberto ao público sobre esse encontro de gerações na Bienal Naifs do Brasil. A data ainda vai ser definida.

Vândalo e herói
Há oito anos vivendo em São Paulo, Marcelo Gandhi está com uma exposição individual em cartaz na capital paulista, na Galeria Tato. Com uma clara referência a Hélio Oiticica no título “Seja vândalo, seja herói – Fim da História da Arte”, a exposição relaciona uma reflexão crítica e provocativa ao sistema de arte (galerias, colecionadores, curadores, instituições).

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