sábado, 20 de abril, 2024
25.1 C
Natal
sábado, 20 de abril, 2024

Arte Viajante – design popular brasileiro

- Publicidade -

Natália Pesciotta

“Sem o detalhe, parece que a carroceria não tem vida”, observa Álvaro de Lima, filetador paulista. A arte popular que enfeita caminhões e outros veículos de carga Brasil afora se chama filetagem  por ser feita a partir de traços precisos e bem finos, os filetes.

Poucas coisas são encontradas de forma tão parecida em pontos distantes do País como a minuciosa arte das carrocerias. “As pesquisas que fiz em várias regiões não mostraram diferenças marcantes”, afirma Marcius Tristão, artista plástico e autor de estudo sobre o tema. O fotógrafo Rogério Cavalcanti, que faz uma exposição com registros da ornamentação, chegou a conclusão semelhante: “o Brasil gira em torno das rodovias. Esse desenho é muito característico, muito parecido em todas partes do País. O caminhão de Pernambuco é parecido com o caminhão de São Paulo”.

Feitos de metal, os modelos mais novos de carroceria não servem mais como suporte à decoração típica. Mas, por enquanto, a filetagem ainda desfila nas ruas e  estradas, tanto a traçada à mão, com carretilha, quanto a pintada na madeira a partir de moldes. Ela viaja de Norte a Sul, desde que as rodovias se disseminaram como um emaranhado de riscos pelo mapa brasileiro nos anos 1950. Bem antes disso, na sua pré-história, um tipo de técnica parecida trazida pelos europeus, era aplicado em carroças e barcos.

Apenas no Brasil as carrocerias de caminhão viraram plataforma para a arte. Wolfgang von Wersin, arquiteto alemão, explicava: “pelo desejo de coroar e engrinaldar, o homem sempre se serviu do ornamento. Adornam-se os objetos para amá-los”.

Uma digital

Geralmente em três cores e com padrões simétricos, seja criados ou copiados pelo artista, os filetes  não são encontrados em outros lugares além das carrocerias. Tampouco a filetagem pode ser aprendida em cursos. Um artesão ensina ao outro, nas fábricas ou oficinas. Muitos usam moldes de formatos e acrescentam pinceladas, outros trabalham apenas com traço livre.

Apesar de o conjunto de traços e cores geralmente ser padronizado, há espaço para variações. Às vezes a decoração é complementada com o  dedo e o artista acaba imprimindo a própria digital no trabalho. Esse “toque primitivo”, observa Marcius Tristão, “faz com que não haja uma carroceria pintada exatamente igual à outra. Quando termino uma pintura, é meu DNA que está ali”. Orgulha-se o filetador Álvaro de Lima.   

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas